Nem tudo o que parece ciência é!

“Nem tudo o que reluz é ouro e quando a esmola é grande, o pobre desconfia. Estes são dois exemplos […]

Prémios Unicórnio Voador - Crédito Cláudia Barrocas“Nem tudo o que reluz é ouro e quando a esmola é grande, o pobre desconfia. Estes são dois exemplos da sabedoria popular que nos lembram a importância de sermos céticos e críticos. Mitos e falsas alegações podem ser bastante prejudiciais para a nossa saúde e carteira, por isso é essencial saber como separar o trigo do joio ‐ é preciso questionar e exigir provas antes de aceitar algo como verdadeiro. O ceticismo e o pensamento crítico são parte fundamental da ciência, mas todos/as nós podemos e devemos aplicá‐los nas decisões que tomamos no dia‐a‐dia”.

O texto do parágrafo anterior foi-me enviado por elementos da COMCEPT – Comunidade Céptica Portuguesa, organização cidadã fundada em Abril de 2012 por Diana Barbosa, Leonor Abrantes e João Monteiro, todos eles excelentes comunicadores de ciência. Os quatro anos de existência que se cumprem este mês permitem já uma avaliação e divulgação merecida da atividade desta organização.

Começo por enunciar que o “objetivo da COMCEPT é promover a ciência e o pensamento crítico através do ativismo cético. Isto envolve a denúncia da pseudociência, isto é, de tudo aquilo que tenta passar‐se por ciência sem o ser, mas também do negacionismo de factos científicos bem estabelecidos”.

A COMCEPT deu-se primeiramente a conhecer na sua página na internet, sítio onde desde o primeiro momento têm sido divulgados textos de diferente índole relacionados com a sua atividade.

Segundo David Marçal, bioquímico e comunicador de ciência, “no sítio de Internet da COMCEPT podemos encontrar artigos aprofundados, que, de modo fundamentado e claro, ajudam a esclarecer algumas pseudociências e a desmontar os argumentos dos seus partidários”.

A COMCEPT organiza vários eventos ao longo do ano. Tertúlias mensais e informais intituladas “Cépticos com Vox” que têm lugar, de forma alternada, em Lisboa e Porto, “com debates à volta de temas muito relevantes e pouco debatidos”, segundo David Marçal.

Promove ainda todos os anos uma conferência nacional, a “ComceptCon”, onde pretende reunir todos os céticos portugueses, mas também qualquer pessoa que tenha curiosidade pela ciência.

Também organiza anualmente o ciclo “Conferências do Solstício”, no sábado anterior ao Natal, mais ou menos coincidente com o solstício de Inverno.

Para o professor de Física, historiador e comunicador da ciência Carlos Fiolhais, “a COMCEPT, Comunidade Céptica Portuguesa, tem feito excelente serviço público. Tal como outras congéneres noutros países, tem defendido a ciência, procurando sempre distingui-la da pseudociência. O espírito cético é uma das marcas da ciência. Não podemos acreditar em tudo, mas sim e apenas naquilo que resistir a uma análise crítica. E a característica principal da ciência é o exercício ao máximo dessa análise crítica”.

Para António Gomes da Costa, presidente da SciCom Pt – Rede de Comunicação de Ciência e Tecnologia, “a COMCEPT desenvolve um trabalho essencial: exigir que as afirmações, julgamentos e decisões que fazemos requeiram sempre uma grande e salutar dose de lógica e de razão e, sobretudo, que se baseiem em factos concretos e bem demonstrados. Tudo o que assim não for não passa de uma opinião ou de uma crença e deve ser encarado com todas as reservas”.

E sublinha que “parece simples, mas é uma atitude infelizmente rara num mundo em que juízos de valor apressados e baseados em coisa nenhuma são muitas vezes responsáveis por catástrofes humanitárias e por problemas graves de saúde pública. É neste campo que a COMCEPT desenvolve um trabalho intenso e regular (com pelo menos uma tertúlia mensal e um grande encontro anual), cuja qualidade tem aumentado de ano para ano, e que é dinamizado de modo voluntário essencialmente por três pessoas: a Leonor Abrantes, a Diana Barbosa e o João Monteiro”.

David Marçal também reconhece que “a COMCEPT tem feito ao longo dos últimos quatro anos um trabalho persistente e meritório na promoção da cultura científica em Portugal. Tem contribuído para esclarecer equívocos acerca de coisas que se fazem passar por ciência, sem o serem. A sua atuação concretiza-se de várias maneiras, complementares e mobilizadoras”.

 

“Prémios Unicórnio Voador”

Outra atividade em que a COMCEPT se tem destacado é a da atribuição anual dos “Prémios Unicórnio Voador”. Com estes prémios, a organização pretende desmascarar as situações mais gritantes de pseudociência que populam na sociedade portuguesa.

Para David Marçal, estes prémios são “distinções humorísticas que visam premiar as manifestações mais absurdas da pseudociência. Sempre com rigor, clareza e boa fundamentação. E não apenas uma vez, por outra, mas com grande regularidade e continuidade”.

Ainda sobre estes prémios, o professor de Química e comunicador de ciência Paulo Ribeiro-Claro diz: “sou fã do Prémio Unicórnio Voador, que é uma forma muito criativa e bem-humorada de enfrentar um problema sério: como a comunicação social – e televisão em particular – é permissiva e cúmplice de toda e qualquer vigarice pseudocientífica que explore a falta de cultura científica do cidadão. É um prémio que merecia uma gala… na TV!”

Posto isto, afirmo em plena concordância com David Marçal que “a Comunidade Céptica Portuguesa é uma associação que fazia falta em Portugal!”. Sugiro ao leitor/a que esteja atento/a às iniciativas desta organização e que, se possível, nelas participe.

A COMCEPT pode ser seguida na web, Facebook e Twitter. Os interessados podem subscrever a newsletter aqui.

 

Autor: António Piedade
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

 

 

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