Almargem diz não ter sido ouvida na organização de prova de ultra trail na Via Algarviana

A Almargem diz ter sido a última a saber da realização da prova Algarviana Ultra Trail  (ALUT), que termina este domingo, […]

Foto: Nelson Inácio | Sul Informação

A Almargem diz ter sido a última a saber da realização da prova Algarviana Ultra Trail  (ALUT), que termina este domingo, 3 de Dezembro, e queixa-se de não ter sido envolvida na organização de um evento que usa o nome registado e  a própria infraestrutura da qual é a entidade gestora. A Associação Algarve Trail Running, organizadora da prova, defende-se, garantindo que a Almargem foi a primeira a ser contactada e que a procuraram envolver desde a primeira hora, mas que esta não demonstrou «disponibilidade».

A discórdia entre as duas associações vai mais longe, já que a entidade gestora da Via Algarviana, numa comunicação aos seus parceiros a que o Sul Informação teve acesso, também acusa os organizadores do ALUT de se terem recusado a contribuir com uma verba para a manutenção da Via Algarviana.

Os organizadores desta prova, que junta atletas de vários países, confirmam a recusa, mas garantem que foi pedido aos participantes que dessem contributos à Almargem. Além disso, consideram que, ao «contribuir para a divulgação da Via Algarviana», já estão a ajudar a entidade gestora.

O objetivo desta prova, segundo a Algarve Trail Running, é «promover a economia da região», mas isso não impediu a polémica.

Na comunicação enviada aos parceiros da Via Algarviana, Anabela Santos, coordenadora deste projeto, argumenta que «todo o evento foi organizado sem o envolvimento» da Almargem, entidade que criou a via pedonal e ciclável que atravessa o interior da região, «e que a tem gerido até ao dia de hoje, com o apoio das Câmaras e Juntas de Freguesia parceiras».

No texto, Anabela Santos recorda que «a Via Algarviana é marca registada, estando, portanto, eventos desta categoria bloqueados à sua realização sem a nossa autorização».

Só que, «uma vez que o evento já estava num estado de maturação tal e já tinha apoios de entidades como a Região de Turismo do Algarve, a direção da Associação Almargem optou por não entrar judicialmente com um processo contra esta entidade».

Confrontada com esta posição, a Algarve Trail Running disse ao Sul Informação que a Almargem foi «a primeira entidade a ser contactada e envolvida neste processo, a 25 de Setembro de 2016. Estamos há mais de dois anos a planear esta prova, que decorre em 90% da Via Algarviana. Não poderíamos não ter contactado a entidade gestora».

«Apesar de ser um percurso pedestre de uso público e financiado por entidades públicas, a organização do ALUT teve sempre a maior consideração e respeito pelo trabalho efetuado pela entidade que gere a infraestrutura», reforça.

Segundo a ATR, foi a Almargem que «não apresentou disponibilidade para colaborar de forma construtiva. O não envolvimento da Almargem não poderia comprometer o evento, que é uma oportunidade única para promover a nossa região por um ângulo diferente do habitual, focando no interior e no seu potencial».

A prova, que começou em Alcoutim, no dia 30 de Novembro, e termina este domingo, junto ao Cabo de São Vicente, em Vila do Bispo, junta 60 atletas de 6 nacionalidades para percorrer, em 72 horas, os cerca de 300 quilómetros da Via Algarviana.

Mesmo sem o apoio da Almargem, a organização diz que a prova se realiza «com uma grande ajuda de voluntários e da população local», conseguindo um «envolvimento e união fantásticos».

«Aqui os presidentes de Junta de Freguesia têm um papel fundamental. A promoção, o apoio na organização da prova, o envolvimento a nível local, é maioritariamente das Juntas de Freguesia e de associações locais desportivas e culturais nas aldeias do interior, que encontram aqui uma oportunidade de visibilidade e protagonismo que as praias e o mar quase sempre lhes rouba», acrescenta.

Outra das queixas feitas pela Almargem é não ter sido aceite que, do valor da inscrição, parte revertesse para uma eco-taxa que serviria para manutenção da sinalética da Via Algarviana.

«Na reunião que a direção da Almargem realizou com a referida associação sugerimos que do valor de inscrição cobrado aos atletas (200 a 250 euros), 5% desse valor fosse reconvertido numa eco-taxa que seria para manutenção da sinalética da Via Algarviana», explica, em detalhe, a associação ambientalista.

Só que a Algarve Trail Running «achou esse valor, 10 euros, elevado, e que não faria qualquer sentido esta proposta. O comprometimento de haver um contributo a reverter para a Via Algarviana, prática aliás comum noutros países onde decorrem eventos desta natureza, seria, para nós, uma demonstração de seriedade da prova, preocupada com a infraestrutura em causa», acrescenta.

Os organizadores da prova confirmam a recusa, acrescentando que lhes foi proposto ceder «12,5 euros do valor das inscrições, o que para nós, enquanto organização sem fins lucrativos, era incomportável. Este evento tem um orçamento de 60 mil euros e ceder parte do valor de inscrições numa primeira edição seria comprometer a viabilidade do evento».

No entanto, segundo a Algarve Trail Running, «desde o início, e conforme acordado com a própria Almargem, em todos os meios de divulgação e junto aos atletas, foi transmitido e incentivado que contribuíssem ativamente e diretamente para a Almargem com uma verba para a gestão da Via Algarviana».

Foto: Nelson Inácio | Sul Informação

A Almargem também usou a mesma comunicação, enviada aos parceiros, para se demarcar de eventuais problemas que ocorram durante a prova.

«Tendo em conta a dureza da prova e enorme logística associada para que tudo corra em conformidade, e por não ter garantias que tudo se encontra devidamente preparado, a Almargem deixa claro que nada tem a ver com o evento e em caso de vir a ocorrer algum problema com a prova a nível dos atletas», afirmou a associação.

Problemas que a equipa da Algarve Trail Running acredita que não acontecerão, já que dizem ter a «experiência e os conhecimentos do terreno para garantir as condições de segurança durante a corrida».

«Queremos que o ALUT seja também, e a par das outras provas que organizamos, uma prova de referência no calendário mundial. Queremos posicionar o ALUT na linha das provas de igual distância, dificuldade e qualidade que se realizam em todo o mundo, com particular destaque nos Estados Unidos. O sucesso desta edição vai ditar a aposta», concluíram.

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