Investigação sobre fotógrafos de Portimão recupera a memória de um Algarve já distante

Carlos Osório é um apaixonado por fotografia e pela investigação. E foi por isso que, nos últimos três anos, se […]

Livros sobre fotógrafos de PortimãoCarlos Osório é um apaixonado por fotografia e pela investigação. E foi por isso que, nos últimos três anos, se dedicou a investigar a vida e a obra de dois dos fotógrafos de Portimão, um deles quase esquecido, o outro ainda vivo, apesar dos seus 97 anos.

A 18 de Maio, Dia Internacional dos Museus, Carlos Osório vai lançar, no Museu de Portimão, dois livros que são o resultado destes anos de trabalho: «Fonseca Dias – Fotógrafo de Vila Nova de Portimão» e «Francisco Oliveira – Um Fotógrafo de Portimão». A apresentação está marcada para as 18h00 e estará a cargo da professora Maria João Raminhos Duarte.

«Vamos lançar estes dois livros em simultâneo porque se trata de duas figuras com uma relação profissional muito interessante, uma vez que o Fonseca Dias é um dos mestres do Oliveira», explicou o autor em entrevista ao Sul Informação.

Carlos Osório salienta que a publicação sobre Fonseca Dias (1874-1959) é apenas «um opúsculo», porque «não encontrei documentação suficiente para fazer um livro com outro fôlego». Por isso, admite, a história do fotógrafo Dias, que trabalhou na cidade de Portimão nas primeiras décadas do século XX, e do qual pouco se sabe, «vai ficar à sombra do outro livro, até porque, no caso do Francisco Oliveira, o biografado ainda está vivo, com 97 anos».

O fotógrafo Fonseca Dias
O fotógrafo Fonseca Dias

O investigador, que é professor na Escola Secundária Poeta António Aleixo, em Portimão, e mestre em Produção, Edição e Comunicação de Conteúdos Multimédia, contou ao Sul Informação que, mais do que a falta de informação sobre a vida e a obra do fotógrafo Dias, a grande dificuldade desta sua investigação dupla foi aproximar-se de Francisco Oliveira. «Comecei em 2013 a aproximar-me dele muito devagarinho, a ganhar confiança e a contar com a disponibilidade e abertura dele».

É que, salienta, o fotógrafo Oliveira é «muito discreto, muito reservado». «É um pouco como a fotografia, quando o papel entra no banho de revelação tem que se esperar», ilustra Carlos Osório.

«O princípio, o flash, a semente» desta ideia de investigar a vida e a obra dos fotógrafos portimonenses Dias e Oliveira surgiu a Carlos Osório quando o Museu de Portimão, em 2011, promoveu a exposição “Uma Cidade, 2 Fotógrafos”, sobre Francisco Oliveira e Júlio Bernardo, este último falecido entretanto.

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O fotógrafo Francisco Oliveira

«Escolhi estudar o Oliveira, que me repetiu: “eu fui aprendiz de dois grandes fotógrafos – um grande paisagista, Urbano Santos, e um grande retratista, Fonseca Dias”. E eu pensei: tenho de descobrir mais sobre isto», conta Carlos Osório.

Fonseca Dias era «um fotógrafo republicano, um dos pioneiros da fotografia no Algarve, mas há um mistério relativamente ao seu percurso até aos 30 anos, até chegar a Portimão. Tenho algumas pistas, ele deve ter aprendido a arte fotográfica em Setúbal. É que encontrei um cartão antigo que dizia: “Dias Fotógrafo, Setúbal”. mas para saber mais teria de passar tempo em Setúbal, a investigar arquivos e jornais antigos, do século XIX».

A apresentação dos dois livros na quarta-feira, no auditório do Museu de Portimão, às 18h00, será antecedida pela interpretação da “Canção da Rocha”, composta para o 1º Congresso Regional Algarvio de 1915, que irá dar-se a ouvir, 100 anos depois, pelas vozes do coro do Agrupamento de Escolas Engº Nuno Mergulhão.

Carlos Osório salienta que «tem tudo a ver, já que o Dias foi o fotógrafo do Congresso Regional Algarvio».

