Diocese de Beja fustigada por vaga sem precedentes de assaltos nas paróquias

Igrejas de Almodôvar, Castro Verde, Mértola, Odemira e Ourique, além da paróquia de São João Baptista, a mais frequentada da […]

Igreja de Almodôvar_01Igrejas de Almodôvar, Castro Verde, Mértola, Odemira e Ourique, além da paróquia de São João Baptista, a mais frequentada da cidade de Beja, têm sido alvo de uma «vaga de furtos sem precedentes», denuncia a Diocese de Beja, em comunicado.

Durante os meses de Julho e Agosto, os problemas de segurança do património, que são já velhos na região, agudizaram-se de tal modo que os responsáveis diocesanos vieram a público manifestar a sua inquietação com o que está a suceder.

«Começam a existir sinais de alarme em torno de tão sensível questão, que fere os sentimentos das comunidades locais», salienta a Diocese.

O bispo de Beja D. António Vitalino tem vindo a queixar-se publicamente de que os assaltos às paróquias «acontecem até em pleno dia, atingindo uma escala sem precedentes».

Este problema está a revelar-se bastante complicado na fase final da sua presença à frente da Diocese, que deixará a 3 de Novembro, por ter atingido o limite de idade.

No meio do caos criado pela situação, falta ainda uma avaliação dos danos sofridos, «mas nada parece mitigar um sentimento coletivo de frustração».

Entre as paróquias que foram visitadas pelos larápios, algumas por mais de uma vez, contam-se Almodôvar, Castro Verde, Mértola, Odemira e Ourique, além de São João Baptista, a paróquia mais frequentada da cidade de Beja, com sede na igreja do Carmo.

 

Igreja de odemira

«Não há um levantamento exaustivo dos bens que foram furtados, mas estes abrangem quantias em dinheiro, computadores, peças de arte sacra e valores pessoais dos padres e diáconos», acrescenta a Diocese de Beja.

Os maiores problemas verificaram-se, ao que tudo indica, em Odemira, de cuja casa paroquial foram subtraídos, «além de outras peças de interesse patrimonial, uma coroa de prata do século XVII, pertencente à imagem da padroeira da vila, que é obra de grande valor artístico e devocional».

Também a residência do pároco foi «devassada de alto a baixo pelos ladrões», que conseguiram arrombar o cofre onde se encontravam guardadas essa e outras alfaias litúrgicas, levando-as consigo.

Além de se confrontarem com os prejuízos causados às paróquias, os párocos acumularam também danos nos seus patrimónios privados.

Um caso que provocou consternação foi o de, por ocasião do assalto à casa paroquial de Ourique, o padre local se ter visto desapossado de um relógio, de fios de ouro e de outros objectos de estimação que pertenciam ao seu pai, falecido há poucos dias. «Ficou um sentimento de orfandade», garante a Diocese.

Na igreja do Carmo, de Beja, que possui um vasto espólio de arte sacra, também desapareceram valores dignos de referência. Porém, o que mais penalizou a paróquia foi o furto de um computador onde um cónego ao serviço da instituição, de 82 anos de idade, guardava os seus escritos sobre história e teologia, o que representa uma perda difícil de reparar.

O Bispo D. Vitalino já avisou os padres para evitarem guardar bens significativos das paróquias nas suas residências, «mas a situação está a escapar ao controlo da Diocese».

Um pároco que quis guardar o anonimato, por temer represálias, salientou que esta vaga de furtos só pode ser o resultado da «ação de uma quadrilha» e critica o facto de que, este Verão, ao contrário do que sucedeu nos anos anteriores, ninguém se ocupou de “passar palavra” às paróquias sobre a vaga de assaltos ou de atuar preventivamente junto das autoridades. «Sentimo-nos um pouco abandonados no terreno», acrescentou.

A preocupação com a segurança do património das paróquias estende-se às igrejas e a outras instalações da Igreja Católica no Baixo Alentejo.

No Seminário de Beja, rodeado por uma pequena quinta, no interior da cidade, têm vindo a desaparecer não só máquinas agrícolas e outros equipamentos, mas também esculturas e mobiliário antigo.

«Basta entrar numa igreja da região para se perceber o ambiente de receio que já grassa», diz ainda a nota da Diocese.

Para o sacristão da igreja de Santa Maria, alvo, há pouco, do furto de várias alfaias usadas na missa, incluindo valiosos paramentos, «é o Diabo que anda à solta».

Também as autarquias se mostram preocupadas com os últimos acontecimentos. Ricardo Pereira, responsável pelo Museu Municipal de Sines, que colabora regularmente com as paróquias deste concelho, chamou a atenção para um binómio que se revela fatal para a herança histórica da região: «por um lado, as obras feitas por amadores sem qualificações técnicas em monumentos e peças artísticas, com resultados desastrosos; e por outro, a generalização de furtos, muitos dos quais nem sequer são participados à Polícia Judiciária, a única que tem competências especiais em matérias criminais relativas ao património cultural».

«O Verão está a revelar-se tórrido para a arte sacra alentejana», conclui a Diocese de Beja.

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