“Festival Pirata” gera discórdia em Armação de Pêra

O “Pirate Week – Festival Pirata”, evento de animação com teatro, música e circo, que se tem realizado desde há três […]

O “Pirate Week – Festival Pirata”, evento de animação com teatro, música e circo, que se tem realizado desde há três anos, no mês de Agosto, em Armação de Pêra, está a gerar polémica. Comerciantes locais promoveram um abaixo-assinado, onde dizem, entre outras coisas, estar contra o mês de realização do certame, preferindo que este decorresse na época baixa do turismo.

Já a Associação “Polis Apoteose”, organizadora do evento, alega que o abaixo-assinado «não tem expressão nenhuma».  Apesar de não garantir se o evento se vai realizar este ano, promete «estar aberta a mudar a data» da realização do “Pirate Week” «em altura própria».

Bruno Alves, da Polis Apoteose, revelou em entrevista ao Sul Informação que se estão ainda «a definir os moldes e a forma do evento», estando até a ser equacionado se o Festival Pirata continuará a ser realizado em Armação de Pêra ou noutro local. As decisões serão conhecidas «nos próximos dois meses», garantiu.

No total, o abaixo-assinado, que também protesta contra «outros eventos similares organizados e geridos para as épocas sazonais por organizações privadas», foi assinado por 35 pessoas, na sua maioria proprietárias de alguns dos mais conhecidos restaurantes, pastelarias e lojas de Armação de Pêra.

António Caixinha, proprietário da N’ice Cream e do Restaurante Pipa, dois estabelecimentos situados na frente de mar de Armação de Pêra, é um dos signatários. Em declarações ao nosso jornal, garantiu que está «contra a data, mas não contra a realização do “Pirate Week” em si».

«Se fosse em Maio ou Outubro, estaria de acordo, porque é preciso trazer pessoas para cá nessa altura. Por exemplo, eu estive aberto em Outubro, Novembro e Dezembro e perdi dinheiro. Não há ninguém cá nestas alturas», acrescentou.

A escolha do mês de Agosto como altura para realização do “Pirate Week”, que tem gerado descontentamento, é justificada por Bruno Alves por questões de «notoriedade e visibilidade». «Achámos fundamental usar o pico do Verão como janela de mostra do evento para uma fase de desenvolvimento», explicou.

Um outro comerciante, signatário do abaixo-assinado, que não quer ser identificado, considerou, contudo, que o certame não leva mais pessoas a Armação de Pêra, dado que essas… «já cá estão» em Agosto. No seu entender, a aposta deveria ser, por exemplo, em eventos que proporcionassem «um bom Carnaval ou uma boa Páscoa» na vila balnear.

Bruno Alves, pelo contrário, defende que o objetivo não é «trazer mais pessoas, mas dar algo às pessoas que já cá estão. Durante o Verão, não existe grande oferta. Nós queremos combater isso e criar um evento que seja uma referência».

Restaurante “A Pipa”, ao fundo, a vermelho, com palanque em frente

Em declarações ao Sul Informação, Rosa Palma, presidente da Câmara de Silves, contrariou estas afirmaçoes do dirigente da Polis Apoteose, sublinhando que, na época alta, há «várias atividades em Armação de Pêra», como aulas de aeróbica ou iniciativas culturais para «poder oferecer às pessoas».

Outro dos problemas que o “Pirate Week” tem levantado, na ótica dos comerciantes, é o facto de as bancas de venda ambulante, assim como outros materiais, ocuparem o espaço público, por vezes situando-se mesmo à frente dos estabelecimentos de comércio já existentes.

António Caixinha conta, por exemplo, que, na última edição do evento-, em 2016, «foi montado um palanque e um gerador» em frente ao seu restaurante, «que impedia as pessoas de trabalhar».

Bruno Alves, da Polis Apoteose, confirmou que «podem ter existido casos pontuais» em que bancas tenham ficado à frente de outros estabelecimentos, mas garante que «na generalidade» tal não aconteceu.

