A infantilização da política

Gosto de Política. Assim, com “P” grande, para ficar clara a distinção da prática mais corrente a que assistimos cada […]

anabela afonsoGosto de Política. Assim, com “P” grande, para ficar clara a distinção da prática mais corrente a que assistimos cada vez mais – cada vez com mais frequência, cada vez por mais intervenientes e cada vez com resultados mais nefastos para os que a praticam a sério.

O tema é batido, chato e aborrece muita gente. É por isso mais fácil resumi-lo às tiradas habituais: “são todos iguais”, “querem é tacho”, “andamos nós a trabalhar para eles se orientarem”.

E os protagonistas da cena política (leia-se aqui aqueles a que os media dão mais visibilidade) não dão grande ajuda para combater estas ideias feitas, às quais nos devíamos todos recusar a ceder, e vão-nos, infelizmente, brindando todos os dias com exemplos que as reforçam.

No centro do discurso político, deixou de estar o cidadão e os problemas reais do país e do mundo. No centro, passou a estar a capacidade de produzir o soundbyte mais eficaz, aquele que pode ajudar a vender mais jornais, resultar em mais visualizações digitais e mais cliques nas redes sociais.

E, ao abrigo da “transparência”, trazem-se para a praça pública discussões totalmente estéreis – isto para tentar ficar nos adjetivos mais simpáticos – deixando na opacidade as questões que verdadeiramente interessam.

A comunicação social, cada vez menos séria, agradece, já que se preocupa mais em conseguir o soundbyte do dia do que em passar informação rigorosa, coisa para a qual é necessário tempo para verificar, confrontar factos, procurar outras fontes, etc.

O discurso passou a ser então uma brincadeira de crianças (comparação que faço com reserva, por considerar a brincadeira entre crianças uma coisa séria e com a qual não devemos brincar), em que os debates se resumem a variantes do género “o meu partido é melhor que o teu”, “o meu partido é que faz coisas boas, o teu só faz coisas más” ou “quando estou eu no poder destruo o teu brinquedo para fazer um novo”.

Na Política a sério, aquela de que gosto, não importa assim tanto a cor partidária. Importa a bondade, utilidade e eficácia das estratégias, das decisões e dos mecanismos encontrados para as concretizar.

Para que esta utopia aconteça, é preciso que os que acreditam na Política sejam capazes de defender a importância dos Políticos (aqueles com “P” grande e que não se resumem aos que têm filiação partidária) que ainda temos.

Porque, sejamos sérios, quem alimenta a corrupção, a falta de seriedade, o atraso nos serviços, a baixa fraudulenta, a fila que se fura na primeira oportunidade, a possibilidade de ganhar algum por baixo da mesa não são só os políticos, ou são?

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