Futuro Museu de Lagoa vai dedicar espaço à vida e obra de Manuel Gamboa

O futuro Museu Municipal de Lagoa, cujo projeto museológico está agora a ser feito, vai dedicar espaço à vida e […]

O futuro Museu Municipal de Lagoa, cujo projeto museológico está agora a ser feito, vai dedicar espaço à vida e à obra de Manuel Gamboa, que na semana passada foi homenageado pela Câmara, por ocasião do 92º aniversário deste artista plástico lagoense de renome internacional. A garantia foi dada ao Sul Informação por Francisco Martins, presidente da Câmara de Lagoa.

«O futuro Museu terá espaço para Manuel Gamboa e para outras figuras marcantes da identidade do concelho, a vários níveis», acrescentou o autarca. «O objetivo deste executivo municipal é valorizar a sua importância na história do Lagoa, é acarinhar e manter viva a sua obra e a sua memória».

No mandato autárquico anterior, quando a Câmara de Lagoa era presidida pelo social-democrata José Inácio (que agora se recandidata, depois de ter perdido, em 2013, para o socialista Francisco Martins), chegou a haver um compromisso com o pintor e o seu filho para criar uma sala dedicada à sua obra em Carvoeiro, nas instalações da antiga Junta de Freguesia.

O Sul Informação apurou, junto de fontes da autarquia, que a sala sofreu obras e foi preparada para receber parte do espólio do artista, mas entretanto nunca chegou a ser formalizado um protocolo entre Manuel Gamboa e a Câmara Municipal e, com a mudança da gestão autárquica, o projeto foi metido na gaveta.

Questionado pelo nosso jornal sobre a razão pela qual o projeto do anterior executivo nunca foi concretizado, o presidente da Câmara Francisco Martins garante que «o que foi feito antes não passou de uma intenção, que não passou de conversas. Não há nenhum protocolo firmado sobre isso, nunca houve».

«Mesmo quando houve transição da governação de um executivo para outro, nunca essa questão me foi colocada. Por isso, estranho que, em três anos e meio, nunca se tenha falado do assunto e só agora, quando a Câmara resolve homenagear o Manuel Gamboa por ocasião dos seus 92 anos é que o PSD se lembra de vir falar disso», acrescentou Francisco Martins.

Quanto ao projeto do futuro Museu Municipal de Lagoa, que se prevê venha a ter um núcleo dedicado a Manuel Gamboa e à sua obra, o autarca adiantou ao Sul Informação que «o projeto está a ser construído. A Câmara de Lagoa nunca teve técnicos na área da museologia, por isso lançámos um concurso para contratar um técnico nessa área, que deverá estar concluído em breve. Entretanto, contratámos um especialista em regime de prestação de serviços. Um museu é muito mais do que uma casa, por isso, com esta ajuda técnica especializada, o nosso projeto teve uma evolução enorme».

O projeto do futuro Museu de Lagoa, que deverá ter núcleos em todas as freguesias, com a estrutura central a ocupar o edifício dos antigos Paços do Concelho, «será apresentado ainda neste mandato, lá para o final do mês de Setembro», anunciou ainda o presidente da Câmara Francisco Martins.

 

Manuel Gamboa com o presidente da Câmara Francisco Martins e a autora da sua biografia, Maria Helena do Carmo

 

«No meu tempo, não gostavam de quem sabia ler»

A homenagem a Manuel Gamboa, que teve lugar no Convento de S. José, a 24 de Maio, dia do seu 92º aniversário, começou com a declamação de poemas seus (e não só), por Rosa Fonseca e Fátima Pimentel, seguindo-se a atuação do grupo coral da Academia Sénior de Lagoa, que interpretou temas populares.

Teve depois lugar o lançamento do livro biográfico “A Jornada de Mestre Gamboa”, uma biografia escrita por Maria Helena do Carmo e editada pela Arandis Editora. Na obra, a autora conta a vida do artista, desde a sua meninice em Lagoa, quando começou a pegar em pedaços de carvão para desenhar, passando pelos tempos em que foi bolseiro da Fundação Gulbenkian na Alemanha e aí conviveu com alguns dos maiores nomes das artes plásticas portuguesas e internacionais, até ao regresso à sua terra natal e à vida no seu ateliê no Vale d’El Rei.

«Já estou a terminar a viagem», comentou então o artista. Mas o presidente Francisco Martins respondeu, com bom humor: «nem pense nisso! A estação de Estômbar até está fechada!».

A homenagem serviu ainda para assinalar o trabalho incansável de um amigo, «o homem que não deixa esquecer o Mestre Gamboa», ou seja, João Ramos, mais conhecido pelos pseudónimos de João de Lagoa ou de Jomar (no Facebook), que, como seria de esperar, estava presente na sala.

