Num Castro Marim sem maiorias, todos falam em consenso e pacificação do convívio político

Em Castro Marim, a necessidade de construir consensos e de abandonar um clima de crispação que começou no anterior mandato […]

Em Castro Marim, a necessidade de construir consensos e de abandonar um clima de crispação que começou no anterior mandato e continuou na campanha eleitoral é… consensual. Esta foi a mensagem mais repetida durante a cerimónia de tomada de posse dos eleitos nas Autárquicas 2017, que foi logo marcada por um acordo entre o  PS  e os independentes do Castro Marim Primeiro (CM1), que deu a presidência da Assembleia Municipal aos socialistas.

A Câmara, essa, continua a ser liderada pelo social-democrata Francisco Amaral, agora sem maioria.

Na sessão de hoje, a grande dúvida era se o PS, a força que recebeu mais votos diretos, ia conseguir reeleger José Luís Domingos como presidente da Assembleia Municipal. Isto porque a coligação Castro Marim + Humano (PSD/CDS-PP) tinha nove deputados municipais, mais dois que o PS, devido aos três presidentes de Junta que elegeu (o PS apenas elegeu um).

Mas havia que contar, ainda, com os três elementos que o movimento independente encabeçado pelo antigo presidente da Câmara José Estevens (ex-PSD) elegeu para este órgão. E foi precisamente isso que o PS fez: apresentou uma lista à mesa da AM com dois socialistas e um deputado do CM1, garantindo os dez votos que necessitava (em 19).

Apesar de não ter maioria na Câmara e de ter visto os dois partidos da oposição a juntar-se para garantir a presidência da mesa da assembleia, Francisco Amaral não antevê problemas de maior, no segundo mandato à frente desta autarquia, para o qual foi hoje empossado.

«Mesmo tendo maioria, no anterior mandato adiei dezenas de pontos, porque os vereadores da oposição não estavam preparados para o votar. E, tendo maioria, se quisesse podia votá-los. Sempre tive respeito e sempre gostei de trabalhar em equipa», assegurou.

«Há autarcas que se acham uns iluminados e não perguntam nada a ninguém. Mas eu acho que é bom ouvir os outros partidos, que dão contributos importantes. Desta forma, julgo que não terei dificuldade nenhuma em trabalhar com a oposição», disse.

Isto é válido no que toca ao PS – cujos vereadores, Célia Brito e Mário Dias, sondou no sentido de lhes dar um lugar no executivo, abordagem para a qual «não houve abertura» – e ao próprio presidente da AM reeleito. Quanto ao CM1, mais precisamente ao líder deste movimento, a relação dificilmente será de amizade.

«Com o doutor José Estevens, a coisa é mais complicada, porque eu fui ofendido durante quatro anos. Fui vilmente atacado. Eu tenho memória e vergonha na cara e não sei se terei algum entendimento com ele», disse.

Inimizades à parte, o edil castro-marinense acredita «que o bom senso vai imperar», já que o que interessa a todos os partidos «é Castro Marim e a sua população».

«Antes de eu chegar aqui à Câmara, há quatro anos, fazia-se sentir muito o clima de guerrilha política. Eu costumava dizer que havia tiros de manhã à noite. Eu fiz os possíveis para amenizar este clima e acho que o consegui. Penso que esta guerrilha foi secundarizada», afirmou.

No discurso de tomada de posse, Francisco Amaral já havia abordado esta questão, defendendo que«há que acabar com guerrilhas partidárias e encontrar consensos». «Cabe-nos a nós, eleitos, dar as mãos e lutar por um Castro Marim melhor. Ninguém conte comigo para guerras, mas também não virarei a cara à luta, quando estiverem em causa os interesses do concelho», defendeu.

Também os representantes das três forças partidárias representadas na Assembleia Municipal, chamados a discursar, bem como o presidente reeleito deste órgão, apontaram na mesma direção.

«Temos de apostar numa nova e necessária convivência democrática, bem como no diálogo, com o objetivo único de beneficiar o concelho. Não aceitarei discussões do foro demagógico e pessoal», avisou o socialista José Luís Domingos.

Também Luís Gomes, cabeça de lista à AM de Castro Marim pelo PSD/CDS-PP avisou que é importante evitar «colocar à frente egos e objetivos pessoais». «Num quadro em que não há maioria em nenhum dos órgãos, teremos de encontrar denominadores comuns e consensos, através do diálogo. Se não for essa a postura, o concelho fica claramente a perder», disse o ex-presidente da Câmara de Vila Real de Santo António.

Carlos Dias, eleito pelo CM1 e que será o 2º secretário da mesa da Assembleia Municipal, lembrou, por seu lado, que «a campanha acabou a 29 de Setembro» e que, agora, todos os eleitos estão ao serviço da população. «Faço um apelo para que não se permita que as pessoas se ofendam umas às outras».

Francisco Amaral quer levar «água potável a todas as casas do concelho»

O recém-empossado presidente da Câmara de Castro Marim elegeu como principal desígnio, para os próximos quatro anos, concluir o sistema municipal de abastecimento de água e levar este bem essencial «a todas as casas do concelho».

Esta é a prioridade número um do executivo, que se junta a outras intenções manifestadas por Francisco Amaral na cerimónia de tomada de posse dos órgãos autárquicos de Castro Marim, entre as quais a vontade de promover o crescimento económico, através da simplificação de processos internos, ao nível municipal.

O objetivo de levar a rede de água municipal a todos os povoados do concelho é antigo e até já se realizaram obras nesse sentido. Mas, dadas «as dificuldades e estrangulamentos» que diz terem marcado o seu primeiro mandato, apenas foi possível chegar «a meia-dúzia de localidades».

«Fiquei escandalizado quando cá cheguei e percebi que havia 57 povoações que eram abastecidas por fontanários de água não potável. Isto, em pleno século XXI e numa Europa civilizada, é um absurdo», defendeu.

«Estou convencido que neste mandato vou conseguir colocar água potável em todas as casas. Estamos a falar num investimento na ordem dos 5 milhões de euros», acrescentou.

No que toca à dinâmica económica do concelho, Francisco Amaral considerou que aquilo que a Câmara pode (e deve) fazer é simplificar e agilizar os procedimentos.

«Quando cá cheguei, tinha uma divisão de urbanismo que dificultava a vida às pessoas. Neste momento, essa divisão está amiga do investidor e isso já se faz sentir. Estou convencido que a hotelaria vai ter um boom aqui no concelho», disse.

Ao falar de investidores, o autarca castromarinense refere-se «aos sérios, que vêm para cá gerar riqueza e postos de trabalho». Dos outros, «os especuladores», Francisco Amaral confessa que «não gosta».

Investimentos na renovação da rede viária do concelho e na instalação de ciclovias, bem como o para a criação da praia fluvial de Odeleite são outros projetos na calha.

 

Fotos: Hugo Rodrigues|Sul Informação

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