E se houvesse um derrame de petróleo na costa do Algarve?

Se acontecesse um derrame de petróleo, na costa do Algarve, saberia a região como reagir? O cenário foi ficcional, mas […]

Se acontecesse um derrame de petróleo, na costa do Algarve, saberia a região como reagir? O cenário foi ficcional, mas o exercício de combate à poluição do mar, realizado na quarta e quinta-feira, 18 e 19 de Outubro, em Vila Real de Santo António, testou procedimentos para que tudo esteja a funcionar, em caso de necessidade.

A conclusão é que os meios disponíveis, se tal acontecesse, dariam para «fazer rapidamente uma primeira intervenção». Quem o disse foi Luís Sousa Pereira, diretor geral da Autoridade Marítima Nacional, fazendo referência ao material que existe no Departamento Marítimo do Sul, como barreiras de contenção, motobombas ou material para fazer a limpeza dos produtos.

«Os meios que temos são os que consideramos necessários para uma primeira contenção, seja numa zona ribeirinha, seja junto à costa ou no mar», considerou. Depois dessa fase, poderia então ser deslocado «material mais pesado», para ajudar nas operações.

No exercício em Vila Real de Santo António, promovido pela Autoridade Marítima Nacional, houve cinco cenários. O primeiro, numa hipotética plataforma offshore, junto à praia de Monte Gordo, simulou um acidente marítimo, entre dois navios, um cargueiro e um petroleiro, do qual resultou um derrame de 3 milhões de litros de fuel. Este número representa, a título de exemplocerca de 5% do total do acidente ocorrido com o navio «Prestige», na Galiza, em 2002, um dos mais trágicos de que há memória.

Neste cenário, o objetivo foi tanto recolher o poluente, como evitar a sua contenção. Para tal, houve a ajuda de dois navios rebocadores e de outro que recolheu o hipotético fuel derramado… (aqui simulado por pipocas).

Já o cenário dois dava conta de um acidente com uma embarcação de pesca, no porto de Vila Real de Santo António, do qual resultou tanto um ferido, como o derrame de 5 mil litros de gasóleo. Neste caso, também se tentou conter, com barreiras, o derrame, havendo um navio a fazer a recolha do que, ainda assim, se alastrou.

Todos os outros cenários foram uma consequências destes dois primeiros: o três foi a limpeza e recolha do material poluente que tivesse chegado à praia, o quatro a recolha de dois animais que deram à costa cobertos de fuel, e o cinco o fecho do porto de recreio de VRSA. Simularam-se, assim, várias ocorrências.

E haverá mesmo o risco de acontecer algum derrame mais grave no Algarve? O vice-almirante Luís Pereira diz que o mais «importante é antecipar e minimizar eventuais impactos». Daí, então, a existência de «materiais pré-posicionados para atuar».

Sendo o Algarve uma zona onde há um intenso tráfego marítimo, com algumas das principais rotas internacionais a passarem ao largo da costa algarvia, entre o Mediterrâneo e Canal do Suez e o Norte da Europa, há riscos associados à poluição do meio marinho, com os impactos, se acontecesse uma derrame, a serem fortes, nomeadamente no turismo.

Também por isso, o exercício já estava «planeado há muito tempo e não tem nada a ver com iniciativas privadas de exploração de petróleo», garantiu o vice-almirante. «O que pretendemos é ensaiar a nossa organização e procedimentos», reforçou.

Outro dos objetivos deste exercício foi juntar várias entidades nacionais, como a Marinha, a Força Aérea Portuguesa, e Autoridade Nacional de Proteção Civil, nomeadamente o Comando Distrital de Operações de Socorro de Faro, mas também internacionais, como a Marinha de Espanha e a Marinha de Marrocos.

Aliás, destes dois países vierem navios para o exercício. «Precisamos do apoio de parceiros», disse o diretor geral da Autoridade Marítima, dando o exemplo dos navios rebocadores.

«Daí termos articulado os exercícios para que os procedimentos estejam agilizados e não seja uma coisa que acontece e agora vamos lá ver o que fazemos. Cada um sabe o que fazer e em que canais devem atuar», disse Luís Sousa Pereira.

Também a Universidade do Algarve esteve presente nesta iniciativa, ajudando a calcular a deriva do poluente. Joana Cruz, investigadora do Centro de Ciências do Mar (CCMar), deu um olhar diferente à reportagem do Sul Informação sobre esta iniciativa.

É que, «se acontecer um derrame de petróleo, normalmente as pessoas vêem os animais com crude por cima» mas nos organismos planctônicos, que são a base da cadeira alimentar, «não se consegue ver nada». Este seria, por isso, um trabalho relevante para a própria sobrevivência do meio marinho.

Todos os meses, «fazemos recolhas aqui no Ria Guadiana», disse. Ou seja, se acontecesse um derrame, seria possível comparar as análises de como era a água antes e como ficou depois.

No futuro, adiantou Luís Sousa Pereira, o Algarve não vai ser o escolhido para este exercício, mas «outra área». Enquanto não acontece esse novo simulacro, longe das águas algarvias, o vice-almirante concluiu, com a praia de Monte Gordo como pano de fundo: «estou satisfeito com o que vi aqui».

 

Fotos: Pedro Lemos|Sul Informação

 

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