Reportagem: “Nuestros Hermanos” invadiram VRSA e tinham polícia espanhola à espera

A baixa de Vila Real de Santo António está cheia de gente e é raro ouvir-se falar português. É 12 […]

PSP Policia espanhola VRSA (6)A baixa de Vila Real de Santo António está cheia de gente e é raro ouvir-se falar português. É 12 de Outubro, dia da Feira da Praia, que coincide com o feriado nacional do outro lado da fronteira e, por isso, há romaria de muitos espanhóis à cidade pombalina.

A PSP sabe que, com tanta gente na cidade, há quem tente aproveitar-se de uma qualquer distração para furtar uma carteira ou um telemóvel. Consta que, em anos passados, vinham carteiristas de Lisboa até ao Algarve para este dia específico. Por isso, nas ruas, há agentes à paisana, polícia de intervenção e um reforço especial vindo de Espanha: dois agentes do Corpo Nacional de Polícia (CNP) espanhol também estão a patrulhar a cidade, na companhia de agentes da polícia portuguesa.

À medida que andam pelas ruas, os polícias espanhóis – e os portugueses por “arrasto” – parecem estrelas de televisão: há olhares dos trauseuntes, que comentam a sua presença, e, alguns mais afoitos, abordam-nos, para perguntar o que fazem ali, do lado de cá da fronteira.

 

PSP Policia espanhola VRSA (9)
Um grupo de turistas espanhóis não sabe regressar ao autocarro e aborda os agentes

 

Também há aqueles que têm problemas “a sério”: há quem esteja perdido nas ruas de Vila Real de Santo António, desenhadas a régua e esquadro, há quem não encontre os familiares no meio da multidão, e há também quem tenha mesmo sido vítima de furto.

A todos eles, os agentes respondem com a mesma simpatia: os agentes portugueses num “portunhol” mais próximo do espanhol do que do português, dada a experiência de trabalho junto à fronteira, e os espanhóis que conhecem a língua, mas não conhecem a cidade.

Por isso, as patrulhas mistas, como são chamadas, são compostas por um agente português e um agente espanhol. Assim, o conhecimento geográfico da PSP alia-se ao conhecimento linguístico do CNP, em dias como este, em que há quase tantos espanhóis em Vila Real de Santo António, como vila-realenses.

À medida que a patrulha prossegue o seu caminho por entre a multidão, a pergunta repete-se: “porque há polícias espanhóis no Algarve?”. O chefe Luís Salas, da PSP, explicou ao Sul Informação a razão: «esta iniciativa faz parte de um acordo policial internacional que existe entre a PSP e o CNP. Esta é uma das várias vertentes que existem, e é a que pomos em prática com mais assiduidade, que são as patrulhas mistas, que têm como principais objetivos a visibilidade e prevenção».

Segundo Luís Salas, «é uma mais-valia termos esta colaboração, facilita-nos em relação à barreira linguística e qualquer tipo de informação que necessitemos, em relação a alguma pessoa envolvida numa ocorrência, é-nos dada em tempo útil».

 

Uma das patrulhas mistas
Uma das patrulhas mistas

 

Mas este protocolo é mais abrangente. No Algarve, durante o Verão, Natal ou Páscoa, estas patrulhas mistas entram em ação, mas a polícia portuguesa também visita o país vizinho. «Principalmente na altura das viagens de finalistas, em zonas turísticas de Espanha, a polícia portuguesa vai dar apoio à polícia espanhola», explica Luís Salas.

O centro da cidade de Vila Real de Santo António ficou para trás e as patrulhas vão receber mais um ferry-boat que chega cheio, de Ayamonte, com turistas que querem visitar a Feira da Praia.

Os passageiros do ferry são recebidos pela polícia e aconselhados a terem algumas precauções para evitar dissabores durante a sua estadia em Vila Real de Santo António: as mochilas devem ser colocadas à frente, não nas costas, e as bolsas devem estar bem fechadas.

Há caras conhecidas à chegada. Um dos agentes espanhóis é de Ayamonte, apesar de pertencer ao corpo de polícia de Huelva, e vários recém-chegados reconhecem-no. Alguns voltam a fazer a mesma pergunta: “o que faz ele ali?”.

«Quando os espanhóis nos vêem, nota-se alegria. Vão a um país onde não conhecem o idioma e vêem alguém do mesmo país, sentem-se logo mais seguros. É essa a sensação que tenho, que as pessoas sentem que não estão desamparadas», explica Luis, um dos agentes espanhóis, que esteve numa das patrulhas acompanhadas pelo Sul Informação.

 

As abordagens aos agentes são uma constante
As abordagens aos agentes são uma constante

 

O chefe Luís Salas acrescenta um sentimento de quem se cruza com as patrulhas mistas: «há muitas vezes admiração, porque não conhecem este tipo de iniciativa».

Os agentes procuram «abarcar as zonas com mais movimento de pessoas, onde estejamos mais visíveis, porque a presença policial já é um fator dissuasor, para que as pessoas nos possam ver e comunicar connosco. As nossas tarefas são, normalmente, de alerta para possíveis perigos, aconselhamento, e de boas-vindas», explica Luís Salas.

Sergio, o outro agente espanhol que esteve em Vila Real de Santo António, na quarta-feira, notou diferenças no trato entre as pessoas. «Aqui é mais cordial, mais chegado, mais educado. Nós trabalhamos numa cidade maior, é diferente. Tanto as pessoas na rua, como os companheiros, têm uma relação mais fria», considerou.

Já sobre os portugueses com quem normalmente se cruza em Huelva, esses são menos cordiais: «quando tratamos com portugueses, ou outras pessoas de qualquer país, é porque são suspeitos de algum delito. É, por isso, diferente. Aqui temos o objetivo de informar, prevenir. Em Espanha, procuramos armas, droga e outros delitos, é outro ambiente».

Este tipo de protocolo com a polícia espanhola tem dado frutos, e a Secretaria de Estado da Administração Interna está em negociações com a polícia francesa e inglesa para que, também estas, possam começar a participar em patrulhas mistas no Algarve.

 

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Fotos: Nuno Costa|Sul Informação

 

 

 

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