O Mar deve ser sustentavelmente rentável e, para alguns, menos europeu

A Economia Azul deve ter uma matriz muito “verde” e andar de mãos dadas com o conceito de sustentabilidade e […]

Debate A Europa e o Mar_1A Economia Azul deve ter uma matriz muito “verde” e andar de mãos dadas com o conceito de sustentabilidade e com a produção do conhecimento. Esta foi a principal mensagem passada no debate protagonizado esta sexta-feira, na Universidade do Algarve, por quatro eurodeputados portugueses, no âmbito do seminário «O Mar e a Europa», onde também foram dados a conhecer projetos de investigação da UAlg na área do Mar.

Cláudia Monteiro de Aguiar (PSD), João Ferreira (PCP), Marinho e Pinto (MPT, agora independente) e Ricardo Serrão Santos (PS) foram convidados a assistir a várias apresentações, feitas por investigadores da Universidade do Algarve, e, depois, a debater o tema do seminário, discussão que acabou muito centrada na questão da sustentabilidade da Economia Azul. Neste campo, focou-se não apenas a biodiversidade, mas também as energias renováveis e o turismo.

E se houve convergência no que respeita à necessidade de garantir a sustentabilidade, na hora de apostar no Mar e nos seus recursos, a (inevitável?) discórdia surgiu quanto à necessidade, defendida pelo eurodeputado comunista João Ferreira, de que deveria haver uma maior descentralização da Política Comum de Pescas, através de um modelo que também incluísse um nível de decisão política nacional, em vez do atual, em que as diretivas são emanadas da Comissão Europeia.

Ou seja, permitir aos agentes económicos e políticos das diferentes nações contribuir de forma ativa para a elaboração da estratégia, de modo a ter uma Política Comum de Pescas mais adaptada à realidade.

Uma visão que não é partilhada por Marinho e Pinto, que confrontou o seu congénere comunista, enaltecendo esta prática da União Europeia, considerando que não podem ser «os Estados a decidir só por si as regras». Este é apenas um exemplo de trocas de argumentos diretas entre Marinho e Pinto e João Ferreira, que aqueceram um debate que acabou por ser marcado pela sua brevidade, devido à escassez de tempo.

Debate A Europa e o Mar_3Também breves, mas muito esclarecedoras, foram as apresentações dos investigadores convidados.

Nas seis apresentações feitas, foram dados a conhecer projetos científicos ligados à Biotecnologia, um dos quais está a aperfeiçoar uma metodologia que permitirá transformar microalgas em biocombustível, mas também foi abordada a questão da sustentabilidade dos recursos pesqueiros.

Além disso, foi apresentado um diagnóstico do setor das pescas, em Portugal e no Algarve, e abordadas as potencialidades de desenvolvimento da náutica de recreio e do turismo náutico.

O que não foi abordado nas apresentações, mas que depressa foi trazido para cima da mesa por elementos do público, foi a questão da prospeção de hidrocarbonetos ao largo do Algarve.  Um assunto que, na opinião dos eurodeputados presentes, está intimamente ligado à sustentabilidade da exploração deste e de outros recursos, que deve ser um ponto central quando se fala do desenvolvimento da Economia Azul.

Para Ricardo Serrão Santos, «tem de haver limites ao crescimento azul, sobretudo se implicar a destruição de ecossistemas».

Quanto à questão da exploração de hidrocarbonetos ao largo do Algarve, o eurodeputado socialista confessou não conhecer o dossier, mas defendeu «a transparência dos processos», até porque considera que o interesse das empresas na exploração de recursos no mar está ligado «à ganância» e não à perspetiva de os recursos minerais e combustíveis fósseis se estarem a esgotar rapidamente em terra, como defendeu João Ferreira.

Foi, aliás, o eurodeputado comunista quem insistiu mais na necessidade de assegurar uma exploração equilibrada dos muitos recursos que o Mar tem. «Não podemos colocar em causa a sustentabilidade e replicar no mar modelos que já provaram ser insustentáveis em terra», defendeu.

No que à exploração de hidrocarbonetos diz respeito, João Ferreira acredita que será mais lógico começar, desde já, a investir em força nas energias renováveis e na diminuição progressiva da dependência de combustíveis fósseis, sem esperar «pelo fim do ciclo» dos combustíveis fósseis.

Debate A Europa e o Mar_2Neste campo, Marinho e Pinto também defende que não faz sentido estar a apostar num tipo de energia que depressa se tornará obsoleto e que não devem ser os interesses económicos a prevalecer. «Devemos dar a primazia à ecologia e não à economia», algo que não aconteceu até agora, afirmou.

Para isso, defende o eurodeputado eleito pelo MPT, que entretanto se tornou independente, há que apostar na investigação dita pura. «Tem de haver mais investimento nacional e europeu para investigação do Mar. O investimento está a ser feito só naquela investigação orientada ao lucro imediato», considerou, algo que não é suficiente para um correto crescimento da Economia do Mar.

Já Cláudia Monteiro de Aguiar salientou a importância do turismo para o desenvolvimento da Economia Azul, matéria que, confessou, lhe é «particularmente cara».

Para a eurodeputada social-democrata, é importante associar o turismo costeiro e náutico a esta fileira, e assegurou que tem procurado, enquanto membro do Parlamento Europeu, que este conceito esteja associado à estratégia da Europa para o Mar.

À tarde, dois dos quatro eurodeputados visitaram laboratórios de investigação do CIMA e do CCMAR. Clique aqui para ver a fotogaleria dessa visita.

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