ARTURb abre exposição e volta a encher de arte as paredes de Lagos

Empoleirado no balde de uma plataforma elevatória, de phones nos ouvidos e a abanar a cabeça ao ritmo da música […]

Empoleirado no balde de uma plataforma elevatória, de phones nos ouvidos e a abanar a cabeça ao ritmo da música que só ele está a ouvir, o artista italiano Mister Thoms continua a pintar um peixe colorido numa enorme parede branca de um bairro em Lagos.

No Laboratório de Actividades Criativas (LAC), que ocupa há anos a Cadeia de Lagos (e como isso tem sido inspirador!), o polaco Czarnobyl, de máscara na cara e lata de tinta na mão, dá os últimos retoques ao mural que está a pintar numa das paredes interiores do edifício.

Ali ao lado, na antiga solitária (mas com a porta aberta), a artista portuguesa Kruella d’Enfer ocupa-se a terminar a sua intervenção nas paredes da cela, entre grades, pintura, peças cerâmicas e telas a óleo. E as cores e tema escolhido negam em tudo aquilo que se podia pensar sobre a sua obra, a partir do seu nome.

No andar de cima, o português Jorge Charrua e o búlgaro Er’Naste Nasimo vão pintando as telas que este sábado à noite, às 22h00, serão mostradas ao público na exposição de Arte Urbana no LAC.

Jorge Charrua faz uma pausa na pintura para falar com o Sul Informação e explicar que o que está a fazer é «pintura a óleo» sobre tela, conjugando «pintura clássica com temas contemporâneos». As pessoas que surgem nos seus quadros – e nas suas intervenções em paredes, no exterior – «resultam da minha vivência, são pessoas que me influenciam no meu dia a dia, do meu arquivo pessoal». E são pessoas que existem? «pode acontecer que sim ou não», responde. «Faço um processo de transformação da fotografia para que fique dissociada do quadro final».

Er’Naste Nasimo, por seu lado, faz questão de sublinhar como tem sido «muito inspirador» trabalhar em Lagos e no LAC. «Era uma prisão, agora estão cá artistas. Isto dá que pensar», garante. O seu trabalho nas telas que a partir de hoje à noite estarão expostas nas paredes do LAC apresenta «corpos humanos, em posições em que eles não estão confortáveis». É que, explica Er’Naste Nasimo, «nesta prisão que é o mundo, o corpo e a mente estão prisioneiros, apenas a alma está livre. Essa é a pior prisão».

Kruella d’Enfer na sua “solitária”

Kruella d’Enfer, presa na sua solitária, já conhecia Lagos e o LAC, e por isso considera que este é «o único sítio no Algarve onde há uma intensa atividade artística, onde há paredes e onde há esta residência. Há muitos colegas, pelo país fora e no estrangeiro, que têm interesse em vir cá».

Tudo isto é o ARTURb – Artistas Unidos em Residência, a iniciativa promovida pela associação que gere o LAC e que, todos os anos, traz a Lagos alguns dos melhores criadores de arte urbana do mundo, mas também os artistas emergentes.

Ao longo destes sete anos de ARTURb, recorda Nuno Pereira, presidente do LAC, há 30 intervenções murais em toda a cidade e até já há um roteiro turístico para visitar, a pé ou de carro, essas 30 obras de arte urbana que se oferecem ao olhar, às vezes nos locais mais inesperados.

Um deles será, em breve, a parede lateral da casa onde Mister Thoms está a fazer a sua intervenção. O italiano já está prático a comandar a plataforma elevatória onde está empoleirado, a pintar a sua intervenção na parede branca da casa de um bairro lacobrigense.

«As paredes são cedidas pelos proprietários da casas e dos prédios», explica Carla Carvalho, da produção do ARTURb. «Colocámos um apelo no Facebook, pedindo às pessoas que disponibilizassem paredes e esta foi uma das que nos foi oferecida». Outras intervenções desta edição do festival de arte urbana são, por exemplo, feitas em postos de transformação da EDP, espalhados pela cidade.

Czarnobyl a pintar a sua intervenção numa parede do LAC

Mister Thoms conta que esta é a terceira vez que está em Portugal (antes esteve em Lisboa e em Abrantes) e que está a adorar trabalhar em Lagos. O seu trabalho, que pode também ser visto, esta noite, na exposição do LAC, tem como principal motivo de inspiração o peixe. «Aqui há peixe, peixe, peixe, por todos os lados». Mas, de início, contou ao Sul Informação, estava a pensar partir do azulejo para conceber o seu trabalho. Mas acabou por escolher os peixes. E que peixes!!! Só vistos.

