«Desassossego» do diretor da Cadeia de Silves envolve a comunidade nas obras necessárias

«Ele desassossega toda a gente, está sempre a inventar coisas. Mas, como se diz no futebol, estas são dores de […]

DSC_0168 (Custom)«Ele desassossega toda a gente, está sempre a inventar coisas. Mas, como se diz no futebol, estas são dores de cabeça boas para o treinador». As palavras são do diretor geral de Reinserção e Serviços Prisionais a propósito do diretor do Estabelecimento Prisional (EP) de Silves, que, esta quarta-feira, inaugurou a nova portaria avançada e parlatório e a Sala de Formação.

O diretor geral Celso Manata referia-se ao trabalho incansável de Ricardo Torrão, o diretor da Cadeia de Silves, que, como admitiu Joaquina Matos, presidente da Câmara de Lagos, também presente na cerimónia, «está sempre a desafiar-nos, a nós municípios e às empresas da região, para participarmos nos projetos de melhoramento» do EP silvense, que acolhe reclusos de todo o Barlavento algarvio.

Nas obras que foram ontem inauguradas pela secretária de Estado Adjunta e da Justiça, o EP de Silves contou assim com a ajuda da Associação Terras do Infante, que integra os municípios de Lagos, Vila do Bispo e Aljezur, bem como da Câmara Municipal de Silves e de empresários da região.

Os empresários «encheram as placas de betão» das novas salas, enquanto «o mobiliário para a sala de formação, que também será sala de visitas, foi doado pelo administrador de um hotel, o Vila Vita».

E o mais engraçado é que, como salientou Celso Manata, até o arquiteto que fez os projetos das novas salas da Cadeia de Silves «é da casa». Trata-se de um Guarda Prisional, Bruno Carvalho de seu nome (mas que é do Benfica…), que já tinha sido o responsável pelo projeto dos melhoramentos no EP de Olhão, recentemente inaugurados pela ministra da Justiça, e que, além de Silves, está agora também à frente dos projetos do EP de Pinheiro da Cruz, na Costa Alentejana.

 

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A nova sala de espera, junto à portaria avançada

Ricardo Torrão, diretor do EP de Silves, explicou ao Sul Informação a importância das obras agora inauguradas: «construímos uma Sala de Formação, que também vai servir como sala de visitas, para substituir outra sala de visitas que tínhamos antes, com uma área muito mais reduzida, sem condições, nem para os reclusos, nem para as famílias». Quanto à portaria avançada, dotada de maior segurança e comodidade, mesmo para os Guarda Prisionais, conta ainda com uma «sala de espera para os visitantes». É que, até agora, os visitantes tinham que ficar à espera ao ar livre ou abrigados num pequeno alpendre.

Muito orgulhoso pela obra feita, Ricardo Torrão fez questão de salientar que a mão de obra usada na construção é dos próprios reclusos.

A Cadeia de Silves tem 68 reclusos, todos homens, entre presos preventivos e outros condenados com penas leves, do Algarve. Desses, quem quiser frequenta a formação profissional garantida pelo Centro Protocolar de Justiça, ao nível da construção civil e da informática. Em qualquer dos casos, trata-se de «formação certificada, que pode ser uma ferramenta muito importante para estes homens, quando daqui saírem».

«Juntámos o útil ao agradável: os reclusos podem ser formados, tendo a sua parte teórica e prática, mas saem daqui com formação certificada», sublinhou Ricardo Torrão.

O guarda prisional e arquiteto Bruno Carvalho reforça: «muitos dos reclusos participam nas obras, porque não só ganham experiência, como se sentem úteis. Há alguns que me andam sempre a pedir para os pôr a trabalhar».

 

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A nova sala de formação e de visitas

 

Além da formação profissional, os reclusos podem também fazer ou concluir o seu ensino básico e secundário enquanto estão detidos. Para isso, o EP de Silves tem um protocolo com a Escola Secundária da cidade, que disponibiliza sete professores para darem aulas de Inglês, Português, Informática e Educação Física.

No total, revelou o diretor, «há sempre entre 15 a 20 reclusos a fazer formação», o que é considerado um número «muito bom».

Mas, salientou Ricardo Torrão, aos reclusos é ainda garantido apoio psicológico, graças a um protocolo com a Câmara de Silves, que disponibiliza a sua psicóloga, ou com a Cruz Vermelha de Albufeira e Silves, que garante os serviços de uma psicóloga criminal. Da Câmara de Silves, além do já referido apoio nas obras, ao nível da supervisão técnica, das ligações de água, na parte elétrica, o protocolo garante ainda o acesso dos reclusos à Biblioteca Municipal.

A Cruz Vermelha assegura também Musicoterapia, com um músico que se desloca ao EP, e ainda formação sobre Cidadania, assegurada por voluntários.

Por outro lado, segundo Rui Paixão, da CVP de Albufeira e Silves, «quando os reclusos saem, damos-lhes apoio ao nível do vestuário, da alimentação, às vezes da mediação na resolução de situações de dívidas», entre outras situações. O objetivo é contribuir para que, uma vez cá fora, eles não reincidam nos erros que os levaram à cadeia.

Nas obras da portaria, sala de espera e sala de formação e de visitas inauguradas na quarta-feira, o diretor do Estabelecimento Prisional de Silves estima que tenham sido gastos 50 mil euros, embora saliente que, «porque houve muita gente a ajudar e a colaborar», seja difícil dar uma estimativa exata.

Mas não se pense que os planos de Ricardo Torrão ficam por aqui. Fazendo jus à sua fama de «desassossegado», ele já tem projetos para construir uma oficina laboral, que deve avançar em breve, como foi garantido pela secretária de Estado no seu discurso, bem como uma sala de refeições para os trabalhadores. «Vamos voltar a pedir o envolvimento da comunidade e será mais um ano de construção», disse ao Sul Informação, com um sorriso.

Rosa Palma, presidente da Câmara de Silves, assegura o interesse da autarquia em manter este «trabalho de cumplicidade». «O senhor diretor está sempre cheio de projetos e nós, até agora, temos sempre dado resposta. Pretendemos manter uma colaboração muito próxima com o EP», garantiu a autarca em declarações ao nosso jornal.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues|Sul Informação

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