A polémica gerada por este evento prende-se, ainda, com os expositores que participam no “Pirate Week”, já que a acusação dos comerciantes é que a grande maioria é gente que vem de fora. Bruno Alves admite que muitos são «de fora do Algarve», sendo pessoas «com experiência neste tipo de eventos e quem já sabem como funcionam».

Mas a questão dos comerciantes de Armação é a recusa da organização do Festival Pirata em aceitar a participação de lojistas e vendedores locais. O Sul Informação teve acesso a um e-mail, em que a Polis Apoteose recusa a participação da loja Ametista, de artesanato, na edição de 2016. Os motivos alegados são «repetição de produtos, histórico de participação ou carência dos cumprimento dos requisitos aplicáveis à tipologia de atividade em causa».

Confrontado com esta questão, Bruno Alves continua a insistir que é «dada sempre primazia aos locais», sendo que os «casos pontuais de recusa» prenderam-se com o «prazo de candidatura», algo que não é dito no email acima citado.

Este membro da “Polis Apoteose” vai mais longe e conta que, em 2016, houve quatro comerciantes de Armação de Pêra inscritos, «dos quais só um participou porque os outros desistiram». Em 2015, tinha havido «dois inscritos a participar». A recusa pode estar relacionada com o facto de «os comerciantes terem de trazer estruturas», explica.

Voltando à época de realização do “Pirate Week”, a presidente da Câmara Rosa Palma revelou ao nosso jornal que o executivo municipal  tem «mostrado, e passado várias vezes a mensagem à associação, de que também não está de acordo com a data de realização do evento».

Apesar disso, o apoio da Câmara de Silves tem sido dado todos os anos, nomeadamente na isenção do pagamento de taxas de ocupação de espaço público aos expositores e comerciantes. «Estamos a abdicar de cerca de 15 mil euros», adiantou a autarca.

No entanto, a própria associação Polis Apoteose não tem estado a cumprir as condições a que estava obrigada, para poder receber o apoio da autarquia.

Num documento que o nosso jornal consultou, assinado pela edil silvense, datado de 22 de Dezembro, é dito que a 16 de Setembro foi pedido à “Polis Apoteose” que «remetesse ao Município de Silves, no prazo de 10 dias úteis, os relatórios do “Pirate Week”, de 2015 e 2016, contendo, pelo menos, informação sobre receitas e despesas do evento, discriminadas de modo percetível, número de expositores e comerciantes, participantes no evento e valor da joia de inscrição cobrada a cada um deles».

Foi, ainda, solicitado o «número de visitantes do evento e mecanismos utilizados para a sua contabilização e medidas adotadas para prevenção de riscos e garantir a segurança de pessoas e bens». Só que, até à data do documento, «nenhuma informação tinha sido remetida ao Município de Silves».

Uma situação que, garantiu Rosa Palma, permanece igual. Ou seja, a Polis Apoteose continua a não fornecer as informações pedidas pela Câmara.

Confrontado com isto, Bruno Alves disse que o relatório de atividades da edição passada «será apresentado na próxima Assembleia de Freguesia» de Armação de Pêra, que ainda não tem data marcada. Aliás, a outra grande apoiante do Festival Pirata tem sido precisamente a Junta de Freguesia de Armação de Pêra, que é presidida por Ricardo Pinto, do PSD.

«Em todas as edições fizemos, ainda, uma reunião com os parceiros que nos apoiam e, em 2015, fizemos um evento aberto ao público, onde apresentámos o relatório», acrescentou Bruno Alves.

Mas a polémica não termina aqui. António Caixinha avançou ao Sul Informação que os comerciantes estão a ponderar apresentar uma queixa-crime contra a associação por ter divulgado o abaixo-assinado, com os números do Cartão de Cidadão dos signatários, atitude que dizem ser ilegal.

Como consequência de toda este imbróglio, ainda não se sabe se este Verão haverá ou não Festival Pirata…em Armação de Pêra ou noutro local.

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