ARTURb é um projeto único no Algarve que envolve alguns dos nomes mais importantes da arte urbana. Este projeto é composto por um período de residência artística no LAC, seguida de uma exposição no mesmo local e de diversas intervenções de street art pela cidade de Lagos.

Durante o período de residência, que acontece em Setembro (este ano de 11 a 25) os artistas têm toda a liberdade para desenvolver o seu trabalho no interior e exterior do espaço coletivo do LAC (antiga cadeia de Lagos) que está disponível para qualquer intervenção, adaptação ou criação artística.

ARTURb é um conceito de arte em digressão e de intercâmbio artístico nacional e internacional com base na presença participativa, na vivência e convivência local.

Este evento possibilita «a troca de ideias, a apresentação de novos conceitos, o confronto de realidades estéticas e culturais, a experiência pouco comum e a livre circulação da arte», explica o LAC.

O objetivo do ARTURb é «criar sinergias de descentralização entre o talento e a participação artística, de modo a incentivar e acrescentar valor ao turismo cultural da cidade de Lagos».

 

Intervenção de Jorge Charrua, num posto de transformação da EDP, algures na cidade de Lagos

Com o desenvolvimento do ARTURb, a arte em Lagos tem passado a estar patente ao virar da esquina, oferecendo a oportunidade a qualquer pessoa de poder desfrutar de uma obra num espaço público, de ser estimulado e por vezes provocado.

Deste modo, a cidade tem vindo a ganhar testemunho físico e artístico, contando hoje com obras de alguns dos autores mais representativos do panorama contemporâneo de arte urbana, bem como, ROA, BEZT, SAINER, C215, entre outros.

Uns meses antes, surge o ARTURb IN MY WALL, como forma de promover e divulgar o ARTURb, com a criação de uma obra de larga escala num edifício da cidade. É «uma forma de alertar, sensibilizar e educar o público para este projeto». O artista convidado este ano, foi o português Third, que já antes tinha estado em Lagos.

E como a arte urbana, de rua, é por definição efémera – depende do tempo, das condições climatéricas, do sol, da resistência da parede, do vandalismo e envelhecimento – Third protagonizou a primeira vez que uma parede teve de ser pintada outra vez, o que implicou a destruição da intervenção anterior.

Foi numa casa que é propriedade municipal, que recentemente foi atribuída a duas associações, e onde, em tempos, ROA tinha pintado um enorme flamingo negro, que se tornou um dos ícones do ARTURb.

 

A arte de Third, na parede de uma casa

«Mas a associação que ficou com a casa, a ACRAL, tinha de fazer obras, a parede tinha muitos problemas de infiltrações. Eles tinham como condição, no contrato que assinaram com a Câmara, manter esta parede tal como estava, mas chamaram-nos lá, para vermos e falarmos, e mostraram-nos que era impossível», contou Nuno Pereira, dirigente do LAC, ao Sul Informação.

E assim, depois de feitas as obras, picada, isolada, rebocada e pintada de novo, a parede ficou pronta para receber nova intervenção, desta vez do artista urbano Third. E lá está uma espécie de castelo-robô, quem sabe se uma sátira ao turismo de Lagos.

E como é preciso dar a conhecer tudo isto, vai haver duas visitas guiadas à arte urbana de Lagos, nos dias 7 e 21 de Outubro, com partida às 10h30 do LAC. A inscrição custa apenas 5 euros.

 

 

CALENDARIZAÇÃO ARTURb’ 17
Residência Artística no LAC _ 11 a 25 de Setembro
Inauguração da Exposição de Arte Urbana no LAC _ 23 de Setembro às 22h00
Exposição de Arte Urbana no LAC _ 23 de Setembro a 28 de Outubro, de quarta-feira a sábado das 14h00 às 19h00
Visitas Guiadas _ 7 e 21 de Outubro às 10h30 – 5€
Workshop de Stencil com Samina _ 14 e 15 de Outubro – 20€
Encerramento da Exposição & Lançamento do Catálogo no LAC _ 28 de Outubro às 22h00

 

Fotos: Elisabete Rodrigues|Sul Informação

 

 

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