Riqueza Desprezada – 9. Turismo em Oito Meses

Somos um povo esforçado, obediente, dócil, ideal para quem manipula dados estatísticos. Dizem os políticos e as autoridades estatísticas que […]

Jack SoiferSomos um povo esforçado, obediente, dócil, ideal para quem manipula dados estatísticos. Dizem os políticos e as autoridades estatísticas que tivemos um brutal crescimento em turismo e citam milhões de dormidas. Mas não fazem as comparações devidas.

Em 2000, tivemos 12 milhões de turistas. Assim, em 15 anos, o crescimento médio foi de menos de 2% AO ANO, comparado com a do República Checa, que foi de 6% ao ano!

Nesse período, a oferta de camas em hotéis e de cadeiras em restaurantes cresceu e a receita média caiu. Os custos de energia e impostos aumentaram, como de 6% para 23% em restaurantes; o lucro disponível para manutenção, promoção e modernização caiu.

Os políticos não escrevem os ciclos em turismo e o fator SEGURANÇA que varia anualmente. Anteriores ataques terroristas na Turquia, Tunísia, Egito e a situação na Grécia trouxeram uns dois milhões de turistas para cá. Assim, do aumento de 3 milhões, 2 não foram conquistados, eles é que vieram a fugir dos destinos para que iam.

Em outros países, a baixa lucratividade do setor indicaria a necessidade de se analisar ONDE abrir novos hotéis e com quantas estrelas. Para não se ofertar onde já há muita oferta, onde traria prejuízo.

A política de atrair euros a qualquer preço está a matar os empresários lusos aqui estabelecidos em prol de especuladores estrangeiros.

Dizem, por exemplo, que a construção de um hotel luxuoso vai ofertar 300 novos empregos, o que é inverdade.

Somando o emprego temporário da construção, que pode chegar aos 100, mais os de época alta, que pode chegar aos 150, mais os indiretos que, num ou dois dias por mês, pode chegar aos 50, até teríamos os 300.

Mas no mundo real, após a obra, teremos uns 60 empregos todo o ano, mais uns 90 na época alta, ou seja, a metade do que se anuncia. Similar aos que dizem que um shopping novo traz 2000 novos empregos. Só se for na construção, pois uns 1000 empregos ali implica na morte do comércio tradicional com até mais de mil.

Precisamos no Algarve, Alentejo e não só, de uma política para alongar a época turística. Temos tudo para, como em Espanha, Sicília, Croácia e Turquia, começar com grandes eventos já em Março, dos que usam grandes espaços ou que independem de chuva.

Temos o Estádio do Algarve, protegido do vento e em parte da chuva, para diversos torneios. O futebol feminino em Fevereiro é bom. Devemos trazer estágios de Inverno. Podemos promover as Rotas da Flor da Amendoeira, da Cerejeira, das Orquidáceas, de todas as flores, que tornam Portugal muito atrativo, já em fins de Março. Devemos promover mais as vindimas, apanhas, o aguapé e muito mais no Outono.

Temos tudo para aumentar as dormidas de Março a Outubro e assim otimizar a oferta turística com festas apoiadas por autarquias e governos ao longo de oito meses, em vez de apenas três.

Devemos reduzir o emprego sazonal e aproveitar melhor o investimento já realizado em empreendimentos turísticos.

 

Autor: Jack Soifer é consultor internacional, autor dos livros «Empreender Turismo de Natureza», «Como Sair da Crise», «Portugal Rural», «Algarve/Alentejo – My Love» e «Portugal Pós-Troika»

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