DiVaM desafia famílias a criar “land art” nas Ruínas Romanas de Milreu

As Ruínas Romanas de Milreu, em Estoi (Faro), monumento nacional, são o ponto de partida de um dia criativo destinado […]

milreu2As Ruínas Romanas de Milreu, em Estoi (Faro), monumento nacional, são o ponto de partida de um dia criativo destinado sobretudo às crianças e às suas famílias, que culminará com a criação em grupo de um projeto de land art. Esta atividade, que se insere no ciclo DiVaM ao Ar Livre, irá decorrer no domingo, dia 17 de maio, das 10h00 às 16h30.

Nicole Lissy, da Associação Amarelarte, é a grande responsável por esta atividade realizada em parceria entre a Direção Regional de Cultura do Algarve, onde se propõe uma intervenção e exploração daquele sítio arqueológico pelos seus belíssimos mosaicos romanos, as técnicas de execução, os artistas e história da arte.

No Dia Criativo em Milreu, será possível explorar práticas criativas, desenho, fotografia e arte na natureza, reutilizando materiais naturais encontrados nas praias algarvias.

Nicole Lissy, que foi convidada do programa Impressões da Rádio Universitária do Algarve (RUA FM), dinamizado em conjunto com o Sul Informação, explicou que a ideia base é, «naquelas ruínas romanas lindíssimas, um sítio muito bonito e inspirador, passar um dia lá com a família e os amigos e viver um processo criativo».

«Como o processo criativo não é possível planear do princípio ao fim, se não tira-se toda a criatividade e o espaço para ela acontecer, o plano é bastante simples: as pessoas levam os materiais que queiram – papel, lápis, borrachas, conchinhas, barquinhos de choco, máquina fotográfica». Tudo para que os participantes possam explorar práticas criativas, desenho, fotografia e arte na natureza, reutilizando materiais naturais encontrados nas praias algarvias.

Em Milreu, estarão três artistas, que vão acompanhar as pessoas, «também para as informar um pouco sobre o que que é que havia na altura dos romanos, o que é que os romanos faziam».

Assim, após o encontro e apresentação do grupo por volta das 10h00, será inicialmente apresentada a história concisa do lugar, temáticas e técnica de execução dos mosaicos romanos.

nicole lissy_1Após a reunião e preparação de materiais, e depois de fazer referência aos cuidados a ter com as ruínas, haverá circulação livre, para procura de imagens, troca de ideias e informação sobre os temas, os artistas e finalmente, a escolha do local preferido para dedicar à atividade.

Depois de um piquenique convívio, os participantes serão introduzidos na “arte na natureza” (land art) e seus artistas mais famosos.

A realização de mosaicos com materiais naturais é um convite a um olhar e sentir diferente sobre o Monumento, é um desafio para agir, construir, criar e relaxar. As inscrições são gratuitas e devem ser feitas através do email [email protected].

«Vamos inspirar-nos um pouco nos mosaicos e vamos tentar criar uma ligação com a arte contemporânea, mais precisamente com a land art, que é uma arte com materiais naturais, na natureza. À tarde, vamos juntar o grupo e criar um projeto de arte na natureza inspirado nos mosaicos romanos – criar uma obra em grupo», continuou Nicole Lissy.

A artista explica que «a ligação com a praia já foram os romanos que fizeram, porque, quando se olha para os mosaicos de Milreu, são mosaicos com motivos marítimos».

Segundo a dirigente da Associação Amarelarte, «todo o processo vai ser acompanhado e documentado», uma vez que este dia de criatividade irá dar origem, depois, a uma exposição fotográfica.

Nicole explica que qual e como será «a obra final do grupo é difícil de prever. Não sabemos prever o que irá surgir deste trabalho do grupo». Mas é uma obra que «vai ficar lá na natureza», sendo também essencialmente «efémera». «A natureza, como sempre, vai colher de volta os materiais, vai crescendo a relva por cima, se calhar um dia um menino salta lá para dentro e desmancha as conchas um bocadinho». Land art, arte na natureza, é isto, salienta esta austríaca há vários anos radicada no Algarve.

milreu1Nicole Lissy confessa que ela própria só conheceu as Ruínas Romanas de Milreu quando começou a preparar esta atividade do DiVaM ao Ar Livre. Mas imediatamente se apaixonou pelo lugar.

