Trinta anos depois, acabou o cenário dos barcos fundeados no recovo da Culatra

Só restavam nove embarcações e os seus ocupantes, mas a Polícia Marítima não facilitou e dirigiu-se em força à Ilha […]

Limpeza Recovo Culatra_Detenção_2Só restavam nove embarcações e os seus ocupantes, mas a Polícia Marítima não facilitou e dirigiu-se em força à Ilha da Culatra.

A tentativa de resistência do proprietário de uma das embarcações que ainda estava ilegalmente fundeada no recovo da Culatra, que chegou a ameaçar os agentes com um very light, deu razão à opção da Capitania do Porto de Olhão de considerar como sendo de risco a operação que levou a cabo esta quinta-feira.

Apesar do momento de tensão, não foram precisas muitas horas para limpar de barcos, quase na totalidade, esta reentrância que existe na Ria Formosa, junto ao núcleo habitacional da Culatra. Rapidez que não tem paralelo com o tempo que a situação de ocupação abusiva do espaço público foi tolerada: mais de 30 anos.

A permanência de quase cem barcos no recovo da Culatra durante décadas foi alvo de críticas generalizadas. Na verdade, tirando os proprietários e ocupantes dos barcos ali fundeados, dificilmente se encontrará alguém que defenda que a situação era benéfica e devia continuar.

A operação de ontem da Autoridade Marítima foi assente numa decisão do tribunal, emanada depois de quase um ano de disputa entre o Estado e alguns dos proprietários, que alegavam ter o direito de continuar a ocupar aquele espaço, nos mesmos moldes. Foram, ainda assim, poucos os que decidiram ficar até ao fim.

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Há cerca de um ano havia aqui 90 barcos, mas, a partir do momento em que diversas entidades uniram vontades para resolver a situação e se começou a notificar as pessoas para abandonarem o local, a larga maioria saiu sem contestação. Mas havia ainda estes últimos barcos, cuja retirada é vista como uma vitória pelo Capitão do Porto de Olhão Rui Nunes Ferreira.

«É uma sensação de dever cumprido. Tentámos que todos saíssem da melhor forma, falámos com todos. 95 por cento saiu, estes ficaram cá, mas o tribunal deu razão ao Estado em relação ao trabalho que estava aqui a ser feito», resumiu o também comandante do Comando de Olhão da Polícia Marítima.

Igualmente felizes com este desfecho ficaram os culatrenses, que há muito pediam que a situação fosse resolvida. Afinal, os barcos estão «sobre uma boa zona de marisqueio», à qual os profissionais do núcleo não podem aceder há décadas. Também a vizinhança não era a melhor, particularmente em alguns casos, «como o da pessoa que foi agora detida, que tinha, por vezes, alguns comportamentos violentos», segundo vários relatos recolhidos pelos Sul Informação, junto da população local.

O cidadão alemão detido acabou por mostrar essa sua face mais agressiva aos agentes da Polícia Marítima, na altura em que estes, apoiados pela deliberação do tribunal, tomaram posse da embarcação, para a retirar. O homem ameaçou os agentes com um engenho pirotécnico e acabou levado para terra, onde aguardou a apresentação ao juiz numa cela. A detenção foi motivada não só pela ameaça, mas também por posse de arma proibida, já que tinha consigo várias armas, «nomeadamente catanas, mas também o facho luminoso».

«Nós já esperávamos esta atitude. Esta operação assenta numa investigação que já vinha a ser feita há muito tempo pela Polícia Marítima aos donos dos barcos. Sabíamos que a pessoa que foi detida era, digamos assim, o cabecilha do grupo de pessoas que queria cá ficar e que tem tido algumas ações violentas, não só em relação à Polícia Marítima, mas também com os moradores aqui da Culatra. Ele pensaria que era o dono do recovo da Ilha», contou o comandante Nunes Ferreira.

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Terminada a operação de retirada dos barcos que estavam fundeados, ficaram ainda duas embarcações no local, escoradas em terra, pois não têm as condições de flutuabilidade necessárias para serem retiradas pela água. «Vamos retirá-los de cá por outros meios. Não os podemos destruir, porque têm dono, mas iremos arranjar a melhor forma de os retirar de cá», acrescentou.

Desimpedido o recovo, a Sociedade Polis Ria Formosa, a Agência Portuguesa do Ambiente e a Autoridade Marítima, que uniram esforços para resolver esta situação, já pensam em limpar o local. Na realidade, será um segundo nível de limpeza, já que a Polis retirou deste local, no último ano, mais de 300 toneladas de lixo. No lado Leste desta reentrância, já foram retiradas as cabanas que existiam, faltando agora algumas estruturas provisórias, no lado Oeste.

Em breve, será necessário limpar o que resta, não só nas margens, mas também dentro da enseada, tarefa para a qual Nunes Ferreira espera ter o apoio da população local.

Algo que, tendo em conta as palavras de Sílvia Padinha, dirigente da Associação de Moradores da Ilha da Culatra, não deverá ser problema.

«Finalmente esta situação foi resolvida. Há muito que alertávamos para esta situação e temos muito que agradecer à Autoridade Marítima, por finalmente ter retirado daqui os barcos», disse. O lixo gerado pelos barcos era outra das preocupações que a população da Culatra tinha.

Sílvia Padinha diz não compreender como é que a situação se arrastou tanto tempo e defende que seja criado, de uma vez por todas, «um regulamento para os barcos que aqui fundeiam e que as regras sejam para cumprir».

Além de perspetivar a requalificação ambiental daquele espaço, o que permitirá aos mariscadores locais tirar dali algum proveito económico, há a questão da mobilidade dentro da ilha. «As pessoas já não passavam por ali, pois alguns dos donos dos barcos vedaram a passagem. Depois também havia os cães, que chegaram a atacar pessoas», lembrou Sílvia Padinha.

 

Veja as fotos da operação:

(Fotos: Hugo Rodrigues|Sul Informação)

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