Nova ETAR da Companheira: «Quem aqui vive poderá, enfim, abrir as janelas pela manhã!»

«É um sonho há muito desejado porque aquilo que existia era um pesadelo». Foi assim que Joaquim Peres, presidente executivo […]

ETAR Companheira_1 pedra_1«É um sonho há muito desejado porque aquilo que existia era um pesadelo». Foi assim que Joaquim Peres, presidente executivo do Conselho de Administração da empresa Águas do Algarve, se referiu esta quarta-feira à construção da nova Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) da Companheira, em Portimão, cuja cerimónia da primeira pedra contou com a presença do secretário de Estado do Ambiente.

A nova ETAR, que estará pronta dentro de dois anos (720 dias de construção) e representa um investimento de 13,8 milhões de euros, estará dimensionada para uma população de 140 mil pessoas, servindo os municípios de Portimão, Monchique e Lagoa.

Além das vantagens ambientais – que são várias – do novo equipamento, a mais visível (ou cheirável) melhoria será o facto de, finalmente, a futura ETAR permitir acabar com os maus cheiros que, ao longo dos anos, têm afetado populações, visitantes e empresários.

«Quem aqui vive, é obrigado a conviver com este problema do mau cheiro diariamente e já pouca gente acreditava que algum dia se pusesse fim à situação. Por isso, este é um dia muito feliz para mim e para o concelho», garantiu Isilda Gomes, presidente da Câmara Municipal de Portimão.

Carlos Martins, secretário de Estado do Ambiente, por seu lado, manifestou o seu «duplo prazer» por estar ali, já que, nas suas funções anteriores, precisamente como presidente do Conselho de Administração das Águas do Algarve, a ETAR da Companheira tinha sido «uma das primeiras preocupações».

A atual estrutura, em funcionamento desde 1982, «não está à altura do Algarve, nem à altura das Águas do Algarve», sublinhou o governante.

 

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Tendo em conta que há cerca de uma década que se fala na substituição da subdimensionada ETAR da Companheira por uma nova, com outra tecnologia, e invocando a sua própria experiência recente, o secretário de Estado disse não perceber «como é que uma obra destas, só do ponto de vista administrativo, leva tanto tempo para começar a construir…»

Carlos Martins acrescentou que esta «obra serve uma zona que é quase o coração do Algarve» e que há muito se justificava, «tendo em conta a importância do Algarve para a economia nacional». «A qualidade do ambiente é decisiva para atrair quer os turistas quer os investidores», disse ainda.

E para quem ainda mantém desconfianças em relação ao futuro, o secretário de Estado do Ambiente garantiu que «agora será utilizada uma tecnologia bem mais sofisticada, em que a intervenção humana pode corrigir e acelerar os processos. A anterior ETAR gerava situações de maus cheiros, mas acabar com isso é agora a grande, grande aposta. Vamos ter aqui uma instalação dotada de tecnologia que, bem operada, evita todos esses problemas. Quem aqui vive poderá, enfim, abrir as janelas pela manhã!».

Antes da cerimónia simbólica da primeira pedra, um responsável técnico explicou os «cuidados adicionais» que terá a nova ETAR,  já em construção, para resolver de vez a questão dos maus cheiros, garantindo que haverá vários processos para os evitar. Será, por exemplo, garantido que «o ar produzido na instalação, nas zonas de maior contaminação, é tratado e desodorizado antes de ser libertado para a atmosfera».

Mas as vantagens ambientais da nova ETAR não se ficam pela qualidade do ar (e já não seria pouco). O efluente resultante do tratamento terá muito melhor qualidade, permitindo «descarregá-lo diretamente, em condições ambientalmente seguras, na ribeira de Boina, contribuindo para a melhoria da qualidade ambiental do estuário do Arade».

No futuro, como foi sugerido pela autarca Isilda Gomes e aceite pelo secretário de Estado Carlos Martins, o desafio passa por reutilizar esses efluentes tratados em usos urbanos, como a rega e lavagem de espaços públicos ou limpeza de contentores. A utilização dessas águas tratadas para «usos compatíveis», sublinhou o governante, «deverá ser estudada pelas Águas do Algarve e pelos municípios». É que, salientou Carlos Martins, Portugal tem que se esforçar por cumprir a meta dos 10% de reaproveitamento das águas residuais tratadas definida pela União Europeia, uma vez que o nível atual se situa apenas em 1%.

 

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Daqui a dois anos, quando a nova ETAR estiver construída e entrar em funcionamento, restará saber o que fazer com os terrenos que hoje acolhem as lagunas de tratamento da estação atual. A autarca Isilda Gomes já tem um plano, embora não se comprometa com prazos, devido às conhecidas dificuldades da Câmara de Portimão: «criar aqui um parque urbano, à beira rio, uma zona ambientalmente aprazível, para ser usada por todos, mas sobretudo pelos portimonenses».

O secretário de Estado Carlos Martins já se tinha referido a essa questão do futuro aproveitamento da área a libertar e alertado para um problema de «passivo ambiental» que está ainda por resolver, que é o do destino final das lamas, «que, no final da obra, têm de ser retiradas e encaminhadas».

Mas a presidente da Câmara de Portimão salientou, em declarações finais aos jornalistas, ser necessário «reunir os meios para fazer esta transformação». «Tudo farei para que este projeto [de criação de um parque ribeirinho na zona ocupada pelas atuais lagunas de tratamento] seja uma realidade, para que, daqui a alguns anos, talvez não dois, mas assim que se possa, nós possamos avançar com esse parque».

Em conclusão, Isilda Gomes considerou o lançamento da obra da nova ETAR da Companheira como «um salto qualitativo enorme, não só para Portimão, mas também para Monchique, para Lagoa e para todo o Algarve». Curiosamente, apesar da importância regional da nova infraestrutura, na cerimónia não esteve presente nenhum autarca dos concelhos vizinhos igualmente servidos pela nova ETAR…

Entretanto, as obras de construção da nova ETAR da Companheira já avançam a todo o vapor, sendo visível, à beira da EN125 e junto à ponte sobre a ribeira da boina, o trabalho das enormes máquinas que terão de, literalmente, desfazer o topo do monte e baixar as cotas para aí instalar os diversos edifícios e equipamentos que compõem a estrutura.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues|Sul Informação:

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