Zona Ribeirinha de Olhão será “revolucionada” sem esquecer o passado

É uma revolução, mas não daquelas que corta com o passado. O plano para a zona ribeirinha de Olhão, cujo […]

É uma revolução, mas não daquelas que corta com o passado. O plano para a zona ribeirinha de Olhão, cujo projeto foi apresentado esta quinta-feira, preconiza mudanças significativas, sobretudo na organização e imagem das três zonas a intervencionar – Avenida 5 de Outubro, Jardim Pescador Olhanense e Jardim Patrão Joaquim Lopes -, mas preserva muito do que já existe nestes locais, desde as esplanadas e lugares de estacionamento da avenida, aos monumentos, elementos identitários e árvores dos jardins.

Como se percebe, o trabalho da equipa liderada pela arquiteta paisagista Amélia Santos, que dá nome ao gabinete projetista sediado em Faro que elaborou a proposta de plano, não foi fácil. Isto porque havia muitos problemas a resolver, com a mobilidade à cabeça, mas também a imagem e estética dos diferentes espaços a requalificar, aliadas a mais-valias a manter, que passam, em grande medida, pela identidade deste local emblemático de Olhão e por vários elementos arquitetónicos já existentes, que são para preservar.

Ontem, foram muitos os olhanenses que fizeram questão de marcar presença na apresentação pública do projeto. Uma adesão que seria de esperar, já que se está a falar de um espaço multifuncional, que alia atividades económicas ao lazer, que se desenvolvem em torno do grande ex-libris de Olhão: os Mercados Municipais. E tiveram a oportunidade de ver, em primeira mão, um vídeo que mostra como será a zona após a intervenção.

 

Veja o vídeo que mostra a futura zona ribeirinha de Olhão:

 

A requalificação desta zona da cidade de Olhão tem um custo estimado de 1,5 milhões de euros e será levada a cabo pela Sociedade Polis Ria Formosa. «Vai ser usado o capital social que a Sociedade tem para realizar obras em Olhão. Falta ainda alguma verba que a Câmara ainda terá de colocar. A nossa expetativa é que as obras venham a ser postas a concurso em Abril, mas que a sua execução só comece em Outubro, pois não queremos entrar em obras em pleno Verão», revelou o presidente da Câmara de Olhão António Pina, à margem da sessão.

Neste plano, não está prevista qualquer intervenção nos Mercados, que, garantiu o edil olhanense, «se manterão sem alterações, com a mesma função de sempre», mas o que será feito pode influenciar a dinâmica destas estruturas. Talvez por isso, e apesar da equipa projetista ter assumido que fez o plano a pensar na componente humana e dando ênfase à circulação pedonal, o número de lugares de estacionamento poderá manter-se, se essa for a opção da autarquia.

O plano prevê três corredores distintos, um de esplanadas, que terão, no máximo, quatro metros desde o limite do edifício, uma zona pedonal, em laje, para facilitar a mobilidade, e a estrada em si, que deixará de  ter os atuais 6,8 metros da faixa de rodagem atual mais os 2,2 metros do estacionamento paralelo para passar a ter 5,5 metros. Ou seja, os peões “ganham” mais 3 metros e meio para circular.

 

Alternativa de circulação e esquema 5 De Outubro

 

O projeto para a Avenida 5 de Outubro, que de um lado tem os jardins e os mercados, e, do outro, estabelecimentos comerciais, na sua larga maioria de restauração, também se destaca pela sua versatilidade. O plano prevê a redução da largura da estrada, de modo a ganhar espaço de circulação pedonal do lado dos restaurantes, mas mantém todos os lugares de estacionamento em espinha que hoje existem (do lado do jardim).

No que toca à circulação, a estrada será pensada de modo a poder comportar diversas modalidades: dois sentidos de trânsito, sem estacionamento paralelo (do lado dos restaurantes), apenas um sentido de trânsito, com ou sem estacionamento paralelo ou mesmo sem trânsito.

