Monte submarino a 200 quilómetros do cabo de S. Vicente já é Área Marinha Protegida

O Conselho de Ministros aprovou, na sua reunião de quinta-feira, a inclusão do Sítio Banco Gorringe, situado cerca de 200 […]

banco gorringe
Elevações submarinas da costa sudoeste da Península Ibérica – Fonte: Filipe M. Rosas (http://lisbonstructuralgeologist.blogspot.com/) e GoogleEarth

O Conselho de Ministros aprovou, na sua reunião de quinta-feira, a inclusão do Sítio Banco Gorringe, situado cerca de 200 quilómetros a sudoeste do cabo de S. Vicente, na Lista Nacional de Sítios.

Esta inclusão é justificada pela «relevância que o Banco Gorringe assume para a conservação dos valores protegidos pela Diretiva Habitats da União Europeia».

A inclusão deste novo Sítio com cerca de 2288 mil hectares, em área exclusivamente marinha, vem, segundo o comunicado do Conselho de Ministros, «assegurar uma melhor representatividade dos valores naturais aos níveis nacional, europeu e biogeográfico, contribuindo para completar a Rede Natura 2000 em Portugal, e em particular no meio marinho».

Jorge Gonçalves, investigador do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) da Universidade do Algarve, explicou ao Sul Informação que o Banco Gorringe é «um sítio muito particular e único» da costa portuguesa, já que é «provavelmente a maior montanha de Portugal», por ser um monte submarino que se ergue dos 5000 metros de profundidade até aos 25 metros abaixo da superfície do mar.

«Os montes submarinos raramente chegam quase à superfície», mas este chega. Tem dois picos, o Gettysburg, aos 28 metros de profundidade, e o pico Ormonde, aos 33-46 metros de profundidade.

Fonte: http://eu.oceana.org/es/eu/que-hacemos/proteccion-de-habitats/atlantico/portugal/gorringe
Fonte: http://eu.oceana.org/es/eu/que-hacemos/proteccion-de-habitats/atlantico/portugal/gorringe

O Banco Gorringe é «um sítio particular e único por ter uma enorme diversidade de habitats e espécies – nomeadamente os corais, as gorgónias e as esponjas de profundidade. Mas também pela vida que tem à sua volta, como a imensa população de algas e as comunidades de peixes que o habitam ou que fazem dele ponto de passagem nas suas migrações», explicou ainda aquele biólogo marinho.

Esta enorme biodiversidade é também a razão da ameaça mais importante, a pesca. «Há uma certa pressão da pesca» nesta zona, até porque se trata de um sítio rico mas distante da costa, onde a fiscalização é, por isso, «mais difícil». A inclusão do Banco Gorringe na Lista Nacional de Sítios, classificando-o como Área Marinha Protegida, é uma forma de «prevenir essa ameaça provocada pela pressão da pesca».

«A fiscalização in situ é difícil, mas hoje há meios tecnológicos para seguir as embarcações em tempo real, já que elas estão dotadas com sistemas eletrónicos de localização, facilitando a tarefa das autoridades», disse ainda Jorge Gonçalves.

O investigador do CCMAR recordou que desde 1998 que o Banco Gorringe tem sido alvo de pesquisa sistemática sobre a sua riqueza biológica. As primeiras missões foram promovidas pela Associação Atlântico Selvagem, sediada em Faro, com a participação de investigadores do CCMAR.

«Desde então, temos estudado de forma muito sistemática o Banco Gorringe, incluindo com mergulho», salienta Jorge Gonçalves. Mais recentemente, além do Centro de Ciências do Mar da UAlg, também outras universidades se interessaram por aquele monte submarino, além da organização OCEANA.

O Banco Gorringe é um local com elevada produtividade primária para um contexto oceânico e com um
ecossistema único, onde está registada a presença de 862 espécies.

Nele ocorre a presença dos habitats da Rede Natura 2000: 1170 “Recifes” e 1110 “Bancos de areia permanentemente cobertos por água do mar pouco profunda”.

Biodiversidade no Banco Gorringe -- Fonte: http://eu.oceana.org/es/eu/que-hacemos/proteccion-de-habitats/atlantico/portugal/gorringe
Biodiversidade no Banco Gorringe — Fonte: http://eu.oceana.org/es/eu/que-hacemos/proteccion-de-habitats/atlantico/portugal/gorringe

Ocorrem ainda as espécies Chelonia mydas (Tartaruga-verde), Caretta caretta (Tartaruga-boba), Scyllarides latus (Cavaco), Lithothamnion corallioides (Mäerl) e Centrostephanus longispinus (ouriço-de-espinhos-longos), bem como a presença dos habitats considerados em perigo pela Convenção para a Proteção do Meio Marinho do Atlântico Nordeste (OSPAR): Montes submarinos, Jardins de Coral, Agregações de esponjas no mar profundo, Recifes de Lophelia pertusa e as espécies Caretta caretta (Tartaruga-boba) e Hoplostethus atlanticus (Peixe-relógio).

O Banco Gorringe, localizado na Zona Económica Exclusiva portuguesa, só foi descoberto em 1875 por uma expedição americana (o USS Gettysburg), comandada pelo capitão Henry Gorringe, daí o nome deste monte submarino e de um dos seus picos.

Geologicamente, o Banco Gorringe situa-se próximo de uma das falhas mais importantes do globo, a falha Açores-Gibraltar, que separa a placa Euroasiática da placa Africana. Apesar de não haver certezas científicas, pensa-se que o Terramoto de 1755, que destruiu Lisboa e a costa algarvia, poderá ter tido origem nesta zona.

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