Nova exposição do Museu Nacional de Arqueologia mostra peças pouco conhecidas da Pré-História de Loulé

Os visitantes da exposição «Loulé: Territórios, Memórias, Identidades», que está a ser montada no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa, […]

Os visitantes da exposição «Loulé: Territórios, Memórias, Identidades», que está a ser montada no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa, terão a oportunidade de conhecer peças provenientes do Cerro do Castelo de Corte João Marques, testemunhando a vida dos nossos antepassados pré-históricos, e que vão agora ser expostas pela primeira vez.

Victor S. Gonçalves, comissário científico do Núcleo da Pré-História da exposição, deixa antever um pouco do que se pode esperar nesse núcleo, que envolve a exploração de um território que são três – a Serra, o Barrocal e o Litoral – e dos seus habitantes, que ali viveram entre 6000 e 2000 antes da nossa Era.

A grande maioria desses sítios arqueológicos nunca foi escavada, com exceção de um, que é fundamental. “O Cerro do Castelo de Corte João Marques foi escavado no século XX, em 1978/1979”, recorda.

“Os materiais provenientes deste sítio pertenceram a uma povoação de metalurgistas do cobre. É mesmo dos poucos sítios existentes em Portugal onde há todas as fases da metalurgia. Isto é, há minério de cobre, há pedaços de fundição do cobre, há fornos para fundir o cobre…e depois evidentemente, materiais, artefactos que se inseriram numa rede de comércio local ou mais ampla, abrangendo o sul de Portugal. Portanto, é um sítio de mineradores e ao mesmo tempo de transformadores do minério em metal, um sítio de enorme importância”, explica Victor S. Gonçalves.

Por uma questão de preservação, o Cerro do Castelo de Corte João Marques, no qual existe agora a intenção de voltar a escavar, não é visitável. Por isso, a exposição em preparação no Museu Nacional de Arqueologia será uma oportunidade única para conhecer peças provenientes deste sítio, que vão ser expostas pela primeira vez. Mas existem outras surpresas no núcleo da Pré-História.

“Há também um grande menir amplamente gravado que foi trazido do Museu Municipal de Loulé propositadamente para esta exposição e que será acompanhado de um conjunto de fotografias obtidas através de sistemas digitais de última geração, inclusivamente tridimensionais, que permitem ver gravuras que não são imediatamente visíveis a olho nu. Algumas dessas gravuras, como por exemplo os sóis, são uma representação que encontramos também nas placas de xisto que eram penduradas ao pescoço dos mortos, entre 3200 e 2500 antes da nossa Era – e na exposição teremos um exemplar excecional”, acrescenta o comissário científico do Núcleo.

 

Queijeira proveniente da Corte de João Marques, Ameixial – ©José Paulo Ruas|DGPC

“Teremos também uma queijeira semelhante a outras identificadas na região de Lisboa, no atual concelho de Mafra, e que foram analisadas por um laboratório com o qual fizemos um protocolo e encontrámos dentro dos orifícios restos de matérias gordas do leite, o que comprova que era essa a sua utilização”.

Ainda neste núcleo, vai estar exposta uma peça extraordinária de cerâmica, a bilha de Retorta, em Boliqueime, cujas condições precisas de recolha não se conhecem. Victor S. Gonçalves conta que esta bilha apareceu também por acaso: “havia um padre conhecido, o Padre Semedo de Azevedo, que era um grande colecionador de antiguidades, e os paroquianos tinham por hábito levar-lhe algumas. Desta feita, estava ele numa necrópole romana, com sepulturas romanas por todo o lado, quando avistou um pedaço de barro a sair da terra. Decidiu escavar à sua volta e quando por fim conseguiu desenterrá-lo, era um vaso inteiro do neolítico. É a peça mais antiga que vamos apresentar na exposição”.

A exposição «Loulé. Territórios, Memórias, Identidades» é uma iniciativa conjunta dos Museus Nacional de Arqueologia e Municipal de Loulé, que reúne mais de 500 bens culturais que testemunham os últimos oito milénios de história deste que é o maior e mais povoado concelho do Algarve.

Comissariada por Victor S. Gonçalves, Catarina Viegas e Amílcar Guerra, da Universidade de Lisboa, Helena Catarino, da Universidade de Coimbra e Luís Filipe Oliveira, da Universidade do Algarve, a exposição revela a ocupação humana do território louletano desde a Pré-História à Idade Média.

A data da inauguração da exposição será anunciada no final da semana que vem.

 

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