Historiador admite que roubo do Pentateuco de Faro pode não ter acontecido

A História conta-nos que o Pentateuco, o primeiro livro impresso em Portugal, numa tipografia de Faro, foi roubado. Mas há […]

A História conta-nos que o Pentateuco, o primeiro livro impresso em Portugal, numa tipografia de Faro, foi roubado. Mas há quem considere que esta história pode estar mal contada.

Especialistas da História do Livro juntaram-se na passada semana em Faro para participar no colóquio “Pentateuco: comemoração dos 530 anos de livro impresso em Portugal” e há, entre eles, quem defenda que a história do roubo deste livro pelo Conde de Essex, em 1596, pode não ser verdade, avançando outras hipóteses para o percurso deste livro, que hoje se encontra na Bodleian Library da Universidade de Oxford, em Inglaterra.

A história atribui a culpa pelo desaparecimento deste livro de Faro ao aristocrata e corsário inglês Robert Devereux, 2º Conde de Essex, que saqueou a cidade algarvia no final do século XVI. Pensa-se que o Pentateuco estivesse entre os livros levados por este corsário da biblioteca do Bispo do Algarve, o que levou a associação Faro 1540 a pedir à Bodleian Library que devolva à capital algarvia este e os outros livros que foram levados na mesma ocasião.

Mas, para Rui Loureiro, do Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes e CHAM – Centro de Humanidades da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (CHAM-FCSH/UNL), esta teoria deixa muitas dúvidas.

«Havia a noção de que o Pentateuco poderia estar ligado ao roubo dos livros pelo Conde de Essex em Faro, mas não há nenhuma documentação, nem na Bodleian Library, nem no resto da literatura ,que associe o Pentateuco a este conjunto de livros. Uma hipótese de trabalho é o livro ter sido levado por alguém, algum judeu que tenha emigrado, obrigado ou por vontade própria, e acabado por ir lá parar», defendeu o investigador.

Este foi apenas um dos temas debatido neste colóquio, onde também foram debatidas «questões ligadas à tipografia, dos caracteres móveis aos computadores», entre outras, segundo a Fundação Manuel Viegas Guerreiro, que apoiou a realização iniciativa.

Em cima da mesa esteve, inclusivamente, a criação de um Museu de Imprensa no Algarve, na antiga tipografia farense União, uma ideia que «foi muito bem recebida pelo CHAM. «Temos todo o interesse em que haja um trabalho de musealização, seja para divulgar seja para recolher e conservar o material que existe», afirmou João Luís Lisboa, subdirector deste centro.

Patrícia de Jesus Palma, dinamizadora do Colóquio, prometeu mais novidades sobre o Museu de Imprensa no Algarve em 2018, quando se completarem os 210 anos sobre a reintrodução da tipografia no Algarve.

Mas deixou, desde já, a ideia que tem para este projeto. «Deve ter uma construção colectiva, interinstitucional e multidisciplinar. Acredito que reunimos no Algarve uma oportunidade única para a musealização da tipografia União. Além do parque gráfico há um importante espólio documental que nos conta a história da imprensa. Esta tipografia, constituída em 1909 pela Diocese do Algarve, insere-se numa autêntica cidadela do conhecimento, uma cidadela espiritual que pode ser percorrida através deste património e destas memórias», considerou Patrícia de Jesus Palma.

O Museu da Imprensa do Algarve contará com o apoio da Direção Regional de Cultura do Algarve e da Câmara de Faro, garantiram durante o colóquio os responsáveis máximos pelas duas entidades, Alexandra Gonçalves e Rogério Bacalhau, respetivamente.

«Não sabemos o futuro sobre as tecnologias no suporte à escrita mas a escrita como meio de comunicação tem um passado a relembrar em Faro e no Algarve. Este modelo pode significar uma nova centralidade na dinâmica da vida cultural e intelectual do Algarve», considerou Alexandra Gonçalves.

Rogério Bacalhau, por seu lado, garantiu que a Câmara «está disponível para colaborar em tudo aquilo que estiver ao seu alcance, nomeadamente na arquitetura e especialidades e também com a museologia».

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