Uma betoneira, um aspirador, um super paio…e um magalhães

Esta é uma história que mete uma betoneira, um aspirador, um paio com mais de um metro de comprimento, um […]

A carrinha, com a betoneira e o computador em cima

Esta é uma história que mete uma betoneira, um aspirador, um paio com mais de um metro de comprimento, um computador Magalhães…e a boa disposição e o saber receber dos alentejanos.

É uma história, mas verdadeira, daquelas sobre as quais se costuma dizer: «só visto, contado ninguém acredita!»

No fim de semana passado, participei em mais uma visita cultural do Grupo dos Amigos do Museu de Portimão, desta vez a Vila Viçosa e ao seu Palácio Ducal, que visitámos tendo como guia a sua diretora, Maria Monge.

Após o jantar, pouco passava das dez da noite, e porque tínhamos visto uns foguetes, uma parte do grupo resolveu ir dar uma volta a pé pela vila, para espreitar a festa que, pela música que se ouvia, era ali perto. Tinham-nos dito que nessa festa seria rifado um trator…

Chegámos a um largo, perto do Paço Ducal, quase às escuras, onde nos deparámos com o seguinte quadro: de um lado, junto a uma bela e antiga fonte em mármore, estava estacionado um jipe Portaro, quase tão antigo como a fonte, e iluminado por umas luzes psicadélicas, a piscar, que alternavam entre azul e vermelho. As luzes, esclareça-se, estavam colocadas por baixo do jipe. E piscavam…e piscavam…

Do outro lado do largo, a peça mais importante: uma carrinha de caixa aberta, com o taipal de um dos lados aberto, e, lá em cima, uma betoneira, iluminada com mais luzes psicadélicas. Em cima da cabine da carrinha, um pequeno computador, também com luzes a picar e ligado às potentes colunas, de onde saía uma música de discoteca em volume bem elevado. Era como se houvesse ali um DJ…fantasma.

Porque o mais curioso é que, apesar das luzes a piscar freneticamente e da música alta, não se via vivalma no largo…

Quanto ao objetivo da betoneira, logo houve quem dissesse que, afinal, em vez do trator, deveria ser a betoneira o objeto das rifas…mal nós sabíamos…

Estávamos nós nestas conjeturas, quando, de uma rua que desemboca no largo surgiu um homem que se dirigiu a nós e nos cumprimentou de forma muito alegre: «Então vinham para a festa?», perguntou-nos. «Sim…mas parece que já acabou, não é?», respondemos. «Sim, mas eu posso explicar-lhes que festa é esta», disse o homem.

E lá nos explicou que se tratava de uma festa promovida pela Associação Alegres Olival, da Rua da Pascoela, ali mesmo ao lado do largo, para angariar fundos. Além das rifas, acrescentou, promovem também «garraiadas no olival» e, sobretudo, participam no concurso da Rua Florida, organizado todos os anos pela Câmara de Vila Viçosa e onde já ganharam dois prémios. «Temos 118 vasos de flores aqui na rua, além das flores de papel que fazemos para decorar tudo». Este ano, explicou-nos, a festa será a 7 de Julho. E logo ficámos todos convidados para lá voltar!

Mas e o que são estas luzes, o jipe, a betoneira?

O jipe, «um Portaro de 1980, com inspeção feita até ao fim deste ano de 2018», como nos disse o João Nunes, dirigente da associação, era o prémio principal das rifas que já tinham sido sorteadas durante a festa.

E a betoneira? «A betoneira? Então a betoneira é a tômbola!», explicou, com uma gargalhada. A tômbola? Como? E então ele saltou para cima da carrinha de caixa aberta, pôs a betoneira a funcionar. Rodando e rodando, lá iam ficando bem misturadas as bolas com os números que sobraram do sorteio. E sacou daquela super imaginativa tômbola uma bola com um número escrito, que era sugada pelo aspirador que segurava na mão. Ou seja, com uma betoneira e um aspirador se fazia um animado sorteio… nós, a essa altura, já nos torcíamos a rir, com a demonstração feita, tal como se pode ver no vídeo que fiz na altura.

«E o computador que está ali em cima, para passar a música, sabem o que é? É um Magalhães! Ou um Sócrates, como a gente lhe chama!», acrescentou o divertido anfitrião. Nova explosão de riso.

Mas faltava ainda um pormenor para dar mais picante a esta cena, toda ela digna de um filme de Fellini…ou de Kusturica: o super paio!

É que os prémios da rifa eram os seguintes: «1º um jipe Portaro de 1980, mas com inspeção feita até ao fim deste ano de 2018; 2º seis litros de gasolina/gasóleo [dito assim mesmo: seis litros de gasolina barra gasóleo]; 3º um colete refletor; 4º um paio de 1 metro; 5º uma garrafa de vinho cheia; e 6º uma garrafa de vinho vazia». Nova explosão de riso da nossa parte.

Aí, e porque a noite estava fria, o João Nunes convidou-nos para irmos até à sede da Associação Alegres Olival, que fica ali ao pé, na Rua da Pascoela, para irmos beber uma «mine». E lá fomos. As minis foram tiradas de um frigorífico que não conseguia ficar fechado, sempre com a porta a abrir-se. Quando lhe chamámos a atenção para isso, respondeu: «é como ele trabalha melhor!»…e lá ficou o frigorífico escancarado.

As minis, oferta da associação ao grupo de algarvios, soltaram ainda mais a conversa. E falou-se, de forma bem humorada, do paio de um metro de comprimento, que se via ali, na sala ao lado, onde estava o proprietário da loja Palad’art, produtor do dito cujo. Como a sua loja, na Rua Florbela Espanca, só abriria no domingo às 10h00, e o Grupo dos Amigos do Museu de Portimão sairia mais cedo de Vila Viçosa, logo ali se fez a venda e a compra do super paio.

Depois, houve uma voluntária para o transportar, ao ombro, tal a dimensão do dito cujo, até ao hotel, que não era longe. Nenhum dos dois homens do nosso grupo quis transportar o paio…vá-se lá saber porquê…

Chegados ao hotel Solar dos Mascarenhas, pedimos ao rececionista se seria possível guardar o paio na cozinha, até à manhã seguinte, para que o seu cheiro não invadisse o quarto de um de nós. O rapaz, que deve ter pensado que tínhamos comprado chouriços normais, mal viu o paio de tamanho descomunal, exclamou: «Eh lá! Isto é que é um paio!».

Esta é, de facto, uma história que teve que ser vivida, para se acreditar. E nem o que eu aqui conto faz jus ao que se passou, tal foi o surrealismo da cena. É bem o exemplo da nossa afabilidade portuguesa, deste modo de ser lusitano. Aquele calipolense (habitante de Vila Viçosa) não nos conhecia de lado nenhum, mas logo ali se criaram laços de convivialidade e de amizade.

Nós já pusemos um gosto na sua página no Facebook, para podermos acompanhar as atividades daquela associação, constituída por gente bem disposta e super simpática. E, porque os tempos são de redes sociais, saiba que, quem quiser, até pode comprar rifas para estes sorteios via internet. «Basta dizer-nos, em mensagem no Facebook, nós mandamos o NIB e vocês fazem a transferência bancária».

E olhem que os prémios não são nada de desprezar: em Julho, para a festa de dia 7, serão rifados um LCD, as tais garrafas de vinho, uma cheia, outra vazia. E o paio, claro. O super paio. Outro, que este já é nosso e vai agora ser dividido…e degustado.

 

 

Autora: Elisabete Rodrigues é jornalista e diretora do Sul Informação

 

 

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