Quinta da Ombria avança com garantias de sustentabilidade ambiental e social

«Se eu digo que será sustentável, podem acreditar na minha palavra que será sustentável. E vamos trabalhar com as pessoas […]

«Se eu digo que será sustentável, podem acreditar na minha palavra que será sustentável. E vamos trabalhar com as pessoas de cá. Vai ser algo bom», garantiu ao Sul Informação Ville Tallback, o diretor do Ombria Resort, que hoje, dia 25 de Agosto, lançou a primeira pedra do futuro hotel de cinco estrelas e de um complexo de 65 apartamentos turísticos, a nascer nesta propriedade de 153 hectares, situada entre Querença e a Tôr, no interior do concelho de Loulé.

Sustentabilidade ambiental e a integração do empreendimento turístico na comunidade que o envolve, servindo como motor da economia local, foram duas das principais ideias que foram defendidas esta sexta-feira, na cerimónia de lançamento da primeira pedra do Ombria Resort.

Uma primeira pedra que foi mais um ato simbólico, pois basta passar na estrada que liga Querença à Tôr para ver que as obras, nos acessos ao futuro empreendimento e de construção dos campos de golfe, estão bem adiantadas. Desde 2015, foram já construídos um viaduto sobre a Ribeira de Algibre, modelados os campos de golfe e realizados trabalhos de retenção de terras e ladeiras, com estruturas em betão.

No fundo, o lançamento da primeira pedra significa que vão começar as obras “a sério”, ou seja, de edificação do hotel de cinco estrelas com 76 quartos – o primeiro da insígnia Viceroy na Europa -, que os responsáveis pelo Pontos Group, o fundo finlandês que irá investir 262 milhões de euros neste complexo turístico multifacetado, querem ter a funcionar «dentro de dois anos», e de 65 residências turísticas – estúdios e com 1 ou 2 quartos.

O complexo hoteleiro inclui também um clubhouse, um centro de conferências, cinco restaurantes, spa, kids club, um observatório astronómico, piscinas aquecidas e várias outras instalações de lazer e fitness. Esta primeira fase motivará um investimento de 100 milhões de euros.

Mais tarde, na segunda e terceira fases do projeto, serão construídas 12 casas de luxo (de 3 a 6 quartos) e 85 apartamentos e moradias (1 a 4 quartos), para venda.

Para conseguir tudo isto, a Pontos Group terá de contratar muita gente. Na fase de construção, segundo revelou Julio Delgado, administrador do Ombria Resort, serão criados «mais de 700 postos de trabalho» e envolvidas dezenas de empresas.

Mais tarde, quando o complexo estiver a funcionar, serão criados «250 a 300 novos empregos permanentes e diretos», com primazia para quem é da região. O retorno estimado para o Estado português, em impostos, é «de 150 milhões de euros».

Estes números servem para sustentar a afirmação dos responsáveis pelo Ombria Resort e do fundo de investimento que o construirá de que esta é «uma nova geração de empreendimentos turísticos, onde os valores ambientais, sociais e económicos são prioritários».

«Eu estou cá no Algarve desde a aprovação do master plan, em 2008. A primeira coisa que fizemos foi contratar uma empresa especializada em ambiente, a Ambientar, cujo presidente é o Miguel Castelão, revimos todas as questões ambientais e fizemos alterações ao plano. Queremos garantir a sustentabilidade do aquífero, pelo que tivemos de lidar com as questões da erosão e das árvores, entre outras», enquadrou o Ville Tallbacka, em declarações ao Sul Informação, à margem da cerimónia.

«No que toca à nossa integração na comunidade, temos estradas públicas que dão acesso ao empreendimento, as pessoas não serão impedidas de vir aqui. Ali no topo daquela colina temos Querença. Eu conheço as pessoas que ali vivem há dez anos e é um local fantástico. O que queremos é criar uma interação. Temos ideias, temos o projeto, queremos fazer algo sustentável e contamos com as pessoas de cá para isso. Portugal tem talento excecional nas mais diversas vertentes», segundo o diretor do Ombria Resort.

Além das três centenas de postos de trabalho diretos, o responsável máximo pelo resort da Quinta da Ombria acredita que este projeto irá incentivar o aparecimento de novas empresas de serviços, nomeadamente na área do turismo da natureza.

