O investigador da Universidade do Algarve Wolfgang Link vai recebeu uma bolsa Terry Fox, de 15 mil euros, atribuída pela Liga Portuguesa Contra o Cancro, para continuar a ajudar na busca de terapias para o melanoma (cancro de pele). O cientista trabalha no Centro de Investigação em Biomedicina (CBMR) da Universidade do Algarve (UAlg), na área da oncologia.
«Com esta bolsa, atribuída pelo Núcleo Regional do Sul da Liga Portuguesa Contra o Cancro (NRS-LPCC) e pela Embaixada do Canadá, que organiza em Portugal a Corrida Terry Fox, o investigador vai continuar a estudar os mecanismos de resistência a drogas mediados pela pseudo-cinase TRIB2, no contexto do melanoma», segundo a UAlg.
«Estou extremamente grato à Liga Portuguesa Contra o Cancro, à Embaixada do Canadá e à Fundação Terry Fox pela atribuição desta bolsa. Além de se tratar de um reconhecimento da qualidade do trabalho já produzido até aqui em torno do melanoma, será uma ajuda preciosa para continuar a explorar os mecanismos moleculares que estão na origem do insucesso no tratamento destes pacientes», considerou o investigador.
Segundo a UAlg, o melanoma que é alvo da investigação de Wolfgang Link «representa a forma mais agressiva de cancro de pele», sendo «resistente a todos os tratamentos convencionais». «A resistência a drogas é a principal causa de insucesso, no tratamento a pacientes que padecem desta doença. No último ano, o grupo de sinalização do CBMR, liderado por Wolfgang Link, identificou a proteína TRIB2 como biomarcador em melanoma. Esta descoberta vai permitir num futuro próximo triar os pacientes com mais precisão, tanto a nível do diagnóstico como na resposta ao tratamento», segundo a universidade.
Wolfgang Link acrescentou que o seu grupo de investigação descobriu, recentemente, «um novo mecanismo de resistência a medicamentos mediado por esta proteína TRIB2». Uma proteína que «confere resistência a inibidores de PI3K, mTOR e MEK (atualmente em ensaios clínicos, para a utilização no tratamento de melanoma metastático), assim como a droga anti-melanoma dacarbazina (DTIC)». Deste modo, a resistência mediada pela protein TRIB2 é relevante para um largo espetro de quimioterapêuticos anti-melanoma.
«Com a atribuição deste prémio pela LPCC, o grupo de Wolfgang Link quer agora investigar quais são os intervenientes e os mecanismos moleculares que permitem que TRIB2 confira resistência a agentes quimioterapêuticos. Os resultados esperados são altamente relevantes, já que irão permitir diferenciar pacientes que respondem ou não a agentes anticancerígenos. Utilizando uma medicina personalizada poder-se-á desenvolver uma estratégia de co-tratamento para superar a resistência aos medicamentos», descreveu a UAlg.
Wolfgang Link foi um dos oradores convidados da primeira sessão do «Conversas com Ciência» do CCMar. Nessa tertúlia, foram abordados temas bem diversos, como a produção científica que já se faz, nesta área, no Algarve, nomeadamente a relacionada com o cancro, a transferência de tecnologia na área da investigação biomédica e também questões éticas ligadas à indústria farmacêutica e ao uso de fármacos ainda em experimentação por doentes terminais.
O investigador vê, agora, reconhecido e estimulado o trabalho que vem realizando, do qual também deu conta nesse «Conversas com Ciência».
Esta é a terceira vez que um investigador da UAlg é distinguido com uma bolsa Terry Fox. Já antes Nuno Rodrigues dos Santos, que centra a sua investigação na leucemia aguda de linfócitos T, e a investigadora Ana Luísa Martins Ferreira, que estudou a aplicação de novas técnicas de diagnóstico na área da Oncologia, viram os seus projetos distinguido pela LPCC e pela Embaixada do Canadá, com as respetivas bolsas.
Sobre as Bolsas Terry Fox:
Terry Fox foi um jovem canadiano a quem, aos 18 anos, foi diagnosticado um cancro nos ossos na perna direita, o que originou a sua amputação. Durante o internamento no hospital, Terry ficou tão impressionado com o sofrimento dos outros jovens com cancro que decidiu empreender aquela que viria a designar por Maratona pela Esperança: iria atravessar o Canadá a pé com o objetivo de angariar fundos para a investigação em Oncologia. Entre Abril e Setembro de 1980, Terry percorreu mais de cinco mil quilómetros, até ser forçado a parar pela doença, que apareceu nos pulmões. Em Junho de 1981, aos 22 anos, Terry morreu, mas o Canadá nunca o esqueceria. Nesse mesmo ano foi organizada a primeira Corrida Terry Fox e nascia a Fundação com o mesmo nome, cuja atividade atravessou as fronteiras do Canadá e toca hoje vários países, incluindo Portugal.
Atualmente, as Bolsas Terry Fox para investigação em Oncologia são atribuídas em Portugal todos os anos pela Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) em conjunto com a Embaixada do Canadá. No valor de 15 mil euros cada, as bolsas são financiadas pelos fundos obtidos com a organização anual da Corrida Terry Fox, iniciativa lançada há 14 anos pela Embaixada do Canadá, a que se associou o NRS-LPCC. Os três projetos premiados anualmente emergem do conjunto de projetos pré-selecionados pela LPCC e enviados para a Fundação Terry Fox, no Canadá, que por sua vez os submete à apreciação do National Cancer Institute.
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