Almargem convoca protesto contra «destruição» da Praia de D. Ana em Lagos

A associação Almargem convocou, para sábado, 18 de Abril, às 15h00, um protesto de «todos os lacobrigenses e amigos da […]

paisagem panorâmica da praia da Dona AnaA associação Almargem convocou, para sábado, 18 de Abril, às 15h00, um protesto de «todos os lacobrigenses e amigos da Costa Dourada e do Algarve» junto à praia de D. Ana, em Lagos, para «exigirem a suspensão imediata do processo de destruição em curso» com a intervenção de alimentação artificial do areal desta praia.

A associação ambientalista algarvia considera que esses trabalhos vão «destruir a praia mais bonita do mundo».

As ações preparatórias para estas obras, promovidas pela Agência Portuguesa de Ambiente/ARH, começaram na segunda-feira passada e destinam-se a «proteger as arribas da erosão provocada pela ação das marés», segundo anunciou a Câmara de Lagos.

A intervenção tem um custo estimado de 1,8 milhões de euros, prevendo-se que a utilização da praia fique condicionada até ao dia 15 de junho.

A autarquia anunciou, no fim de semana passado, que no final desta obra, a largura do areal da Praia da D. Ana ganhará cerca de 40 metros, «permitindo por isso mais espaço para os muitos turistas que a procuram, bem como a criação de uma zona de segurança imperativa junto às arribas».

Ora, a Almargem considera que esta operação de recarga artificial terá como «consequência óbvia» a «destruição da paisagem marítima ancestral e deslumbrante da Praia de D. Ana, razão principal para ter sido recentemente considerada a “praia mais bonita do mundo” (revista Condé Nast Traveller) e a “melhor praia de Portugal” (prémios TripAdvisor)».

Para a associação ambientalista algarvia, «como aconteceu há décadas na Praia da Rocha, a recarga artificial das praias com aumento das respetivas cotas e larguras tem, na verdade, dois objetivos prioritários». Por um lado, «evitar a erosão das falésias, mas sobretudo tentar proteger as construções turísticas que nas últimas décadas aí foram sendo indevidamente instaladas». Por outro, «aumentar a capacidade de ocupação das praias, encaixando o fluxo crescente de banhistas à medida que a urbanização foi avançando nas zonas envolventes».

Almargem: Recarga artificial destina-se a «evitar a erosão das falésias, mas sobretudo tentar proteger as construções turísticas que nas últimas décadas aí foram sendo indevidamente instaladas»

A Almargem defende, em comunicado, que «estas intervenções, por si só, não fazem desaparecer o risco para os banhistas que frequentam as praias de arribas instáveis».

Citando dados técnicos existentes, a associação afirma que «a faixa de risco real abrange 1,5 vezes a altura da falésia, isto é, entre 40 a 70 metros de largura na maior parte das praias algarvias. Pode assim afirmar-se que, com ou sem realimentação artificial, todas as praias de arribas do Algarve, sobretudo as que estão sujeitas a um maior peso da ocupação urbana do bordo das falésias, continuarão a pôr em risco os seus utilizadores».

«Custe o que custar à imagem turística do Algarve, a única solução adequada e honesta passa por manter uma ocupação parcial de cada praia independentemente do seu tamanho e da sua capacidade, delimitando no terreno, com vedações ligeiras de estacas e corda, a respetiva zona de risco», acrescenta a associação.

dragagens praia nova_45A Almargem sublinha que «muitos milhares de euros têm sido gastos nos últimos anos com intervenções na margem das falésias, incluindo construção de percursos pedonais, miradouros, barreiras de proteção e passadiços, aumentando nalguns casos ainda mais a pressão sobre as rochas instáveis, como acontece, por exemplo, na própria Praia Maria Luísa. Isto para além dos largos milhões empregues nas intervenções mais pesadas de regularização das arribas e realimentação artificial das praias». Só na Praia de D. Ana estima-se que a obra custe 1,8 milhões de euros, negócio que os ambientalistas dizem ser «feito à custa de todos nós».

A associação critica ainda o facto de «pouco ou nada» ter sido feito, na sua opinião, «para delimitar efetivamente no terreno as zonas de risco para os banhistas», além da «instalação de discretos painéis informativos e placas de alerta», o que alegadamente indica que «o que verdadeiramente importa para as entidades responsáveis não é a segurança das pessoas mas sim a preservação da imagem de praias idílicas com falésias maravilhosas, apesar de naturalmente instáveis».

Num longo comunicado, a Almargem considera que há dois outros aspetos que têm sido «habilmente escamoteados»: «o impacto ambiental da dragagem das areias utilizadas para a realimentação das praias e a razão fundamental para a escassez de sedimentos na costa algarvia».

A associação defende que se desconhece o impacto que as dragagens ao longo da costa algarvia «têm tido sobre os ecossistemas marinhos e sobre os recursos pesqueiros que aí existem», acrescentando que será também importante saber «que consequências tem o enchimento das praias sobre a biodiversidade da zona entre marés, justamente muito rica na zona central e ocidental do Algarve».

Considerando o contexto da intervenção na praia de D. Ana «bastante mais complicado do que parece à primeira vista», a Associação Almargem termina exigindo ao Ministério do Ambiente «uma maior clareza de processos, nomeadamente com discussão pública prévia das várias intervenções programadas».

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