A denúncia é, alegadamente, feita por um grupo de enfermeiros do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA) e fala de um cenário de caos, com salas cheias de macas, muitas mais do que as que deviam receber, e os recursos humanos a não conseguir dar conta do recado. O Conselho de Administração do CHUA nega tudo e diz que a situação relatada não corresponde à realidade vivida nestes últimos dias nas urgências dos hospitais do Algarve.
A situação de caos nas urgências é descrita num texto enviado ontem aos órgãos de informação nacionais (o Sul Informação não a recebeu) e que tem circulado nas redes sociais, alegadamente escrito pela equipa de enfermagem do serviço de urgência do Centro Hospitalar Universitário do Algarve – Unidade de Faro. A ele, foram associadas diversas fotos onde se veem salas repletas de macas e doentes em situações pouco dignas.
No comunicado, que foi enviado de um email mais ou menos anónimo e identificado como “anossaurgencia”, que não pertence a nenhuma entidade oficial, nomeadamente as que representam aquela classe profissional, fala-se da «crescente degradação das condições assistenciais aos seus utilizadores».
Segundo os autores da denúncia, é normal que as urgências contem «com uma média de utentes muitas vezes superior a 60, podendo, inclusive, ultrapassar os 80 doentes numa sala com capacidade para 24. O rácio de enfermeiros nunca é ajustado».
«Convém não esquecer que, para além das horas de espera pelo atendimento médico que tanto sensacionalismo causa nos telejornais, existe, ainda, uma parte mais escondida do Serviço de Urgência, que são os doente internados em macas durante dias e até semanas. Estes doentes estão submetidos a autênticas torturas, dias e dias», alegam.
«Confinados num ambiente altamente contaminado e saturado, é-lhes negada a sua privacidade (são expostos em frente a toda a gente), não tem janelas nem referências do dia/noite (constantemente expostos ao stress e barulho da urgência 24×7 dias/semana). É-lhes negado o direito a serem cuidados e tratados com segurança. O espaço e o rácio a que estão sujeitos não permitem a prestação de cuidados de qualidade e são um caldo do erro. É-lhes negada dignidade. É-lhes negado direito a comer (muitos não comem apenas porque não tem quem lhes dê comida). Muitos morrem sozinhos», pode-se ler, no comunicado.
O Conselho de Administração do CHUA reagiu hoje a esta denúncia, que diz ter sido «enviado de forma anónima e a partir de um email não institucional», garantindo que o seu teor não é verdadeiro.
«Os factos descritos no referido comunicado, ilustrados com fotografias claramente de outra altura do ano, em nada se coadunam com a situação vivenciada nestes últimos meses, sendo por isso falsos no que respeita à falta de material, à alimentação dos utentes ou ainda no que respeita à organização do próprio serviço, que apesar das dificuldades provocadas pelos picos de afluência às urgências, consegue dar respostas de qualidade às situações clínicas dos nossos utentes, graças ao empenho de todos os seus profissionais», assegura o CA do CHUA.
«O Conselho de Administração estranha ainda o timing de envio do referido comunicado para a imprensa por parte da equipa de enfermagem que subscreve o documento, no qual o enfermeiro-chefe do Serviço de Urgência não se revê, isto numa altura em que o hospital tem conseguido dar resposta de forma positiva ao pico de afluência, de acordo com os tempos de espera expectáveis para este período de pico da atividade gripal e quando o dispositivo de contingência regional foi acionado com aumento de camas de internamento, alargamento dos horários dos centros de saúde e reforço das equipas», acrescentam.
O alegado grupo de enfermeiros que enviou a missiva, assegurou, por outro lado, nesse comunicado, que a situação se «arrasta há mais de dois anos, com conhecimento e conivência do Conselho de Administração, que nada tem feito, até ao momento, para resolver de forma eficaz as condições deploráveis a que são sujeitos os doentes e profissionais de saúde».
«Neste sentido, enviamos uma vez mais um aviso ao CA, Ordem [dos Enfermeiros] e tutela do CHUA. Aviso esse em que, uma vez mais, denunciamos a falta de condições de utentes e profissionais do serviço de urgência», lê-se no texto.
O CA do CHUA , por seu lado, diz que, em nenhum momento, «a equipa de enfermagem mencionada no comunicado contactou através da sua chefia os atuais membros do conselho de Administração no sentido de expor as situações referidas no comunicado agora enviado».
Essa missiva «cita, e tem como base, uma informação endereçada em Julho de 2017 à anterior administração, uma vez que à data do referido documento esta administração ainda não tinha tomado posse», acrescenta a equipa que gere os hospitais públicos algarvios.
Contactado pelo Sul Informação, Nuno Manjua, delegado regional do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, não quis comentar a origem nem o teor do comunicado, remetendo para aquela que é a posição oficial do SEP, divulgada numa nota de imprensa, em Dezembro.
Na altura, os sindicalistas alertavam, mais uma vez, para a falta destes profissionais de saúde nos hospitais do Algarve e defendiam que o CHUA não tem suficientes enfermeiros para responder ao surto da gripe.
Fotos da alegada situação de caos e sobrelotação nas urgências de Faro:
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