Voluntários voltam às lojas para angariar bens para o Banco Alimentar

Dar do nosso tempo, de forma voluntária, para ajudar uma causa como a do Banco Alimentar Contra a Fome, não […]

Banco alimentarDar do nosso tempo, de forma voluntária, para ajudar uma causa como a do Banco Alimentar Contra a Fome, não é algo fácil, do ponto de vista físico, familiar e, até, emocional. Mas, garante Nuno Cabrita Alves, a sensação que se está a ajudar a fazer a diferença e a mudar a vida de algumas pessoas para melhor é compensação mais do que suficiente.

O BACF volta a promover a tradicional Campanha de Saco de Primavera e estará, no sábado e domingo, em superfícies comerciais de todo o país, a recolher a comida que a população quiser oferecer. No Algarve, há  140 estabelecimentos dos 16 municípios da região que aderem à iniciativa, entre «lojas de grandes cadeias, outras de âmbito regional e até lojas do comércio local», segundo Nuno Alves, presidente do Banco Alimentar, no Algarve.

O responsável máximo pela delegação algarvia da instituição esteve à conversa com o Sul Informação e com a Rádio Universitária do Algarve RUA FM (102,7 FM), em mais uma edição do programa radiofónico «Impressões», que foi para o ar esta quarta-feira e pode voltar a ser ouvido na íntegra no sábado, às 12 horas.

Uma entrevista em que foi possível perceber a grande dimensão que o BACF do Algarve já atingiu, quase dez anos depois de ter sido criado, mas também para que Nuno Alves desse uma visão muito pessoal sobre o que é dedicar grande parte do tempo livre a uma causa, de forma voluntária.

No centro da conversa esteve, ainda, a recolha em saco de amanhã e de domingo, um momento em que o Banco Alimentar interage com a população em geral.

As recolhas em saco, que são feitas duas vezes por ano (uma na Primavera, outra no Outono), são apenas uma parte do trabalho desenvolvido pela instituição, que trabalha com quase todas as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) do Algarve, que atuam na área do apoio alimentar.

Das 2340 toneladas de alimentos que  foram distribuídas pelo BACF do Algarve, em 2015, a maioria chegou por outras vias, nomeadamente acordos com empresas e produtores, que doam o mais variado tipo de produtos, a maioria deles frescos. Mas, sem as campanhas de saco, seria muito difícil, senão impossível, o Banco Alimentar fazer o seu trabalho de forma eficaz.

«O BACF do Algarve cresceu 600 por cento nos últimos quatro anos à base de produtos como fruta, verduras, pão, pescado, iogurtes. Ou seja, produtos perecíveis», explicou.

«Apesar de as campanhas representarem apenas 20 por cento de todo o volume de alimentos, também representam 90 por cento dos não perecíveis que distribuímos», disse Nuno Alves. Ou seja, os produtos dados pelo cidadão são a base que sustenta este projeto solidário.

Daí que haja sempre um apelo para que seja dada prioridade a certo tipo de produtos. «As pessoas devem-se focar no leite, no azeite, no óleo, nas bolachas, nos cereais, na farinha, no açúcar, nas conservas de peixe e nas salsichas», apelou. Também há um forte necessidade de produtos alimentares destinados «a crianças dos 0 aos 3 anos».

Nuno Cabrita Alves_Impressões 2016

Apesar de haver produtos preferenciais, qualquer oferta é bem vinda, mesmo aquelas que, apesar de bem intencionadas, saem completamente da “lista de compras” do BACF. «Não é raro haver pessoas, nomeadamente estrangeiros, que nos oferecem bebidas alcoólicas. Obviamente, não as vamos colocar nos cabazes, até porque há pessoas apoiadas que enfrentam problemas de alcoolismo. O que tentamos fazer, com estes produtos, é juntá-los num lote e, eventualmente, trocá-los por outros bens com um grupo de doadores, normalmente azeite, que é o que necessitamos mais», contou Nuno Alves.

De resto, chegam ao BACF do Algarve, «todas as semanas, várias toneladas de alimentos, de vários pontos do país, incluindo o Algarve».

Estes alimentos são depois entregues a 118 instituições regionais, que os distribuem por mais de 23 mil pessoas, em todo o Algarve. «Nós apoiamos 100 IPSS de forma regular e outras 18 de forma não tão regular. E das 100 regularmente apoiadas, 30 só recebem produtos frescos, as outras 70 é que recebem o cabaz completo. Foi a forma que encontrámos de poder chegar a todos e responder o melhor possível às solicitações», contou.

E até tem havido um aumento das solicitações, embora «isso não signifique que haja um aumento da necessidade das pessoas». «O que nós reparamos é que, ao fim de nove anos, estamos cada vez mais sólidos no território, e somos cada vez mais considerados um parceiro a que se deve recorrer. E as instituições perceberam algo muito interessante: em vez de organizarem pequenas campanhas e peditórios, para arranjar alimentos, preferem recorrer ao BACF», explicou.

Ligado desde a primeira hora ao projeto, no Algarve, Nuno Cabrita Alves tem visto, por dentro, uma realidade de necessidades, muitas vezes profundas, à qual admite não conseguir ficar indiferente. «Houve uma pessoa que veio ter comigo e disse não ter nada para comer e, pior, nada para dar aos seus filhos. Eu disse-lhe que havia na área dela instituições que a podiam ajudar [o BACF não entrega diretamente bens a cidadãos] e ela disse-me: eu sei, mas eu não tenho coragem de sair de casa para lá ir», contou.

«Tudo isto são pessoas e nós fazemos isto por elas. Para mim, pessoalmente, é gratificante estar ligado a este projeto, porque penso que me tornei um pouco melhor enquanto pessoa. Também me permitiu relativizar os problemas. Passamos a nossa vida preocupados porque não temos a consola X, ou isto, ou aquilo. E esquecemos que há outras coisas muito mais importantes na vida. Hoje, olho para muita coisa e penso: se não tenho, não tenho, não vale a pena», confessou Nuno Cabrita Alves, visivelmente emocionado.

 

Clique aqui para ouvir a entrevista na íntegra.

 

 

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