A treta da competitividade

Ao que parece, a economia portuguesa tem falta de competitividade, os trabalhadores ganham sempre demais e, quanto aos pequenos e […]

conceição-branco1Ao que parece, a economia portuguesa tem falta de competitividade, os trabalhadores ganham sempre demais e, quanto aos pequenos e médios empresários, esses são avessos à modernidade. A bem dizer, ninguém senão os amigos do peito corresponde ao enorme esforço da governação para colocar Portugal outra vez “nos mercados”.

Ainda por cima, os investidores sentem desconfiança, as poupanças das famílias baixaram, o Estado continua obeso e aparentemente há que despedir outros 200 mil, mais coisa menos coisa (daqueles que ganham menos de 600 euros, para ficarem os 20 mil que ganham 100 vezes mais, sendo que a competência de uns e outros não é para aqui chamada).

Assim, vá lá saber-se quando e como será possível Portugal crescer, Portugal evoluir, Portugal modernizar-se, Portugal investir, Portugal transformar-se em caso de sucesso!, clamam os analistas, os consultores, assessores e gurus do economês.

Façamos meia dúzia de contas simples a nível das pequenas e médias empresas, mais conhecidas por PME, que, com 500 mil euros de faturação, pagam de IVA 23%, chovam paus, pedras ou picaretas e seja qual for o estado a que as coisas chegaram na economia.

Nos gastos com energia e combustíveis, não haverá exagero em avançar com mais 3 a 4% da fatura da eletricidade todos os anos e outro tanto quando se trata de combustíveis, portagens e impostos associados a acessibilidades rodoviárias.

Ou seja, mais 9% nos custos, sempre que acabam as 12 badaladas do ano velho.

Sendo estes os itens “a descoberto”, por oposição aos que, encobertos, são mais difíceis de quantificar. Como a burocracia, pois a forma de funcionamento lenta e desconchavada da administração pública e da justiça, acarreta um custo real para o setor empresarial.

Para lidar com procedimentos, licenciamentos, retificações e formulários e aguentar os tempos de espera (estes avaliados em produtividade nula) das decisões das entidades oficiais, cujos prazos são largamente ultrapassados, uma PME tem de contar pelo menos com mais um posto de trabalho invisível e inerentes encargos sociais e fiscais.

Portanto, some-se mais um posto de trabalho improdutivo e atribua-se-lhe um percentil negativo de 2%.

Na parcela dos custos menos óbvios, acresce o preço do dinheiro e a aflitiva situação de tesouraria e descapitalização provocada pela dilação dos prazos de pagamento das faturas, a ultrapassar mais de um ano, em especial quando se trata do Estado e de empresas públicas (a média são oito meses), embora devessem ser trinta dias. E mais as insolvências, as falências e o mal parado.

Spreads e juros à parte, que esses são riscos inerentes a qualquer mercado, pagar adiantadamente o IVA por conta da fatura que está a marinar numa qualquer gaveta, ter gastos de contas caucionadas, livranças e outras engenharias financeiras, utilizadas para despesas correntes e não como processos de financiar investimentos, penalizam em mais de 7% os orçamentos das desgraçadas das PME.

Nesta conjuntura, as PME e os empresários serão uns verdadeiros heróis, os poucos que não fogem a pagar impostos, nem têm contas em paraísos fiscais e contra ventos e marés são capazes, apesar de tudo, de criar postos de trabalho, evitar descalabros sociais, sobreviver, exportar, competir e estar presentes no mercado internacional, mau grado tão pesado handicap, comparativo a outros países que também estão na competição pelo aumento das exportações.

Cá para mim, é mais do que tempo de se acabar de vez com o discurso ora arrogante ora fatalista, mas para a minha amiga Ana, sempre expedita nas soluções de casos bicudos, “parece que este Governo e esta maioria não gostam do povo que têm, nem dos empresários ou dos trabalhadores, muito menos quando são funcionários públicos e odeiam gente que pensa e tem iniciativa. Não era caso de emigrarem e pedirem asilo ao amigo José Eduardo dos Santos, o eterno presidente de Angola?”

Oh! deuses!, castigai-os a eles e não a mim!

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