«Primeiro, procuraremos parceiros a nível local. Se não os encontrarmos, procuramos a nível regional, depois nacional e, só em último caso, fora de Portugal. Já estamos a fazer isso, daí ter frisado os nomes das principais empresas que trabalham connosco, que são todas portuguesas», disse.

«Não seremos nós a vender passeios na natureza, serão as empresas de cá. Também incentivaremos os nossos clientes a conhecer o comércio e restaurantes locais, porque temos de tirar as pessoas daqui. Esta é apenas uma plataforma. Temos de os convencer a ir a Querença, à Tôr, a Salir e a Loulé», acrescentou Ville Tallbacka.

Apesar deste ser um dia de festa, houve lugar para recordar o passado e os muitos anos que este projeto levou para passar do papel para o terreno. Além da polémica em torno das questões ambientais e sociais, levantada por associações ambientalistas e pela sociedade civil, houve um mar de burocracia que Ilpo Kokkila, presidente do Pontos Group, fez questão de recordar.

«Ficámos muito dececionados com a lentidão da burocracia que enfrentámos durante o desenvolvimento do projeto. A cooperação com a Câmara Municipal de Loulé e as autoridades competentes tem sido excelente, mas a forma como a burocracia tem provocado o atraso deste processo é inacreditável. Esta morosidade prejudica gravemente o progresso no país», acusou o investidor finlandês.

E as dificuldades, diz, ainda continuam. «Após mais de 20 anos de trabalho, ainda esperamos pela aprovação final do projeto», revelou.

Ainda assim, Ilpo Kokkila não desistiu, nem pensa fazê-lo, por mais dificuldades que surjam. «Foi esta paisagem, os portugueses e a perseverança finlandesa que nos manteve aqui a tentar, tentar, tentar», ilustrou.

O presidente do Pontos Group também deixou a garantia de que os valores ambientais são para respeitar. «Queremos construir um complexo sustentável e amigo do ambiente. Nunca quisemos fazer algo ao antigo estilo português e desrespeitar a natureza que nos envolve. Queremos oferecer bons empregos e boa vizinhança», garantiu.

Vítor Aleixo, que lidou com este projeto numa fase inicial, durante a sua primeira passagem pela cadeira da presidência da Câmara de Loulé, e acabou por assinar o alvará de construção que permitiu que as primeiras intervenções começassem, em 2015, disse ter «honra e alegria» por ver o projeto andar.

Quanto à burocracia, o presidente da Câmara de Loulé lembrou que este «é um projeto pioneiro», que propôs, «pela primeira vez, fazer uma intervenção desta dimensão num espaço natural em estado puro».

A autorização para o avanço desta obra acontece, acredita, porque este é «um projeto exemplar, que segue todos os padrões de respeito rigoroso pelo ambiente onde está inserido». Isso não significa que Vítor Aleixo passe carta branca aos promotores do Ombria Resort.

«A Câmara não deixará de seguir com muita atenção o modo como se vai desenvolver este empreendimento e a forma como se relaciona  com a envolvente», avisou o presidente da Câmara de Loulé.

Vítor Aleixo deixou ainda uma mensagem para outros potenciais investidores no interior do concelho. «Estamos disponíveis para acolher outros projetos para o interior de Loulé, desde que sigam o exemplo deste e se submetam a todos os trâmites necessários e exigidos por lei», declarou.

Uma posição que choca com o pedido feito ontem pela Associação Almargem, que, ao longo de décadas, vem defendendo que este projeto é uma ameaça para o interior do concelho e para os valores naturais do barrocal, que apelou a Vítor Aleixo e aos membros do Governo que marcaram presença na cerimónia, a secretária de Estado do Turismo Ana Mendes Godinho e o seu homólogo do Ambiente Carlos Martins, para que declarassem «a sua oposição definitiva ao projeto do Vale do Freixo, tendo em conta a imperiosa necessidade em preservar os valores naturais do Sítio Rede Natura 2000 do Barrocal e da área protegida da Rocha da Pena».

Ana Mendes Godinho não apelou a projetos futuros, mas disse acreditar «muito» no projeto da Quinta da Ombria, considerando que «pode ser uma âncora fundamental para a coesão territorial que o interior do Algarve tanto precisa».

Na Quinta da Ombria, os dias continuarão a ser marcados pelo movimento das máquinas e de homens, para que tudo esteja pronto em 2019 e o complexo hoteleiro possa abrir no final desse ano.

 

Fotos: Hugo Rodrigues|Sul Informação e Quinta da Ombria

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