Proposta do PS para a Unidade Móvel de Saúde de Castro Marim não convence Francisco Amaral

O PS já apresentou uma proposta para a «refuncionalização» da Unidade Móvel de Saúde de Castro Marim, com a introdução […]

O PS já apresentou uma proposta para a «refuncionalização» da Unidade Móvel de Saúde de Castro Marim, com a introdução das valências que considera que faltavam e que levaram os socialistas a chumbar a continuidade do modelo que existia há quatro anos. Uma proposta que não convence o presidente da Câmara Francisco Amaral (PSD), que fala «em mão cheia de nada» e na troca de «algo concreto» por um projeto «vago».

Poucas horas depois de terem viabilizado a aprovação do Orçamento Municipal em Reunião de Câmara – que chumbaram na primeira vez que este foi submetido a votação -, os socialistas castro-marinenses promoveram uma conferência de imprensa para falar da Unidade Móvel de Saúde , outro assunto que tem dado que falar e que tem alimentado a fogueira da discórdia entre o executivo minoritário presidido por Francisco Amaral e as duas forças da oposição.

Em Dezembro, o PS e o movimento Castro Marim Primeiro, liderado pelo antigo presidente da Câmara e ex-militante do PSD José Estevens, chumbaram a renovação do protocolo que permitia o funcionamento da Unidade Móvel de Saúde, serviço destinado a garantir o acompanhamento médico e de enfermagem à população mais isolada do concelho.

Célia Brito, vereadora na Câmara e que encabeçou a lista socialista à Câmara de Castro Marim nas autárquicas de 2017, explicou este chumbo com o facto do PS considerar que o serviço não era suficientemente abrangente e eficaz e, caso fosse aprovada a proposta do executivo, ir-se-ia manter por mais um ano.

Os socialistas preferiram matar, desde já, o modelo que estava em vigor há quatro anos, de modo a apresentar uma proposta «de criação de um serviço móvel integrado de proximidade». Esta visão está explanada num documento entregue ontem a Francisco Amaral, para agendamento em reunião de Câmara.

Célia Brito, vereadora do PS em Castro Marim

Contactado pelo Sul Informação, o presidente da Câmara de Castro Marim não avançou uma data para o agendamento desta proposta, que considera ser «muito vaga, um mero exercício académico».

«No fundo, isto tudo é uma irresponsabilidade e uma desresponsabilização por parte do PS, que agora atira o problema para cima de mim, para que eu o resolva», acusou.

Na conferência de imprensa de ontem, que serviu «para desmistificar o que se passou com a Unidade Móvel de Saúde», Célia Brito – que é enfermeira – disse que sempre teve uma visão diferente sobre a este serviço e que a transmitiu logo na primeira reunião que manteve com Francisco Amaral – que é médico.

«Esta deve ser uma valência partilhada com o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e prestada em articulação com ele. Também não deve contar apenas com médico e enfermeiro, deve ter, também, outros profissionais», disse.

A unidade preconizada pelo PS seria dinamizada em parceria com «a Associação de Bem Estar da Freguesia do Azinhal (ABESFA) e com a Santa Casa de Misericórdia» local e em articulação com a Administração Regional de Saúde, nomeadamente com a Unidade de Saúde Familiar Baesuris, do Centro de Saúde de Castro Marim.

Célia Brito acrescentou que este «é um projeto com um plano de ação, não é uma proposta vaga».

Francisco Amaral discorda desta afirmação de Célia Brito. «Nós tínhamos um serviço e um protocolo concretos, com um médico, um enfermeiro e um motorista concretos e com um horário de funcionamento», defendeu o edil castro-marinense.

«A proposta é vaga, nada tem de concreto, é uma mão-cheia de nada. Não tem lá nenhum médico, nenhum enfermeiro concreto. Não avançam solução nenhuma», disse.

O presidente da Câmara de Castro Marim Francisco Amaral (PSD)

O PS de Castro Marim garante que isso não é verdade e que o projeto que propõe «pode estar a funcionar no dia 1 de Fevereiro, se o presidente da Câmara assim o desejar».

«Os contactos com as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) e com a USF Baesuris estão feitos. Todos mostraram disponibilidade em colaborar. Também da ARS há abertura, até porque em Alcoutim foi adotada uma solução semelhante», garantiu Célia Brito, que, na condição de enfermeira, integrou a equipa da USF castro-marinense desde a sua inauguração, em 2016.

Estas parcerias permitiriam, não só, garantir que as populações mais isoladas são visitadas por médicos e enfermeiros, mas também por outros profissionais de saúde, nomeadamente «fisioterapeuta, psicólogo e nutrucionista».

Mais do que tornar o serviço «abrangente», a solução encontrada também permitirá, segundo os vereadores socialistas, «baixar os custos do serviço». Isto porque o pagamento dos profissionais de saúde será «imputado à ARS».

Francisco Amaral diz, por seu lado, que a ideia de incluir outros profissionais neste serviço «é de quem não sabe o que é uma Unidade Móvel de Saúde».

O autarca, que em 1995 criou a primeira unidade deste género, em Portugal, quando ainda era edil de Alcoutim, defendeu que este serviço tem «um objetivo bem definido. As pessoas morrem, sobretudo, de enfartes, AVCs e de pneumonias. Na base disso tudo está a hipertensão, o colesterol e a diabetes. Temos de vacinar as pessoas contra a gripe. Todos estes são serviços que uma unidade móvel faz», disse.

«Acabaram com um serviço que realizava um trabalho espetacular, muito útil e competente, e não avançam com solução alternativa», acusou o presidente da Câmara.

Da direita para a esquerda: Célia Brito, Mário Dias e Pedro Tavares

Os socialistas, que na conferência de imprensa se fizeram representar pelos vereadores eleitos Célia Brito e Mário Dias, e Pedro Tavares, seu substituto, não colocam em causa o mérito da Unidade Móvel de Saúde, tal como funcionava, mas defendem que era insuficiente.

«A unidade, no formato em que funcionava, apenas fazia a prescrição de receituário», garantiu Célia Brito. Por outro lado, o serviço «só funcionava da parte da manhã» e «só ia a um local a cada dois meses», o que leva a eleita pelo PS a defender que a sua ação «era mais psicológica que efetiva».

«Colmatou algumas lacunas do SNS, mas, às vezes, é preciso dar um passo em frente», considerou, por seu lado, Mário Dias.

Contactada pelo Sul Informação, a Administração Regional de Saúde não se quis pronunciar sobre esta questão. No entanto, adiantou alguns dados sobre o SNS, em Castro Marim, onde a cobertura de médicos de família «é total».

Neste concelho, existe uma USF, a Baesuris, com «quatro médicos, cinco enfermeiros, dois assistentes técnicos e dois assistentes operacionais». A ela estão afectos «6499 utentes», os mesmos que estão inscritos no Centro de Saúde de Castro Marim. Esta unidade tem, inclusivamente, «margem para acolher mais utentes».

Além da sede, a Baesuris conta com dois polos, um em Altura e outro no Azinhal, onde foi reaberta, recentemente, a Extensão de Saúde local.

Segundo os socialistas, seria esta USF que garantiria os médicos e enfermeiros necessários para o funcionamento da unidade móvel. Já os demais profissionais de saúde seriam garantidos pelas IPSS parceiras.

Para já, não é certo quando é que a Unidade Móvel de Saúde de Castro Marim pode voltar a estar ao serviço da população. Mas não restam dúvidas de que o seu fim foi notado e criticado, principalmente pelos que beneficiavam deste apoio.

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