Olhãopescas: Assoreamento da barra e mau tempo explicam naufrágio em Olhão

Uma barra demasiado assoreada, apesar dos pedidos de dragagens que os profissionais da pesca e suas associações fazem há anos, […]

Barco Naufragado na Barra do Lavajo_1Uma barra demasiado assoreada, apesar dos pedidos de dragagens que os profissionais da pesca e suas associações fazem há anos, mau tempo e um período de interdição da pesca da conquilha que durou mais de dois meses, levantado há poucos dias, entre Tavira e Vila Real de Santo António.

Estes são alguns dos fatores que enquadram o acidente em que morreu um pescador de Olhão e outro ficou ferido, cuja embarcação naufragou na Barra da Armona, ou do Lavajo, na madrugada desta terça-feira.

Os dois tripulantes tentaram-se fazer ao mar, cerca das 6h30, provavelmente para aproveitar o recente levantamento da interdição da apanha da conquilha, «a principal espécie alvo desta embarcação e de muitas outras da arte da ganchorra», mas acabaram vítimas de «um lamentável acidente». Segundo o presidente da associação de armadores Olhãopescas Miguel Cardoso, o mestre do barco, a vítima mortal, terá tentado regressar a terra, por considerar que não teria condições para passar a forte ondulação que se fazia sentir, na altura, na Barra.

«Mas, quando tentou dar a volta, terá levado com um golpe de mar, que enrolou e virou o barco», explicou Miguel Cardoso, baseado no relato do armador da embarcação «Patrício». «Eles tinham os coletes postos, mas, mesmo quando se cumpre todas as regras, ninguém está livre de bater com a cabeça ou ter um azar», lamentou.

Embarcação Alamar, que auxiliou o barco naufragadoNeste acidente, não há lugar para apontar falhas nos procedimentos de segurança. «Estavam a cumprir todos os procedimentos. Tinham os coletes e o barco tinha sido vistoriado recentemente», assegurou ao Sul Informação o comandante do Porto de Olhão Nunes Ferreira. O mesmo responsável disse que foi aberto um inquérito e que não há, para já, certezas do que motivou o acidente. «Primeiro teremos de falar com o sobrevivente e eventuais testemunhas oculares», disse.

As vítimas do naufrágio foram ajudadas, logo após o acidente, pelos tripulantes das embarcações «Alamar» e «Manuel Francisco», barcos locais de pesca à ganchorra que também saiam para a faina na mesma altura. Foram eles que resgataram do mar o sobrevivente e o corpo da vítima mortal.

Mais tarde, diversas embarcações de pesca à ganchorra uniram-se às operações de resgate do barco encalhado, que foram frustradas pela forte ondulação que se fazia sentir. Amanhã, será feita nova tentativa para retirar a embarcação «Patrício» do banco de areia onde está encalhada.

 

Segurança vai além do cumprimento dos procedimentos por parte dos pescadores

Embarcação Manuel Francisco trouxe vítimas para terra_2A segurança falta, e há muito, na própria Barra do Lavajo, o nome original da abertura natural existente entre as Ilhas da Armona e da Culatra, mas também noutros locais da Ria Formosa, defendem armadores e representantes sindicais.

«Este infortúnio leva-nos a refletir sobre o estado de assoreamento das barras e dos canais da Ria Formosa. Porque não se trata apenas da do Lavajo. Também a da Fuzeta, que apesar de nova, foi mal feita de raiz, e a de Tavira estão assoreadas e representam um perigo», defende Miguel Cardoso.

Numa barra que não seja dragada com regularidade, «o perigo duplica ou triplica» para as embarcações que a tentam usar, já que «se formam baixios, onde os barcos podem prender, ao manobrar, principalmente com mau tempo», bastando uma onda mais forte, para os virar. Até porque, assegura, «os mestres das embarcações estão preparados para o mau tempo».

Miguel Cardoso vai mais longe e diz que este é um problema nacional. «Os nossos governantes há muito tempo que deixaram de olhar para as barras e para os Portos de Pesca. Deixou de se fazer a manutenção, a nível nacional e as coisas degradam-se, cada vez mais», ilustrou o presidente da Olhãopesca. Antes, cada capitania tinha o seu batelão, para dragar, «que fazia esse trabalho sempre que necessário».

 

«A barriga dos pescadores precisa é de comida»

Porto de OlhãoA Ministra da Agricultura e Pescas reagiu, entretanto, à notícia deste acidente, lamentando-o e instando os pescadores a ter «prudência» e a evitar sair para o mar quando as condições não forem as ideais. Declarações que não caíram bem ao dirigente do Sindicato das Pescas do Sul Josué Marques.

«O que a barriga dos pescadores precisa é de comida e não se compadece com a falta dela. Talvez se pedisse uma maior rapidez no andamento das candidaturas ao Fundo de Garantia Salarial, se evitassem mais acidentes. Se há coisa que não falta aos pescadores é prudência», atirou.

Neste caso, nada indica que as vítimas estivessem à espera de uma compensação, devido a uma paragem forçada. A conquilha, explicou Miguel Cardoso, era a espécie-alvo principal de barcos como o «Patrício», mas não a única.

«Também tinham o pé-de-burrinha e a amêijoa branca, mas não dão o mesmo rendimento. As coisas não têm estado fáceis, por aqui», confessou o dirigente da Olhãopescas, referindo-se aos «mais de três meses» que dura a interdição de apanha de conquilha, na zona de Olhão e Faro (que ainda se mantém). «As pessoas necessitam de ganhar o seu pão e, por vezes, arriscam», ilustrou.

Josué Marques também focou a questão das dragagens, garantindo que esta é uma exigência que é feita há pelo menos 14 anos, mas que nunca foi atendida. «Agora, há a lamentar mais uma vida ceifada», disse.

 

 

 

Comentários

pub