É um sítio arqueológico que, sublinha, «tem uma história interessante, mas antiga, que parece que não tem ligação com o tempo atual». Por isso, no espírito do Programa de Valorização e Dinamização dos Monumentos do Algarve, a ideia é fazer uma «ligação com os artistas romanos, pensar um bocadinho sobre o que eles pensaram, o que sentiram, o que fizeram e transportar isso para a nossa vida no tempo de agora». No fundo, Nicole espera que este dia criativo naquele monumento nacional permita que os participantes possam «repensar ou ver com outros olhos espaços que conhecem».

Nicole Lissy, uma austríaca radicada na região algarvia há vários anos, desde que veio fazer Erasmus para a Universidade do Algarve, onde conheceu e se casou com o seu marido português, espera levar os seus dois filhos, de 4 e 8 anos, a esta atividade em Milreu. Aliás, sublinha, levá-los a inaugurações e eventos culturais, é algo que se habituou a fazer, embora por vezes eles sejam «as únicas crianças nesses sítios». «Mas são imagens que vão ficar com eles» para sempre, defende.

Tendo formação de professora, a jovem dedica-se de corpo e alma à Associação Amarelarte, criada há três anos (no dia 25 de Abril) e que tem sede na Casa Amarela, junto ao Largo Pé da Cruz, em Faro.

«Sempre fui ativa no âmbito cultural, desde pequenina. Faço dança criativa e teatro. Mas parei quando cheguei cá, porque tive de mudar de língua e tive dois filhos. Mas senti que tinha que voltar para essa área que me preenche, que é o teatro, a dança e as artes». E foi assim que nasceu a Amarelarte, cuja atividade passa, sobretudo, por trabalhar com crianças, cultura e criatividade.

«A ideia é começar de pequenino a ter contacto com a Cultura, com as Artes Visuais, com o Teatro e a Dança, porque acreditamos que isso será uma grande mais valia no desenvolvimento pessoal e profissional de cada um», sublinha.

«Eu tenho formação de professora e senti que, apesar de, no Infantário, as artes e a criatividade ainda serem importantes, nas escola tudo o resto é mais importante e a criatividade passa a ser mesmo oprimida, de uma forma que não concordo. Na Amarelarte tentamos dar uma alternativa a isso», por isso a associação promove aulas ou oficinas, cursos, vários eventos para crianças, que acontecem uma vez por semana ou ao fim de semana.

nicole lissy_2As atividades para este ano de 2015, além do Dia Criativo em Milreu, no âmbito do DiVaM, são muitas e algumas delas inovadoras, como a Escola de Circo para crianças.

Na sua entrevista ao programa Impressões, Nicole anunciou que no dia 31 de Maio, na Casa Amarela, vai ser inaugurada uma exposição de Bruno Boto, designer, presidente da Associação de Designers do Sul.

Bruno Boto e outros designers da sua Associação vão ainda oferecer várias oficinas para crianças na Casa Amarela, uma forma de comemorar, um dia antes, no domingo, o Dia da Criança.

No dia 6 de Junho, será a vez da apresentação final do curso de teatro para crianças. «É o grupinho do clube de teatro da Amarelarte, que existe há três anos e vai crescendo. Ao longo do ano, vamos trabalhando vários conceitos de dança criativa, expressão corporal, expressão teatral, e um pouco de teatro, improvisação. No final, vamos apresentar tudo o que aprendemos ao longo ano, numa pequena peça que é inspirada numa história de um livro infantil, da Kalandraka, “A Toupeira que queria saber Quem lhe fizera Aquilo na Cabeça”».

A própria escolha do livro mostra como funcionam as coisas na Amarelarte: «o livro foi escolhido em grupo, mas foi uma sugestão de uma das meninas do grupo de teatro», recorda Nicole.

Em finais de Outubro, voltará o Cool Tour, um festival cultural para crianças, que já vai para a sua terceira edição consecutiva.

