Monchique com filas de trânsito e atores famosos por causa de um filme francês

Parado no trânsito na rua de entrada em Monchique, o motorista de uma camioneta carregada de refrigerantes mostrava a sua […]

Filme Francês_01Parado no trânsito na rua de entrada em Monchique, o motorista de uma camioneta carregada de refrigerantes mostrava a sua impaciência pela espera de dez minutos que já levava. «O que é que se passa para estar tudo parado?», perguntou. «Estão a fazer um filme no Largo dos Chorões», respondeu uma senhora. «É um filme francês, com atores famosos, há um que entrou no 007», acrescentou. «Então há cenas de explosões e corridas de automóveis?», perguntou de novo o motorista, com esperança na voz. «Não, está tudo muito calmo», respondeu-lhe a senhora, que se afastou de sacos de compras na mão.

Esta cena passou-se na sexta-feira, dia 4 de Dezembro, de manhã, no centro da vila de Monchique, que, durante um dia inteiro foi cenário das filmagens de algumas cenas do filme «Son Corps», do realizador francês Benôit Jacquot, com os atores Mathieu Amalric, Julia Roy (também autora do argumento) nos principais papéis.

Nesse dia, as cenas, filmadas no interior do Café da Vila, no Largo dos Chorões, também contaram com a participação de Jeanne Balibar, outra conhecida atriz francesa.

Cada vez que estava a ser filmada uma cena, o trânsito era interrompido pelos agentes da GNR, para que, no largo principal da vila, não houvesse barulho que perturbasse o som do filme. E no largo apenas passavam, de um lado para o outro, a duas dezenas de figurantes locais, contratados para o filme. Bem como um ou outro turista mais desatento, embasbacado com o que por ali se passava.

Ana Pinhão Moura, diretora de produção, disse ao Sul Informação que as rodagens do filme se prolongam por apenas quatro semanas, três das quais no Algarve (um dia em Monchique, outro dia na praia dos Salgados (Albufeira) e os restantes numa «casa maravilhosa sobre o mar» na Praia da Marinha, Lagoa).

«É a história de um realizador de cinema francês que vive em Portugal. Ele morre num acidente e a sua mulher isola-se numa casa junto ao mar para fazer o luto», contou, resumindo o enredo do filme. «O Benoît [o realizador] queria uma casa isolada à beira mar e descobrimos uma casa fantástica, meio abandonada, na Praia da Marinha. A casa nem tinha água, nem luz… Mas esta casa é o décor principal do filme, a partir da qual tudo é feito, tudo gira à sua volta», explicou a diretora de produção.

Quanto à escolha de Monchique para as cenas filmadas na sexta-feira, Ana Pinhão Moura disse que o diretor francês procurava «uma vila que fosse bonita e menos turística. Encontrámos isso aqui, a curta distância da costa».

Em Monchique, além das cenas no Café da Vila e no Largo dos Chorões, há também cenas numa rua e no supermercado Intermarché, em pleno funcionamento.

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Benoît Jacquot, com o seu assistente de realização, no interior do Café da Vila, em Monchique

A coprodução luso-francesa, executada por equipa portuguesa, numa co-produção de Alfama Filmes – França e de Leopardo Filmes – Portugal, de Paulo Branco, teve ainda cenas filmadas em Lisboa, no Centro Cultural de Belém, na CRIL, bem como na A2.

O filme, que o realizador Benoît Jacquot disse ao Sul Informação que deverá ficar pronto na Primavera do próximo ano, vai ser apresentado no Festival de Cannes, em Maio, segundo a sua diretora de produção.

«Contamos que seja um filme com uma carreira internacional, para além de Portugal e França, onde já tem estreia e distribuição assegurada», revelou ainda Ana Pinhão Moura.

Apesar de, ao que disse Julia Roy, argumentista (e também atriz) do filme, Monchique não ser diretamente identificada no filme, o presidente da Câmara local não escondia a sua satisfação pelo facto de a sua vila ter sido escolhida para as filmagens desta fita francesa, de um dos mais conhecidos realizadores gauleses da atualidade.

«Monchique tem condições excecionais para ser palco deste tipo de produções, tal como todo o Algarve. Condições de luz, de bom tempo, de uma paleta diferente de cores que vai mudando ao longo do ano. A vila em si também tem características que a tornam atrativa, tendo um centro muito cuidado, sendo cenário ideal para este trabalho», salientou o autarca Rui André.

Figurantes
Os figurantes em ação

Quando o filme estrear, há quem tenha já pedido que haja uma sessão em Monchique. Curiosidade em conhecer a história que motivou uma alteração na rotina pacata da vila, mas também em ver o que aparece da vila nas imagens que hão-de correr mundo e até em ver como surgem os figurantes, contratados entre pessoas do concelho, de várias idades, entre portugueses e estrangeiros residentes.

Até um cão monchiquense faz uma perninha como figurante, apesar de, depois de cruzar o Largo dos Chorões uma dúzia de vezes, de um lado para o outro, pela trela da dona, o bicho não ter respeitado a ordem de silêncio, ladrando bem alto para a sua impaciência…obrigando assim a repetir o take.

Cristina Sousa, técnica de Turismo e presidente do Clube Desportivo e Cultural da Nave é uma dessas figurantes. Depois de cruzar a praça pela 10ª vez, não se conteve e perguntou a um elemento da produção: «quantas mais vezes vou fazer isto?». Um sorriso foi o que obteve de resposta. Depois de ter passado a manhã a atravessar a praça, ainda teve de voltar à tarde.

Mais concentrada no seu papel de transeunte estava Mathilde Major, que é licenciada em Teatro e que agarrou com unhas e dentes a oportunidade de fazer figuração num filme francês. «Quando vi o anúncio no Intermarché, fui logo inscrever-me», contou.

Marta Cândido, do gabinete de imprensa da Câmara de Monchique, explicou que não chegou a ser feito nenhum casting para os figurantes. «A produção perguntou-nos se havia cá um grupo de teatro, mas, como não há, entrámos em contacto com as associações culturais e desportivas, com a academia sénior. E são essas pessoas que cá estão».

Além dos atores e do realizador, da equipa fixa de produção com 25 pessoas, dos figurantes, no largo, à espera da sua vez, estavam ainda os dois duplos portugueses.

E, perante a curiosidade de quem queria ver o que por ali se passava e se reconhecia os atores, os elementos da produção tinham que avisar, de vez em quando: «por favor, não fiquem parados a olhar»…

 

Fotos: Elisabete Rodrigues|Sul Informação

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