Correlação entre os fenómenos extremos dos Fogos e da Seca preocupa especialistas

Um projeto piloto para tirar partido da colheita de água da chuva em linhas de água, permitindo assim o seu […]

Um projeto piloto para tirar partido da colheita de água da chuva em linhas de água, permitindo assim o seu aproveitamento para fins agroflorestais e para a criação de reservas de água no combate aos fogos florestais, foi apresentado pela UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Ao mesmo tempo, este projeto permite diminuir a pressão na utilização dos recursos hídricos de superfície. Este projeto foi já submetido a patente e publicado no «Journal of Hydrology».

O projeto piloto insere-se no âmbito da investigação integrada desenvolvida pelos Departamentos de Ciências Florestal, Geologia e de Engenharia Civil da UTAD, o qual tem conduzido uma importante investigação na interação entre os ecossistemas florestais e os ecossistemas aquáticos.

Os resultados desse trabalho foram publicados recentemente em prestigiadas revistas internacionais (Science of the Total Environment e Journal of Hydrology) e comprovam as profundas alterações hidrológicas, perda de solo e eutrofização resultantes dos fogos florestais.

Enquanto instituição de saber preocupada com os problemas sociais e ambientais, com investigação e conhecimento reconhecidos na área florestal e das questões hídricas, a UTAD tem dirigido diversos alertas aos decisores políticos e à sociedade em geral, quanto ao «delapidar constante dos recursos naturais com repercussões gravíssimas, não só na floresta e no ecossistema, mas também ao nível do clima e de bens essenciais como a água e o solo, assim como quanto à necessidade de formar mais engenheiros e de apostar em investigação nesta área».

Portugal dispõe, desde há cerca de um mês, de um Plano de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca, que contempla um conjunto de medidas preventivas deste fenómeno, o qual regista os piores níveis dos últimos 20 anos.

No entanto, de acordo com o professor Rui Cortes, do Departamento Florestal da UTAD, “a possibilidade de mitigar a seca é muito limitada e as medidas principais agora preconizadas – como a contratação de camiões-cisterna para abastecimento público e a retirada de biomassa piscícola de algumas albufeiras do Sul, para evitar o apodrecimento dos peixes e inerentes problemas de saúde pública – são parte de uma atuação de contingência muito restrita e destinada a suprir deficiências pontuais no abastecimento às populações”.

De acordo com o mesmo responsável, “não deve esquecer-se o efeito da eutrofização: quando menor o caudal, pior a qualidade da água, que tenderá a ter uma concentração muito superior de nutrientes”.

Tal como explica Rui Cortes, “quanto menos floresta, menor é a capacidade de infiltração de água no solo, por dois motivos: o efeito da erosão que conduz a perdas de solo consideráveis, e a frequente formação de camadas superficiais de solo hidrófobas (repelentes à água) que criam a compactação das camadas superiores, especialmente em eucaliptais. Esta situação leva a outra consequência dramática, da qual se tem falado pouco e que poderá ter lugar já no próximo inverno: o efeito de cheias”.

As cheias são resultantes da menor evapotranspiração do coberto florestal e do maior escoamento superficial, devido à impermeabilização de extensas áreas. Logo, menos floresta maiores picos de caudal, mais inundações, mais erosão fluvial.

Rui Cortes acrescenta que os fogos florestais podem ter também um efeito direto na qualidade da água originada pela intensa exportação de nutrientes (especialmente compostos azotados e fosfatados), afetando a sua utilização para fins múltiplos.

Até que ponto se poderá limitar o efeito devastador das alterações climáticas que tenderão a agudizar-se? Antes de mais, deve-se atender a que o consumo de água por parte da agricultura ascende a 81% do total, pelo que a eficiência da rega e a utilização de culturas adequadas representam aspetos fulcrais.

Respondendo de forma inovadora aos problemas elencados, a UTAD apresentou agora um projeto piloto que procura tirar partido da colheita de água da chuva em linhas de água selecionadas para o efeito, permitindo o seu aproveitamento para fins agroflorestais e até para criação de reservas de água para combate aos fogos florestais, ao mesmo tempo que permite diminuir a pressão na utilização dos recursos hídricos de superfície.

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