Sindicato acusa Pestana Algarve Race de abusos laborais, empresa nega que trabalhadoras sejam suas

«Retidas e forçadas a trabalhar». É desta forma que o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restauração e […]

«Retidas e forçadas a trabalhar». É desta forma que o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restauração e Similares do Algarve descreve a situação de quatro trabalhadoras que entraram na terça-feira, dia 11 de Julho, ao serviço no hotel Pestana Algarve Race, no Autódromo Internacional do Algarve (Portimão), e que, alega o sindicato, foram «ameaçadas de despedimento e de ficarem sem alojamento» por não terem conseguido concluir a limpeza de cerca de 30 apartamentos do empreendimento turístico.

O sindicato apresentou esta quarta-feira uma queixa à Autoridade para as Condições de Trabalho, onde denuncia a situação laboral das quatro mulheres, bem como a alegada falta de condições de alojamento a que foram sujeitas.

Segundo os sindicalistas, as trabalhadoras vindas da Madeira estão a viver «num apartamento do empreendimento sem as necessárias condições de habitação, sendo-lhes proibido levar comida para o apartamento». Também lhes será negada a possibilidade de «colocar a roupa na lavandaria».

Contactado pelo Sul Informação, Pedro Lopes, administrador do Grupo Pestana no Algarve, esclareceu que não se trata de funcionárias próprias, mas sim de uma empresa de outsourcing a quem foi contratado o serviço de limpeza da unidade hoteleira. «Não sei o que se poderá ter passado com a chefia das quatro trabalhadoras», disse.

Quanto às queixas sobre as condições de alojamento, o administrador do Grupo Pestana estranha que existam, já que estão em causa «apartamentos de um empreendimento turístico de 4 estrelas, que são alugados a clientes por 150 euros ao dia e têm condições espetaculares».

«Nestes casos, são apartamentos que, em vez de ter camas de casal, têm beliches, e levam mais pessoas: em vez de quatro, podem alojar seis ou oito pessoas. Mas têm todas as condições, como uma kitchenette e uma sala», assegurou.

Segundo o sindicalista Tiago Jacinto, as quatro trabalhadoras foram recrutadas na Madeira, com as viagens de avião pagas pela empresa, e, no final do primeiro dia de trabalho, foi-lhes dito, «aos gritos, que estavam despedidas por não terem cumprido o que se esperava delas e foi-lhes exigido que entregassem a chave do apartamento».

«Como não entregaram a chave, mais tarde veio alguém dos recursos humanos dizer que afinal não estavam despedidas», acrescentou.

Pedro Lopes admite, por seu lado, que «possa ter havido gritos», até porque, defende, os trabalhadores do turismo – «não só os nossos funcionários, é algo geral» – estão sob «grande pressão e debaixo de stress» devido à chegada da época alta.

 

Em 2017, disse, esta pressão tem sido maior devido «à grande dificuldade de arranjar mão-de-obra». «Há stress porque as pessoas têm de trabalhar mais horas, embora também recebam mais. Não conseguimos arranjar mais pessoas, mesmo noutros pontos do país. Infelizmente, estamos a poupar nos recursos humanos, mas apenas porque não conseguimos contratar mais pessoas», disse.

O administrador do Grupo Pestana no Algarve lembrou que «há três ou quatro anos, a taxa de desemprego andou perto dos 20%, na região», mas «baixou drasticamente para cerca de 4% este ano». Ou seja, «estamos numa situação de pleno emprego, no setor turístico».

E se, em anos anteriores, foi possível preencher as vagas temporárias do período de Verão com trabalhadores vindos de outras regiões, este ano «o turismo está a bombar em todo o país», o que leva a que seja difícil fazê-lo.

O Sindicato da Hotelaria do Algarve, por seu lado, alerta «para a situação degradante que os trabalhadores do turismo estão a viver, com a brutal regressão das condições de trabalho, o aumento e desregulação dos horários de trabalho, o trabalho forçado e não pago, os salários cada vez mais baixos, a precariedade extrema, o assédio moral e a tortura psicológica».

Segundo os sindicalistas, são muitas as queixas de abusos que lhes chegam. «O maior número são relacionadas com o Grupo Pestana, mas é um problema transversal a todo o setor da hotelaria e do turismo do Algarve». Muitas delas referem-se à «utilização abusiva de pessoal deslocado», que é pressionado a fazer «o máximo de trabalho, sem as devidas condições».

Pedro Lopes diz que, a existirem, essas queixas não chegam à administração do Grupo. «É sempre possível que haja descontentes, mas asseguro que temos uma boa relação com os nossos trabalhadores. Temos cerca de 650 funcionários em permanência e cerca de 1200 na época alta. Este ano, praticamente todos os nossos colaboradores receberam, em média, mais um vencimento de prémio, relativo ao desempenho no ano que passou», assegurou Pedro Lopes.

Por outro lado, garantiu que «quando há greves convocadas por esse sindicato, há muito poucos aderentes», acusando-o de «não gostar do Grupo Pestana» por este ter acordo com o seu homólogo da UGT, já que o Sindicato da Hotelaria do Algarve está ligado à CGTP.

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