 

Manuel Gamboa a declamar, de cor, três dos seus poemas

Quando lhe pediram para falar, o artista, que já não ouve tão bem como antes, apenas respondeu: «não vou falar sobre mim, a minha obra fala sobre mim». Mesmo sem querer falar sobre si próprio, Manuel Gamboa, filho de uma peixeira que vendia na praça da então vila de Lagoa, ainda recordou: «no meu tempo, não gostavam de quem sabia ler. Sabes ler? Não arranjas emprego, porque és perigoso!». E assim, de uma penada, recordou essa outra memória de Lagoa, terra de grandes proprietários agrícolas, que punham e dispunham sobre a vida de quem precisava de mendigar um trabalho para sustentar a família. Um destino ao qual, com a sua criatividade artística, Manuel Gamboa escapou.

A fechar essa primeira parte da sessão de homenagem, dando mostras de uma memória invejável, Manuel Gamboa declamou, de cor, três poemas seus, um deles escrito quando tinha 18 anos («A Árvore»), bem como, por exemplo, «Bruxa Rosa». Os poemas e a sua declamação emocionaram a sala, mas o pintor fez questão de explicar: «não sou poeta, apenas escrevi muita coisa, à minha maneira. Agradava a uns, não agradava a outros».

Nos claustros do Convento, mais uma surpresa esperava o nonagenário artista: um bolo e os parabéns mais uma vez entoados pelo coral da Academia Sénior, ao qual se juntaram as vozes de dezenas de amigos. Apoiado no andarilho (porque se a cabeça está a 100%, o corpo já vai acusando os seus 92 anos…), Manuel Gamboa a todos acenou, com um sorriso rasgado no rosto.

Resta agora esperar para conhecer a proposta de homenagem mais duradoura que o futuro Museu Municipal de Lagoa vai fazer a Manuel Gamboa.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues|Sul Informação

 

 

BIOGRAFIA:
(segundo o blogue mgamboa, em texto da autoria de João de Lagoa)

Manuel Rosário Gamboa das Neves nasceu a 24 de Maio de 1925, em Lagoa, Algarve.

Viveu em Lisboa, em casa de seu pai, desde 1932 a 1944 e volta para o Algarve, aos 19 anos, de onde parte, rumo a Marrocos, onde permanece durante apenas um ano.

Artista plástico vocacionado, desde a infância pré-escolar, revela tendências imperativas para o desenho e a pintura.

Autodidata com elevado grau de exigência técnica e estética, inicia a carreira artística nos anos 50, frequentando os meios culturais e ateliers de vários artistas de Lisboa, salientando-se Artur Bual, Francisco Relógio, Rui Filipe, os irmãos Bronze, Charrua, M. Cargaleiro, D’Assumpção, Gonçalo Duarte, Figueiredo Sobral, Mário Silva e Hilário Teixeira Lopes …e com algumas das mais sólidas referências tradicionais, do modernismo e do futurismo, como Abel Manta, Jorge Barradas e Almada Negreiros.

Mantém convivência estreita com poetas e escritores seus contemporâneos, como Manuel de Castro, J. Pressler, Herberto Helder. David Mourão-Ferreira e Natália Correia, lado a lado com Virgílio Ferreira e Sttau Monteiro, Aquilino e Tomaz de Figueiredo.

Em princípio de carreira, foi subsidiado pela Fundação Calouste Gulbenkian nos seus estudos e aprendizado e, em 1960, visita Paris, onde vive temporariamente em casa do pintor D’Assumpção.

Ao longo da sua obra, resultante heterogénea de imensa produção, cultiva dominantemente a Pintura, o Desenho e a Escultura, mas experimenta e, pontualmente, ensaia ou realiza, trabalhos, em quase todas as modalidades plásticas e visuais: cerâmica, tapeçaria, arte pública e monumental.

A sua obra gráfica é particularmente apreciável, quer no desenho, quer na gravura (linóleo, serigrafia), na monotipia e no batik (pintando sobre tecidos, em modelos originais de vestuário).

Perdidas, muitas vezes, sob o aspeto injusto do anonimato, são notáveis algumas das suas criações gráficas no campo (outrora menor) da ilustração da caricatura e do humorismo (cartoon) ou, mais esporadicamente, do grafismo mural e do cartaz.

Em 1964, assumindo uma recomendação do escultor e ceramista Hein Semke (radicado em Portugal) instala-se em Hamburgo, onde se fixa, frequenta o meio sociocultural e exerce intensa atividade artística profissional, permanecendo na Alemanha, até 1987.

