Um investimento de 2,4 milhões de euros colocou a Sopromar na vanguarda da economia azul no Algarve e no país. Tudo porque criou o Centro Náutico de Lagos, aliando o turismo e a reparação naval num mesmo espaço, na margem esquerda da ribeira de Bensafrim, frente à cidade de Lagos e ao lado da Marina.
Este investimento que, segundo o seu administrador Hugo Henriques, simboliza «a rutura com conceitos tradicionais, ao apostar simultaneamente em dois setores» que por vezes andam de costas voltadas, vai ser visitado amanhã, terça-feira, pela ministra da Agricultura e do Mar.
É o próprio gabinete da ministra Assunção Cristas que diz que as instalações do Centro Náutico de Lagos são «das mais modernas e bem apetrechadas existentes na Europa, tendo o intuito de criar um polo completo de serviços para quem nos visita de barco».
O Centro Náutico de Lagos, acrescenta, «beneficia de uma das mais privilegiadas localizações a nível europeu no âmbito da navegação», já que «sendo o primeiro porto seguro da Europa para quem navega do Atlântico Sul e Ocidental», é ainda «o último porto para quem navega do Mar Mediterrâneo para todo o Atlântico».
É pois nesta encruzilhada marítima que, a Sopromar, uma empresa familiar criada nos anos 80 por gente vinda de Angola após a descolonização, inaugurou, recentemente, as suas novas instalações, que são «o concretizar um sonho de quem já não se encontra entre nós», como sublinhou, emocionada, a empresária Ercídia Pereira, recordando o seu marido e fundador da empresa, João Batista Pereira, entretanto falecido.
Mas aquele que começou por ser um «estaleiro dedicado basicamente à pesca», foi tirando partido da mudança dos tempos e «reconvertendo-se para um estaleiro ligado mais à náutica de recreio», tendo agora enveredado mesmo por prestar um leque completo de serviços a quem visita o Algarve ao leme de um veleiro ou de outra embarcação de recreio, sem sequer ter medo de integrar o turismo entre os serviços prestados.
É que o complexo do Centro Náutico de Lagos engloba não só o novo edifício – da autoria do arquiteto lacobrigense Humberto Barroso – como estaleiros para reparação e manutenção e ainda uma zona para parqueamento atualmente com capacidade para 280 embarcações (mas que até ao final do ano poderá subir para 350, quando a Sopromar se expandir para um terreno adjacente).
«Temos uma ocupação de 98,7%. Não há nenhum hotel com esta taxa de ocupação ao longo do ano», brincou Hugo Henriques.
O edifício, além de escritórios, inclui equipamentos de apoio, como uma sala de formação, armazéns para clientes, oficinas, uma loja náutica com 1000 metros quadrados, um restaurante de comida portuguesa virado para os clientes, mas também aberto ao público em geral, mas também alojamento para clientes, verdadeiros quartos de hotel com todas as comodidades, para albergar os navegadores cujas embarcações estejam, por exemplo, em reparações ou manutenção nas instalações da empresa.
Hugo Henriques: «Temos uma ocupação de 98,7%. Não há nenhum hotel com esta taxa de ocupação ao longo do ano»
Atualmente, o Centro Náutico de Lagos da Sopromar emprega 65 pessoas, das quais 55 pessoas nas suas instalações, mais 10 no restaurante.
A Sopromar investiu nesta fase, e desde 2013, um total de 2.404.823,65 euros, dos quais 1,8 milhões comparticipados pelo PO Algarve21.
No entanto, este projeto que traduz uma «visão mais alargada em relação à economia do mar», como salientou o administrador da Sopromar Hugo Henriques, não teve um parto fácil, sobretudo porque, de início, foi difícil às entidades gestoras dos fundos europeus perceber um investimento que pretendia romper com as fronteiras tradicionais entre reparação naval e turismo, criando um verdadeiro Centro Náutico que alia essas e outras facetas num mesmo espaço.
«Foi um projeto que nos deu alguma luta para fazer passar. Foi um pouco incompreendido por fazer parte de dois nichos», recordou Hugo Henriques, na cerimónia de inauguração das instalações, que há algumas semanas contou com a presença do secretário de Estado do Mar.
David Santos, presidente da CCDR e gestor dos fundos europeus no Algarve, reconheceu as dificuldades da fase inicial do projeto da Sopromar, quando a sua «candidatura foi chumbada». Mas «fomos trabalhando e tentando explicar a importância para a região de projetos deste tipo», um esforço dos serviços da CCDR Algarve que a empresária Ercídia Pereira reconheceu nos agradecimentos que fez.