Também José Gameiro, diretor científico do Museu de Portimão, vê ligações: «tendo em conta que o tema do Dia Internacional dos Museus este ano é precisamente “Museus e Paisagens Culturais”, e que uma das componentes das paisagens culturais e da sua transformação é documentada pela fotografia, estes dois livros integram-se na perfeição na nossa programação», explicou ao Sul Informação. Para mais porque o espólio de Francisco Oliveira, que deverá estar presente no lançamento do livro, foi doado pelo fotógrafo ao Museu de Portimão, que o conserva e já lhe dedicou uma exposição.

Equipa do Portimonense Foto Dias
Equipa do Portimonense, Foto Dias

As duas obras, «Fonseca Dias – Fotógrafo de Vila Nova de Portimão» e «Francisco Oliveira – Um Fotógrafo de Portimão», apresentam um conteúdo biográfico de cada um dos fotógrafos, associado a uma análise ao trabalho fotográfico de ambos, integrando-os na história de Portimão.

Como não poderia deixar de ser, as obras têm como conteúdo principal as fotografias tiradas por estes magníficos fotógrafos, sendo apresentados vários trabalhos nunca antes publicados em formato de livro, que enriquecem o conhecimento histórico da cidade de Portimão.

A obra «Francisco Oliveira – Um Fotógrafo de Portimão» resulta da tese de mestrado que Carlos Osório apresentou e defendeu na Universidade do Algarve, mas é uma versão mais voltada para o público em geral.

Editadas pela Arandis Editora, as obras contam com o patrocínio da Direção Regional de Cultura do Algarve e da Junta de Freguesia de Portimão e o apoio do Município de Portimão. «O Nuno Campos Inácio, editor da Arandis, percebeu imediatamente a importância deste tipo de obras e deu-me muito apoio», reconhece o autor.

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Vista da Praia da Rocha em 1950 – foto de Francisco Oliveira

«Gostava que estes livros tivessem como resultado sensibilizar as entidades ligadas à preservação da memória – museus, câmaras municipais, arquivos – a seguir boas práticas, como as dos Arquivos Fotográficos das Câmara de Lisboa e de Évora. É preciso garantir a preservação desta memória, a sua catalogação e recuperação, mas também é preciso garantir a sua digitalização e a colocação ao dispor do público, a colocação em domínio público de todo um acervo de imagens, garantindo processos eletrónicos de aquisição de fotografias por meio legal», defende Carlos Osório.

«Não podem ser apenas os grupos de Facebook a disponibilizar imagens antigas, sem se saber como foram obtidas, por quem, quando e qual a sua história. Assim como não se pode continuar a encher paredes de restaurantes com fotos do Oliveira, às vezes reproduções de má qualidade e até truncadas, sem que alguma vez tenham pago uma única fotografia».

Entretanto, Carlos Osório, que aprofundou o seu gosto pela investigação, não pára. E revela ao Sul Informação que já está a avançar com outra investigação, desta vez sobre António Crisógono dos Santos (1862-1934), de Lagos, que produziu «mais de 160 fotografias de Lagos, Praia da Rocha e Portimão, algumas delas conhecidas porque foram editadas em postais». Este trabalho, salienta, está a ser feito com a colaboração estreita de Francisco Castelo, da Fototeca Municipal de Lagos.

 

O AUTOR:

Carlos OsórioCarlos Alberto Osório nasceu em Angola, em 1963.

Vive em Portimão há vários anos, é licenciado em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade de Coimbra.

Concluiu uma pós-graduação em Multimédia Educacional na Universidade de Aveiro e é mestre em Produção, Edição e Comunicação de Conteúdos Multimédia.

Pertence ao quadro docente da Escola Secundária Poeta António Aleixo, onde exerce funções letivas, e desenvolve investigação na área da imagem fotográfica na região do Algarve.

Apresentou à Universidade do Algarve uma tese de mestrado intitulada «Francisco Oliveira: um fotógrafo de Portimão».

É membro da direção da Associação GAMP (Grupo de Amigos do Museu de Portimão).

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