«Sagração da Primavera» com Olga Roriz “dentro” celebrada este sábado no Teatro das Figuras

O processo de criação encerra dentro de si uma história, que é quanto mais interessante quanto maior for o desafio […]

A Sagração da Primavera Olga RorizO processo de criação encerra dentro de si uma história, que é quanto mais interessante quanto maior for o desafio colocado ao criador.

«A Sagração da Primavera» que a conceituada coreógrafa portuguesa Olga Roriz traz hoje, sábado, ao Teatro das Figuras, em Faro (21h30) é, em parte, um rememorar do desafio que foi criar um espetáculo de Dança Contemporânea, a solo, inspirado nesta peça de Igor Stravinsky, mas também a celebração de uma grande obra, que já foi levada a palco inúmeras vezes, por companhias de todo o mundo.

Olga Roriz colocou-se de corpo e alma (literalmente) na peça, já que foi durante muito tempo a coreógrafa e intérprete desta «Sagração da Primavera». Hoje, em Faro, já não será a criadora a estar fisicamente em palco, por motivos de saúde, mas sim Paulina Santos, «uma das primeiras bailarinas da Companhia Nacional de Bailado, e muito bem». Isso não impedirá a coreógrafa portuguesa de estar presente em Faro e «a dançar por dentro».

«Em 2011 pensei: porque não fazer um solo com a Sagração da Primavera? Uma loucura, não é? Mas assim aconteceu. Decidi criar a peça para o meu próprio corpo. E há uma coisa muito interessante nela, o facto de a própria coreógrafa estar representada em palco, na sua mesa de trabalho, a passar ideias para o papel, a lembrar-se de outras peças em que participou e a criar um novo espetáculo», descreve Olga Roriz.

«Como o público poderá ver, a peça começa pelo fim. Há uma eleita que entra, até vestida de maneira diferente do resto da peça, como se tu visses a possibilidade de veres o fim de uma outra qualquer sagração da Primavera. Como se esta eleita e todas as outras que morrem, estivessem presas num evento cíclico, que está sempre a acontecer, a repetir-se. é claro que essas mulheres que morrerem são as nossas heroínas, as nossas políticas… enfim, quem nós quisermos, mas mulheres que conseguem mudar, de alguma forma, a sociedade e o mundo», acrescentou.

Como se adivinha, esta é uma criação muito intimista, para a qual Olga Roriz verteu a sua alma, mas também o seu corpo. Algo que é possível dada a forte e continuada relação entre a coreógrafa e bailarina e esta peça.

«A Sagração da Primavera é um marco, para quem pegue nela, seja um coreógrafo, seja um bailarino, seja para um músico. Quem esta peça, acompanhada pela música do Stravinsky, fica marcado para a vida», considerou Olga Roriz, numa conversa com o Sul Informação.

E a artista e criadora conhece há muito esta sensação. «Eu fiz uma primeira produção para um grande elenco, mais precisamente 26 pessoas, em 2010 e levei-a a cena com a minha companhia. Essa foi a minha segunda abordagem, já que a primeira foi com 20 anos, na Companhia Nacional de Bailado, quando fui escolhida para fazer de eleita».

E se, logo após ter feito a «Sagração da Primavera» para um grande elenco, achou que «estava ali fechado», havia de voltar a sentir «o bichinho» desta grande obra, algum tempo mais tarde. Um ano mais tarde, surgiu-lhe «uma vontade e uma necessidade coreografar a Sagração da Primavera para o meu próprio corpo e voltar ao palco».

A peça que poderá ser vista este sábado, no Teatro das Figuras, também tem uma vertente audiovisual, onde é transmitida uma mensagem de alerta para a preservação do ambiente – afinal, é da Primavera que falamos. «Haverá um ecrã numa espécie de totem, uma parede elevada, onde vão passar imagens que têm a ver com a grande poluição, com as alterações climáticas e com o que nós andamos a fazer ao nosso planeta».

Hoje, Olga Roriz volta a um concelho onde viveu «momentos muitos especiais, completamente fora», já que passou um mês do Verão de 2005 no núcleo do Farol da Ilha da Culatra, em residência artística. Uma experiência que diz que «nunca irá esquecer», que se junta a muitas outras de passagens na capital algarvia.

«Já estreei ai o “Amor ao canto do Bar” e passei muitas vezes no Teatro das Figuras. para mim Faro é um local muito especial, onde já passei por muito, artisticamente, e onde tenho pena de não voltar mais vezes. Os teatros do Sul estão a viver momentos difíceis, a nível financeiro. Neste caso, vamos à bilheteira, sem cachet, mas é um risco que assumimos para ter a oportunidade de regressar a Faro», disse.

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