David Santos: Sopromar é «um grande projeto no que diz respeito ao turismo e ao mar, mas também à epopeia da família»
E se Ercídia Pereira salientou que o Centro Náutico de Lagos é «um investimento destinado ao desenvolvimento não só da nossa empresa, mas de toda a região onde decidimos viver após o nosso regresso de Luanda», David Santos reforçou que se trata de «um grande projeto no que diz respeito ao turismo e ao mar, mas também à epopeia da família».
Ercídia Pereira, uma das fundadoras, salientou que «apenas esta união da família é capaz de nos levar para um futuro melhor». Mas a verdade é que a Sopromar, não deixando de ser uma empresa de família, já é mais do que uma simples empresa familiar.
O futuro está agora nas mãos da sua filha Sandra Pereira e do seu genro Hugo Henriques, que assumiram as rédeas da empresa.
E o futuro passa, por exemplo, pela internacionalização. Hugo Henriques revelou que na Sopromar, pela natureza dos serviços que presta, «atualmente 70% do que fazemos é exportação direta, já que a maioria dos nossos clientes são estrangeiros», ainda que os serviços possam ser, na sua maioria, prestados nas instalações de Lagos.
«Os nossos principais mercados são o Reino Unido, que tem um grande peso, a par de Portugal, seguidos de Angola, Suécia e Holanda», acrescentou o administrador.
A Sopromar tem também operações ativas em Angola e Cabo Verde e no futuro pretende expandir-se para São Tomé e Moçambique. Neste último país, aliás, já está a desenvolver projetos com a Autoridade Nacional Marítima, para refit em embarcações.
Hugo Henriques: «atualmente 70% do que fazemos é exportação direta, já que a maioria dos nossos clientes são estrangeiros»
Outro projeto de futuro é a expansão para os Emirados Árabes Unidos, de onde têm recebido «várias consultas».
Entre os projetos de futuro está também a abertura de uma loja náutica online, a aquisição de equipamento para subir catamarãs (já que se trata de um nicho em expansão, para o qual ainda não há resposta no Algarve), bem como a criação de uma unidade de pintura de embarcações.
Mas não é só em Lagos que a Sopromar atua, em território nacional. Também está presente no Porto de Portimão, onde tem uma loja náutica e usa o travelift da Docapesca para subir embarcações de maiores dimensões, além de ser concessionária do Centro Náutico de Algés, em parceria com a MSF (proprietária da Marina de Lagos).
Recentemente foi criada a Soproyatchs, uma empresa para a comercialização de embarcações, que já representa três marcas a nível nacional.
Uma das imagens de marca da Sopromar é a inovação, onde, garante o administrador Hugo Henriques, «sempre foi feito um grande investimento» e que os leva a «fazer constantes cursos de formação, o que nos traz grande vantagem concorrencial».
Uma demonstração da sua capacidade de inovação é o facto de a empresa ter concebido o seu próprio software de gestão do parqueamento e do estaleiro, já que, no mercado, não encontraram nada que fizesse o serviço necessário.
Hugo Henriques: «fazer constantes cursos de formação traz-nos grande vantagem concorrencial»
O software permite «saber a todo o momento onde está um determinado barco no estaleiro, o que é preciso fazer nesse barco e em que dia vai descer ou subir», explicou Hugo Henriques.
Um software tão bom e inovador que a Sopromar está «neste momento a ultimá-lo para o poder comercializar». Mais uma oportunidade de negócio que a empresa não deixou escapar.
Foi esta mentalidade empresarial voltada para o futuro que permitiu à Sopromar não só criar um Centro Náutico em Lagos que é «único não só no Algarve como na Península Ibérica», como, mesmo em termos de crise, ter uma média de crescimento da faturação de 31,4% de 1999 a 2015.
É este bom exemplo de um «setor que silenciosamente se tem consolidado e que hoje está mais do que nunca preparado para crescer», como recordou na inauguração o secretário de Estado Manuel Pinto de Abreu, que a ministra Assunção Cristas vai amanhã visitar.
O presidente da CCDR já tinha dito: «precisávamos de ter mais um ou dois centros náuticos deste tipo» em outras zonas do Algarve, para consolidar a economia do mar, que é um dos pilares estratégicos para a região no âmbito do novo quadro de apoios comunitários do horizonte 2020.
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