As áreas Protegidas podem e devem servir para estimular a economia, desde que isso não coloque em causa a sua missão de conservação da natureza. Esta é a ideia que serve de base à Semana da Ria Formosa, que o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) está a organizar em conjunto com parceiros públicos e privados, e que foi ontem oficialmente lançada, na sede do Parque Natural da Ria Formosa (PNRF), em Olhão.
«O ICNF está convicto que, com parcerias, se consegue mais bem proteger, conservar, mas também mais bem utilizar. Temos a convicção que os valores ambientais, a biodiversidade e a conservação da natureza podem estar ao serviço da economia, podem gerar emprego e riqueza», revelou ao Sul Informação a diretora do Departamento de de Conservação da Natureza e das Florestas do Algarve Valentina Calixto, à margem da sessão de comemoração do Dia das Zonas Húmidas, que se assinalou esta terça-feira.
Foi no âmbito da mesma iniciativa que foi assinado o protocolo de parceria entre o ICNF e mais de uma dezena de entidades. Com a Semana da Ria Formosa, que decorrerá em Abril, pretende-se colocar a comunidade em contacto com o trabalho levado a cabo pelo PNRF, mas também dar-lhe a oportunidade de mostrar o que a zona lagunar lhe dá, para que haja uma maior relação da sociedade civil com esta área protegida algarvia.
«A Semana da Ria Formosa é vista como a possibilidade de juntar todas as entidades, cidadãos e intervenientes nesta área e conjugá-los em ações diversas. Por um lado, promoveremos ações de sensibilização e informação, por outro, chamaremos uma variedade de parceiros, não apenas entidades públicas e escolas, mas também empresários, associações de viveiristas e pescadores e até de moradores, que têm interesses na Ria Formosa», explicou
Desta forma, não será apenas o ICNF a mostrar os valores existentes no território, que procura preservar. Todos terão oportunidade de salientar as suas riquezas e mostrá-las – «a sua ameijoa, a sua ostra…» -, até porque é intenção do PNRF estar cada vez mais próximo das atividades económicas ligadas à zona lagunar que protege, que não entrem em choque com a sua missão.
«Este será um evento de uma grande importância e dimensão, já que trata de preservar a Ria Formosa, divulgar os seus valores e tirar partido, num bom sentido, daquilo que são as potencialidades da Ria», disse Valentina Calixto.
A visão por detrás da Semana da Ria Formosa é aplaudida pelos dois presidentes de Câmara presentes, ambos de concelhos com fortes ligações à Ria Formosa. António Pina, de Olhão, e Jorge Botelho, de Tavira, vêem nesta nova abordagem do ICNF, em que há uma preocupação com as atividades económicas da Ria Formosa, uma evolução que há muito era necessária.
E se o edil de Tavira defende que a conservação «não pode ser sinónimo de abandono», como considera que acontece, muitas vezes, António Pina é mais assertivo e defende mesmo que, no passado, «o PNRF colocou os valores ambientais numa “caixinha”, onde ninguém os podia ver, o que criou uma cisão com a comunidade».
O presidente da Câmara de Olhão acrescentou que Ria «é como um diamante, que é preciso lapidar, o que não significa delapidar».
Apesar da abertura para conciliar algumas atividades económicas com a preservação do meio ambiente, Valentina Calixto deixou claro que a missão principal do ICNF é «proporcionar aos cidadãos e às gerações futuras a preservação e a riqueza da nossa natureza», nas suas diferentes componentes, tendo competências não só na área da conservação da natureza e biodiversidade, mas também da preservação das florestas.
ICNF ainda procura parceiros para a Semana da Ria Formosa
O ICNF já conseguiu parceiros de peso, para realizar a Semana da Ria Formosa, mas quer mais. Depois de numa primeira fase ter chamado à participação entidades públicas e privadas com responsabilidades no território ou ligadas ao setor ambiental, o instituto prepara-se para alargar, e muito, o seu esforço de “recrutamento”.
A ideia é lançar uma segunda fase de “recrutamento”. «Haverá uma segunda fase do processo de captação de parceiros, dirigida à Sociedade Civil. Julgo que nestes dois momentos conseguiremos fazer a junção de interesses pretendida», assegurou Valentina Calixto.
Para já, são parceiros da iniciativa os cinco municípios da Ria Formosa (Loulé, Faro, Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António) e outras entidades públicas, mas também organismos privados, como as associações Aldeia (RIAS) e Almargem e as empresas Águas do Algarve e Algar (ver abaixo lista completa de parceiros).
O trabalho já começou e há ideias de ações a desenvolver. Para já, não foram anunciadas iniciativas específicas, mas há uma ideia clara daquilo que se irá fazer. Além de cimentar parcerias, que se querem duradouras, estão previstas muitas ações dirigidas às escolas, não apenas de educação e sensibilização ambiental, mas também a desafiar ao voluntariado.
Em contrapartida, será dada visibilidade a projetos desenvolvidos pelas escolas e seus alunos. A Semana da Ria Formosa também apostará na formação sobre ambiente e problemáticas ambientais ligadas à Ria Formosa.
Lista de parceiros iniciais:
Agência Portuguesa do Ambiente, Escolas, Câmaras de Loulé, Faro, Olhão, Tavira e VRSA, Universidade do Algarve, Águas do Algarve, Algar, associação Aldeia (RIAS), Almargem, Centros de Ciência Viva de Tavira e do Algarve (Faro), IPMA, Departamento marítimo do Sul.
*Estagiário
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