E se hoje esta última opção parece desconfortável, dada a clara distinção entre a zona de circulação pedonal e a estrada, no futuro não será assim. «Vamos proceder ao nivelamento dos pavimentos, para garantir uma melhor ligação Norte-Sul», revelou Amélia Santos. Ou seja, a estrada estará ao mesmo nível dos passeios e das esplanadas.

Outra medida central do plano para esta avenida é a uniformização da imagem e sinalética dos muitos restaurantes que aqui existem. No fundo, preconiza-se «uma liberdade controlada» para quem ali tem o seu negócio, possibilitando a escolha entre diferentes tipos de sombreamento (toldos, sombrinhas, misto) e de tapaventos (segmentado, contínuo, contínuo com floreiras).

Ainda assim, o tipo de material utilizado terá de ser o mesmo e há regras a cumprir ao nível do ordenamento das esplanadas. Também há uma palete pré-definida das cores a usar e a obrigatoriedade de colocar na parte de baixo dos tapaventos imagens evocativas de Olhão de antigamente.

 

Jardim Pescador Olhanense

Jardins da zona ribeirinha “atiram-se” à Ria

A visão que o grupo projetista tem para os dois jardins que ladeiam os Mercados de Olhão assenta, em grande medida, na lógica que foi utilizada na avenida com a qual confinam: há que pegar no que já lá está e dar-lhe coerência e elementos de ligação. Por outro lado, há a vontade de ligar estes dois espaços públicos à Ria Formosa.

Aqui, as grandes novidades são os dois novos estabelecimentos de restauração e bebidas, a criar no Jardim Patrão Joaquim Lopes, um próximo dos Mercados, o outro na zona de acesso ao Cais do T, de embarque para as ilhas. Também haverá uma nova bilheteira, «com a forma de um barco», e novas estruturas para a informação turística e para a gelataria que já ali existe. Em todos estas estruturas, irá dominar o tema náutico e a madeira.

De caminho, o projeto prevê a retirada do murete que hoje existe no limite dos jardins, junto à Ria Formosa. Serão, inclusivamente, criadas estruturas no atual passeio ribeirinho que se projetam sobre a ria, duas no lado Poente (Pescador Olhanense) e outra no lado Nascente, como continuidade do monumento ao homem que dá nome ao jardim. O posto de combustível vai desaparecer.

Uma zona sombreada antes do pontão de acesso ao Cais do T, a junção dos dois parques infantis no Jardim Pescador Olhanense e a instalação de espreguiçadeiras em madeira, igualmente a Poente dos Mercados, são outras novidades a ter em conta.

 

Jardim Patrão Joaquim Lopes

 

A vegetação existente irá manter-se e até «será reforçada». Também se mantém o café que já existe no Jardim Patrão Joaquim Lopes, ainda que se tenha de adaptar à nova imagem do espaço, e a estação elevatória, do lado Poente, que será “disfarçada” com elementos em madeira e ferro, «a remeter para a arquitetura dos Mercados Municipais».

Propostas que, em alguns casos, motivaram reações de desagrado de alguns dos presentes, mas que também foram elogiadas por elementos da plateia. No período de questões e contributos que se seguiu à apresentação, a principal dúvida esteve ligada aos lugares de estacionamento e à possibilidade de a Avenida 5 de Outubro funcionar apenas num dos sentidos. Neste campo, António Pina assegurou que qualquer decisão no que se refere ao tráfego «será alvo de um estudo cuidado» e que abrangerá «a zona da cidade a sul da linha férrea».

A necessidade de preservar elementos que já existem nos jardins também foi defendida. No campo das dúvidas, sentiram-se, essencialmente, na altura em que foram apresentadas as ideias para o Jardim Pescador Olhanense, que será aquele que sofrerá mais alterações. O coreto fica, mas as zonas ajardinadas vão ser relocalizadas, deixando um espaço para dois anfiteatros ao ar livre, entre outros elementos.

«Acho que este é um excelente projeto, que dignifica muito a nossa frente ribeirinha e a projeta para ser uma das principais zonas ribeirinhas do Algarve para os próximos 20 anos», considerou António Pina.

 

Veja aqui algumas das imagens do projeto:

Imagens do Gabinete de Projetos Amélia Santos, cedidas pela Câmara de Olhão

 

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