«No festival há sempre peças de teatro criadas por crianças, para crianças e famílias, e o tema deste ano vão ser os tabus, os nojos, coisas que muitas vezes, para as crianças, ainda são naturais, mas também as diferenças culturais e a exclusão social», salienta a responsável pela associação. A escolha deste tema do Cool Tour pretende «provocar o pensamento crítico, principalmente das crianças, mas através das crianças, também dos pais e educadores que vêm com elas».

IMG_1306O Festival Cool Tour conta com o envolvimento de várias entidades, mas a maior parceria é com a cooperativa Mandacaru, com a Laura David, que também trabalha há anos, em voluntariado, com as crianças e jovens da Horta da Areia. «Todos os anos preparam uma peça de teatro, fazem dança contemporânea», conta Nicole.

Esta ano, sublinha, «estamos mais empenhados em arranjar novos apoios financeiros para o Cool Tour, para subirmos de nível em termos profissionais, para podermos aumentar em tamanho e qualidade do festival». O trabalho de encontrar esses apoios e novos parceiros não é fácil, mas já está em marcha.

Serão esses novos apoios que permitirão que, em Outubro, haja não só espetáculos na Biblioteca Municipal de Faro e o Labirinto (um projeto teatral interativo) na Casa Amarela, como «provavelmente também vamos dinamizar mais espaços, na Alameda, no Ateliê do Movimento».

A ideia, defende Nicole Lissy, é juntar «toda a gente que trabalha na área cultural com crianças, para fazer um verdadeiro festival de Faro».

«Noto que, em Faro, as associações e entidades que apoiam estão a juntar-se cada vez mais, a trabalhar em conjunto. Esta é a forma como poderemos trabalhar melhor. Eu própria estou sempre disponível para trabalhar com outras associações», frisa.

Mas o projeto mais inovador de 2015 será a Escola de Circo para Crianças, a decorrer durante as três primeiras semanas do Verão.

«Isto é uma coisa que trago da Áustria. Às vezes penso: isto era giro haver aqui», e foi assim que surgiu a ideia da escola de circo.

«Eu própria nunca aprendi nenhuma arte circense, mas estou interessado. Pensei que seria muito giro haver uma escola de circo para as crianças de Faro», acrescenta Nicole.

Para já, o projeto ainda está a ser estruturado, depois de terem passado já a fase da conceção da ideia.

amarelarteE o que que vão aprender as crianças nesta escola de circo? Nicole explica que a ideia é criar um programa para três semanas, durante as quais as crianças «estivessem connosco o dia todo, tendo oportunidade para aprender várias técnicas diferentes, como malabarismo, monociclo, palhaço».

Assim, a primeira semana será de aprendizagem das técnicas e treino. Na segunda semana, revela, «juntamo-nos com as técnicas aprendidas, vamos criar uma ideia, vamos criar um tema, uma mensagem ou uma história que as crianças queiram passar para fora, queiram inventar ou trabalhar. Acrescentamos a criação de cenários, figurinos, de modo a criar um projeto artístico que englobe todas estas disciplinas, para, na terceira semana, ensaiarmos um espetáculo que será depois apresentado ao público».

Como já falta pouco para essas tais primeiras três semanas de Verão, Nicole Lissy avisa que «este ano é um projeto piloto, vai começar pequeno, mas acredito que tenha capacidade de crescer».

Aliás, esta é a característica de todos os projetos da Associação Amarelarte: concretizar ideias de cultura e criatividade para e com crianças, em projetos que começam pequenos, mas vão crescendo, sempre em simbiose com o meio onde se inserem, neste caso, a cidade e as pessoas de Faro.

«Nós, os adultos que acompanhamos estas atividades, vemos mais como nossa tarefa o disponibilizar de tudo o que aprendemos, da nossa experiência, de tudo o que as crianças precisam para desenvolver as suas ideias».

No domingo, dia 17, será isso mesmo que vai acontecer nas Ruínas Romanas de Milreu, quando a criatividade andar à solta nesse monumento nacional.

 

Oiça aqui na íntegra a entrevista de Nicole Lissy, da Amarelarte, ao programa «Impressões», da RUA FM

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