Há pessoas que «quando tiveram coragem de nos pedir ajuda, já não comiam há cinco dias»

Na Cantina Municipal de Albufeira, depois do serviço regular, entram os voluntários da delegação concelhia da CASA – Centro de […]

CASA Albufeira_1Na Cantina Municipal de Albufeira, depois do serviço regular, entram os voluntários da delegação concelhia da CASA – Centro de Apoio ao Sem-Abrigo e põem mãos à obra para preparar dezenas de refeições na cantina social, num concelho fortemente afetado pela sazonalidade e pelo desemprego.

Um grupo de voluntários, alguns utentes da cantina, assegura em média 80 refeições de segunda a sexta-feira a famílias albufeirenses que acorrem ao edifício da Cantina Municipal da cidade.

Uma necessidade detetada pela associação CASA – Centro de Apoio ao Sem-Abrigo num concelho que contava, no mês de Fevereiro, com mais de 3800 inscritos no IEFP como desempregados, segundo os dados mais recentes do Instituto.

Num cálculo rápido, e tendo como base um universo de cerca de 22 mil pessoas em idade ativa a viver no concelho segundo os Censos de 2011 do INE, percebemos que o desemprego rondará os 17%, acima da média nacional de 14,1% em Fevereiro.

A sazonalidade e precariedade do emprego é uma realidade e nota-se no número de utentes que recorrem à comida da cantina após o Verão. «Em Outubro, o número de utentes dispara», sublinha Sónia Pinto, membro da coordenação da delegação de Albufeira da CASA, ao Sul Informação, um aumento que diz estar na ordem dos 60%.

Uma situação premente em Albufeira, com uma economia muito dependente da atividade turística: «Ao passo que, em Faro, o número de agregados que recorre à cantina social é mais ou menos o mesmo durante o ano todo, aqui isso não acontece», constata. Com o arranque da época balnear, menos pessoas têm necessidade de vir buscar refeições: Abril e Maio marcam o início da queda do número de utentes, revela a responsável.

CASA Albufeira_2Quem recorre à cantina são agregados em risco de pobreza, crianças, idosos, jovens casais, conta Sónia Pinto. Os utentes, para poderem usufruir das refeições, têm de contribuir com o seu esforço em troca da alimentação, sendo obrigados a fazer um número pré-definido de horas na própria cantina e nas recolhas de alimentos.

«Temos pessoas que já estiveram muito bem na vida e que, quando tiveram coragem de nos pedir ajuda, já não comiam há cinco dias, já tivemos pessoas que nos diziam que já não tinham comida para os filhos… Situações muito complicadas», constata.

E acrescenta que 2015 não está a ser positivo face aos últimos anos: para Sónia Pinto, as situações que lhe chegam às mãos são mais graves, apesar de o pico da crise aparentemente já ter passado.

Com a ajuda de retalhistas como o Pingo Doce, Recheio e Continente, de estabelecimentos da localidade, e com os fornecimentos diários de comida das escolas do Agrupamento de Albufeira e dos hotéis do Grupo Vila Galé, a cantina social consegue preparar refeições variadas e fornecer outro tipo de alimentos, como iogurtes e bolos a quem mais precisa.

As recolhas são feitas de manhã e de tarde numa carrinha cedida pelo município, sendo selecionados os produtos posteriormente nas instalações da cantina. «Aqui damos as refeições, algumas já confecionadas das escolas e dos hotéis, e quando não temos comida suficiente, confecionamos nós», explica Sónia Pinto.

A associação atribui mensalmente ainda um cabaz de produtos secos, como pão e massas, entregues diretamente no armazém da CASA, em Albufeira, de acordo com o grau de necessidade dos agregados, divididos em dois escalões. «A triagem é feita pela nossa psicóloga», salienta Sónia Pinto, mediante a apresentação de documentos como a declaração de IRS.

A cantina chegou a estar em risco devido à falta de voluntários, explica a coordenadora. «Não tínhamos ninguém para trabalhar connosco», diz, acrescentando que, por sorte, angariaram-se voluntários que, de forma mais ou menos permanente desde Outubro do ano passado, têm assegurado o projeto.

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