Cante alentejano é Património Cultural Imaterial da Humanidade (atualizada)

O cante alentejano foi classificado como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência […]

Cante alentejanoO cante alentejano foi classificado como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), esta manhã. A distinção foi aprovada pelo Comité Intergovernamental da UNESCO que está reunido esta semana em Paris.

A decisão final estava prevista para ontem, quarta-feira, mas um atraso nos trabalhos levou a que apenas hoje o anúncio fosse feito.

Os últimos dois dias foram, por isso, de expetativa em Paris e no Alentejo. Antero Silva, que coordena o grupo coral Vozes Femininas de Amoreiras-Gare (Odemira) e o Grupo de Canto ao Baldão e faz parte da MODA – Associação do Cante Alentejano dirigente da MODA, contou isso mesmo ao Sul Informação. «Estive na expetativa nos últimos dois dias. Os representantes da MODA, que estão em Paris, iam enviando mensagens, primeiro a dizer que a decisão foi adiada, depois que o anúncio deveria ser feito por volta das 11 horas, mas acabou por ser mais cedo».

Para Antero Silva, a inclusão do cante alentejano na lista de Património Cultural Imaterial da Humanidade «é motivo de grande satisfação e orgulho ver a cultura alentejana ser reconhecida mundialmente».

O sentimento dos grupos é, segundo o dirigente da MODA, de «alegria, mas a distinção vai também trazer maior responsabilidade, não só aos grupos, mas também às autarquias, instituições e grupos culturais, para que façam algo pelo cante».

A distinção da UNESCO pode também revitalizar esta forma de cantar. «Pode acima de tudo dar um novo impulso ao cante, há grupos descrentes, envelhecidos e isto pode ser um tónico para dar-lhes mais força, para os incentivar. Há grupos que estão mais estabelecidos e organizados, mas há outros menos ativos e esta distinção pode dar-lhes uma nova alma».

Antero Silva reforça o papel das autarquias nesta nova fase da vida do cante alentejano. «O interesse das câmaras poderá ser, agora, maior. Há algumas que realmente apoiam, mas há outras às quais o cante passa ao lado. Podem assumir um papel diferente para melhor. É uma possibilidade de reavaliar a cultura e dar destaque ao cante que transmite a alma alentejana».

Uma das maiores vantagens da distinção é, para Antero Silva, a maior visibilidade que o cante vai ter e a curiosidade que isso vai despertar nas pessoas.

«O reconhecimento da UNESCO pode trazer novos públicos. Vai haver muita gente curiosa para ouvir os grupos, que quer ficar mais próxima desta realidade», considera.

O fado pode ouvir-se nas casas de fado, e o cante poderá ser ouvido nas “casas de cante”? «A Entidade Regional de Turismo do Alentejo já lançou a ideia das casas de cante. São realidades diferentes em relação a Lisboa e ao fado, que tem um volume turístico muito maior, mas se os grupos tiverem uma sede – e os que não têm a poderem vir a receber – onde possam cantar a horas e dias certos, onde os visitantes, turistas e pessoas locais saibam que vai haver um grupo a cantar àquela horas, pode funcionar», conclui Antero Silva.

A declaração do cante alentejano como Património da Humanidade foi feita às 11h18, hora francesa, menos uma hora em Portugal, cinco minutos depois de ter começado a sua avaliação.

O Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa subiu depois ao palco da sala e fez ecoar o canto alentejano em Paris como forma de agradecimento aos presentes. Este grupo está na capital francesa desde o início da semana, tendo feito 1800 quilómetros de autocarro, segundo o jornal Público, carregando o veículo com dois leitões assados, um presunto, queijos e sacas de papel com pão alentejano.

A candidatura do cante alentejano a Património da Humanidade foi entregue à UNESCO em março de 2013, depois de, em 2012, o Ministério dos Negócios Estrangeiros ter decidido adiar a sua apresentação, por considerar que o processo não reunia condições para ser aceite.

A candidatura foi promovida pela Câmara Municipal de Serpa/Casa do Cante, com o contributo da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, da Casa do Alentejo, em Lisboa, da Confraria do Cante Alentejano e da Moda – Associação do Cante Alentejano.

Ontem, a UNESCO já havia classificado outra expressão cultural lusófona como Património Imaterial da Humanidade, a capoeira, originária do Brasil.

Atualizado às 11h50 com declarações de Antero Silva e inclusão de pormenores sobre a candidatura e a reunião.

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