Desde 1960 a 1964, dedicou-se ao estudo da História de Arte, frequentando ciclos de conferências-livres e seminários, na Universidade de Hamburgo.

Em finais dos anos 80, regressa a Portugal, construindo a sua casa-atelier em Vila d’el-Rei – Lagoa, sua terra natal.
Neste retiro – à margem do calendário – prossegue, dia-e-noite, o incessante trabalho a que consagrou, já (ou só, ainda!), nove décadas de ímpar existência, construindo o monumento poético de um verdadeiro cântico à vida.

 

A única peça escultórica de Manuel Gamboa na cidade de Lagoa repousa entre automóveis no parque de estacionamento junto às piscinas

PRINCIPAIS EXPOSIÇÕES
INDIVIDUAIS

Pintura e Desenho, Galeria Diário de Notícias (apoio Fundação Calouste Gulbenkian) – Lisboa, 1959
● Bücherhalle (1.ª individual alemã) – Altona Hamburgo, 1964
● Galerie Latin – Hamburgo, 1966
● Galerie Die Brücke – Bielefeld, 1967
● Palmengarten – Frankfurt, 1968
● Pintura e Tapeçaria, Palácio Foz (ex-SNI) – Lisboa, 1969
● Pressezentrum (apoio Cônsul de Portugal Dr. Grainha do Vale) – Hamburgo, 1972
● Galeria Zeitgenossishe Kunst (intervenção pictural em fotografia original de Rui Santos) – Hamburgo, 1973
● Arte Invervenção / patrocínio jornal DKP (protesto contra especulação imobiliária e o desalojamento compulsivo de residentes) – Eppendorf, 1976
● Galeria Werkstatt (iniciativa cultural da Goldbekhaus, intervenção do caricaturista Karl Schoenfeld) – Hamburgo, 1977
● Galeria Metzner – Hamburgo, 1979; 1981
● Ahrensburg Rathaus / Salão Nobre (intervenção do Prof. Dr. Konrad Dilger, do Max Blank Institut) Ahrensburg, 1981
● Retrospectiva – Sporthotel Quickborn, (homenagem cultural organizada pela Câmara Municipal de Lagoa) 1984
● Galeria Stüdio – Rastede, 1984
● Pintura e objectos, Galeria Atelier 1 – Hamburgo, 1986
● Desenho (tinta da china), Aguarela e Objectos, Galeria Ingo Faerber – Ahrensburg, 1987
● Pintura e Objectos, Lãngste Galerie Hamburgs – Hamburgo, 1987
● Kunstmeile Eppendorfer – Hamburgo; 1988
● no âmbito do evento anual FATACIL – Lagoa, 1990
● Almadarte Galeria – Costa de Caparica; 1994 e 1995
● Museu de Arqueologia (convite do Arq.to Varela Gomes), Silves – 1995
● Retrospectiva (homenagem 70º aniversário, promovida pela Câmara Municipal de Lagoa, organizada pela Casa da Cultura, Convento de S. José, na Galeria de exposições temporárias a que fica atribuído o seu nome) – Lagoa, 1998
● Galeria Santiago – Palmela; 1999
● Galeria de São Bento, Lisboa, 1999
● Galeria Municipal Artur Bual – Amadora, 2005

 

