Morreu José Rosa Pinto, o coronel de Infantaria que era apaixonado pela Botânica do Algarve

José Manuel da Rosa Pinto, de 76 anos, coronel da Infantaria reformado, especialista em botânica e profundo conhecedor da flora […]

Coronel José Rosa Pinto, durante um passeio na Fonte da Benémola, em 2015

José Manuel da Rosa Pinto, de 76 anos, coronel da Infantaria reformado, especialista em botânica e profundo conhecedor da flora algarvia, morreu ontem, vítima dos problemas cardíacos e outras questões de saúde que há vários anos o afetavam. A Universidade do Algarve, com quem Rosa Pinto colaborou vários anos, decretou três dias de luto académico.

José Rosa Pinto foi, a par da professora Maria Manuela David, o criador do Algu-Herbário da Universidade do Algarve, que contém mais de 14 mil plantas, das quais 2500 recolhidas no campo pelo botânico. Enquanto a saúde o permitiu, Rosa Pinto trabalhou diariamente no herbário, onde assegurava a sua atualização e manutenção.

Foi quando estava em missões militares em África – em Moçambique, Guiné-Bissau e Angola – que José Rosa Pinto, oficial de carreira, começou a interessar-se pela natureza. Como confessou ao jornalista Idálio Revez, do jornal «Público», num artigo publicado em Agosto passado, a sua primeira paixão foram os insetos. Mas acabou por começar a dedicar-se às plantas e tornou-se colecionador.

Mais tarde, quando se reformou do Exército, Rosa Pinto pôde dedicar-se de corpo e alma à sua paixão pela botânica. E acabou por colaborar com muitos especialistas nesta área, como Carlos Pinto Gomes, professor da Universidade de Évora, que com ele levou quatro anos a calcorrear montes e vales do Algarve.

Durante cinco anos, José Rosa Pinto foi professor auxiliar convidado, em regime de voluntariado, na Faculdade de Engenharia e Recursos Naturais da UAlg, altura em que deliciou os seus alunos com a sua sabedoria, explanada nas saídas de campo frequentes.

José Rosa Pinto

Atividades práticas de campo, publicações científicas, envolvimento em projetos de investigação e constante disponibilidade para as diversas atividades de divulgação científica, caracterizam o percurso deste professor convidado. Em 2012, foi-lhe atribuída a Medalha de Mérito pela Universidade do Algarve, a primeira alguma vez atribuída por esta academia.

Generoso por natureza, Rosa Pinto fez, durante vários anos, parte dos corpos sociais do Núcleo do Algarve da Liga para a Proteção da Natureza. E foi nesse âmbito que, por diversas vezes, guiou passeios em zonas tão emblemáticas, como a Fonte da Benémola ou a Rocha da Pena. O último foi em Março de 2015.

Mesmo já com a saúde debilitada, Rosa Pinto percorria com prazer os trilhos do campo, parando pelo caminho para recuperar o fôlego e falar das plantas que ia encontrando, dos seus nomes científicos e populares, dos seus usos medicinais ou culinários e até dos seus efeitos nocivos. Tudo com uma grande dose de bom humor e muita sabedoria, que deixava quem participou desses passeios preso pelas suas palavras.

Ao longo da sua vida, José Rosa Pinto participou em inúmeras publicações científicas, assim como foi coautor de diversos livros, mais académicos ou de divulgação. Exemplo deste último tipo foi «Flora do Algarve», escrito por Rosa Pinto,  com fotos e ilustração de Sebastião Pernes, e editado pela Associação In Loco, em 2010, destinado a dar a conhecer ao grande público a riqueza das plantas algarvias.

O estado de saúde de Rosa Pinto, nos últimos meses, tinha ficado muito abalado pela morte de dois dos seus familiares mais próximos.

Reagindo à sua morte, Gonçalo Duarte Gomes, presidente da Secção Regional do Algarve da Associação Portuguesa dos Arquitetos Paisagistas e antigo dirigente da LPN/Algarve, salientou, em declarações ao Sul Informação que «a notícia da morte do Coronel Rosa Pinto é profundamente triste e representa uma perda tremenda para o Algarve. Desaparece um homem que contribuiu de forma ímpar para o conhecimento da flora e vegetação e para a caracterização ecológica da região».

«Nos passeios que, de forma sempre disponível, acompanhava e orientava, ou nos trabalhos de investigação que apoiou e de que participou, transmitia não apenas o profundo saber de que dispunha, mas também uma paixão imensa, que cativava todas as pessoas e despertava curiosidade relativamente a um tema que não é fácil em termos de comunicação», acrescentou.

«A isso juntava-se uma personalidade afável e uma capacidade ímpar de contar autênticas fábulas vegetais. Sentiremos grandemente a falta do sábio, do comunicador e, fundamentalmente, do homem», concluiu Gonçalo Gomes.

Por seu lado, Maria Manuela David, que com ele trabalhou no Herbário da Universidade do Algarve, ainda consternada com a notícia, comentou: «É-me tão difícil expressar o que sinto… É enorme a minha admiração pelo Rosa Pinto (era assim que eu o chamava), e falar dele, agora, é confrontar-me com a ideia terrível de separação e de perda, de um amigo, do companheiro de caminhadas, do seu saber sobre as plantas do Algarve e dos lugares onde as podíamos encontrar, numa atitude de constante descoberta, mas sempre com grande humildade e com uma IMENSA generosidade. É-me, mesmo, tão difícil expressar o que sinto».

Também Paulo Águas, novo reitor da Universidade do Algarve, já decretou três dias de luto académico, solidarizando-se «com este momento de tristeza».

O reitor Paulo Águas manifestou, «em nome de toda a comunidade académica», «o mais profundo pesar pelo falecimento do coronel José Manuel da Rosa Pinto», endereçando «à família e aos amigos as mais sinceras condolências».

O funeral será na terça-feira e sairá da Igreja dos Capuchos, em Faro, não se sabendo ainda a hora.

 

 

Atualizado às 20h33, acrescentando a reação da professora Manuela David e informações sobre as cerimónias fúnebres.

 

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