ALGUMAS EXPOSIÇÕES
COLETIVAS, CONJUNTAS E DE GRUPO

Inicia carreira, em 1950, exibindo trabalhos entre amigos e aproveitando as escassas oportunidades de exibição pública em mostras privadas e de grupo
● Acede aos escassos e restritos meios de então e concorre a certames colectivos, em Lisboa
● Revela-se na Casa dos Estudantes do Império e participa na Exposição Itinerante de Artistas Modernos emergente de acções promovidas por iniciativas afectas aos movimentos culturais das pró-Associações e Associações de Estudantes das Universidades Clássica, Técnica e Politécnica de Lisboa, alargados a Almada e Setúbal…
…expõe em salões, certames e exposições coletivas promovidas em Lisboa: na sede do Sport Lisboa e Benfica (Baixa lisboeta)
● no Teatro Apollo
● e no Teatro de Maria De Lacosta, (S. Paulo / Brasil), tornando-se um dos mais assíduos colaboradores, desde 1950
● Exposição de Artes Plásticas das Associações dos estudantes de Lisboa.
● 1º Salão de Arte Moderna da Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa, 1958
● “50 Artistas Independentes”, Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa, 1959
● Participa na exposição com o pintor D’Assumpção e o caricaturista Benjamim Marques 1960
● Galerie Café Latin, Hamburgo. Exposição com Franz Pozar, no âmbito da Semana Internacional do Filme – Stadthallen, 1966
● Studio Galerie, Lubeck. Exposição itinerante de Arte Moderna Europeia (Madrid, Tóquio, etc.), 1966/68
● Galeria Mensch, Hamburgo, 1966
● “Maias para o 25 de Abril”, Galeria S. Mamede, Lisboa; 1974 ● Galeria Schnecke, Hamburgo; 1977
● Participa em entre 100 artistas, numa exposição de pintura Desenho, Escultura, Colagem, Fotografia e Gravura, condenatória da utilização indevida da energia atómica, Hamburgo, 1978
● 1″ exposição itinerante Mundial de Artistas contra a Energia Atómica. Galeria Stange, Hamburgo; 1981
● Galeria Kunstverein, Hamburgo, 1984 e 1988 – 2º Aniversário da Almadarte Galeria, Costa da Caparica; 1989
● Organiza e participa na I Anual de Arte Moderna, promovida pela Câmara Municipal de Lagoa, Palacete Cor-de-rosa, Lagoa. Almadarte Galeria, Costa da Caparica
● Forum, Lisboa; 1990 ● Galeria Almadarte, Exposição – Outono, Costa da Caparica;
● “Abril – Amadora”,Galeria Municipal da Amadora, acervo da Almadarte, Amadora 1991
● Exposição Internacional no Convento de São José, Lagoa; 1991
● Homenagem ao pintor D’Assumpção, Galeria Municipal de Portalegre; 1992
● Inauguração no Convento de São José como organismo cultural da Câmara Municipal de Lagoa; 1993
● organizada pela Almadarte Galeria, na Galeria Municipal de Pombal; 1994
● Galeria do Casino Park Hotel, Madeira organizada pela Almadarte, Funchal, 199?
● Galeria Municipal de Pombal organizada pela Almadarte Galeria na.
● Artistas Algarvios organizada pela Casa do Algarve de Almada; Almada, 1995
● Galeria São Pedro, Faro. 199? ● Santiago Galeria, Palmela. 199?
● Homenagem da Câmara Municipal de Lagoa 1997
● “In Principio” COLETIVA DE PINTURA E ESCULTURA SANTIAGO Galeria de arte – Palmela, 1998
● Galeria de Exposições Direção Geral da Administração da Justiça, Lisboa. 2004
● Feira de Arte do Estoril 2005

 

BIBLIOGRAFIA passiva

José-Augusto França «Pintura Portuguesa» referência Lisboa, 1957
Fernando Pamplona «Dicionário de Artistas Portugueses» referência – Ed. Lisboa, 19
Margarida Botelho «80 Artistas em Portugal» referência capitular – Lisboa, 1991
Joaquim Saial «MANUEL GAMBOA – a arte por vida» Ed. C.M. de Lagoa, 1998
Jean-Pierre Blanchon «Guia do Investidor 1999/2000» referência Estar Ed., Lisboa, 1999
José-Luis Ferreira «GAMBOACÂNTICO À VIDA» Ed. C.M.L./Conv. S.José – Lagoa, 2005
Maria Helena do Carmo, «A Jornada de Mestre Gamboa», Arandis Editora, 2017

 

HEMERÓTICA

Recensões críticas, prefácios/catálogos, depoimentos autores portugueses e alemães de relevância (ordem alfabética)

A. Zum Winkel ● Abílio Febra ● C. O. F. ● Cátia Mourão ● Dieter Thiele ● Dietrich Schellert ● Eduardo Nascimento ● Elisabete Rodrigues ● F. Barrento ● Fernando Ilharco Morgado ● Guilhermina Bual ● H . T. Flemming ● H. Ehlers ● H. Minemann ● J. Pamplona ● J-L. Ferreira ● João de Lagoa ● Joaquim Saial ● José-Augusto França ● Kristina Ohlmeier ● Luís Carvalho ● M. Rodrigues Vaz ● Manuel Baptista ● Manuel Gomes Soares ● Maria João Fernandes ● Mário Elias ● Nuno Chuva Vasco

 

PRÉMIOS & DISTINÇÕES

HOMENAGENS:

Ahrensburg Rathaus / Salão Nobre (com uma intervenção do Prof. Dr. Konrad Dilger, do Max Blank Institut) Ahrensburg 1981
Município de Lagoa 1982
Sala de Exposição Temporárias do Convento de São José Casa da Cultura de Lagoa

MEDALHAS:

Medalha de Mérito Municipal de Lagoa 1983
Medalha de Prata Filho Ilustre de Lagoa

PRÉMIOS

Prémio de Artes e Letras de personalidades do Algarve.
Prémio da AIRA (Associação da Imprensa Regional do Algarve); 2001
Prémio INTERPARES (Magazine do Algarve), 2002

in BOSTON MUSEUM (USA) – “O Farol de Cacilhas”

 

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