Todos os anos podemos assistir a um fenómeno astronómico especial: a Lua das colheitas. Segundo, a tradição, ela foi essencial aos trabalhos noturnos dos antigos agricultores, devido a uma conjugação de circunstâncias astronómicas favoráveis. Atualmente, é um espetáculo a não perder.
A Lua das colheitas é a Lua-cheia mais próxima de 22 ou 23 de Setembro de cada ano, data do equinócio de Setembro, que marca o começo do Outono no Hemisfério Norte. Mas o que é que a coincidência da Lua-cheia com o início do Outono tem assim de tão especial? Que espetáculo oferecerá?
Em cada noite, a Lua nasce aproximadamente 50 minutos mais tarde do que na noite anterior. No entanto, próximo do equinócio de Outono, esta diferença reduz-se apenas a cerca de 30 minutos e essa proximidade horária persiste por várias noites sucessivas, em torno da data desta Lua-cheia.
A justificação para isto é que, nesta época do ano, o plano orbital da Lua (quase coincidente com a eclíptica) apresenta a inclinação mínima em relação ao horizonte leste. Tal inclinação é bastante menor do que nas restantes partes do ano.
Por isso, a Lua, nesta época, move-se (em relação às estrelas) menos para leste do que é habitual e nasce apreciavelmente mais a norte, de noite para noite, o que a faz nascer na noite seguinte mais cedo do que se esperaria (Veja-se a figura esquemática).
Aparentemente isto não tem nada de especial, mas para quem observa habitualmente o céu, como os antigos agricultores, produz uma diferença enorme. Na época da Lua das colheitas, durante várias noites consecutivas antes e depois da data da sua fase cheia, a Lua (cheia ou quase cheia) nasce quase à mesma hora, ao anoitecer.
Vários produtos agrícolas amadurecem sucessivamente entre os últimos tempos de Verão e o início do Outono, obrigando a uma sequência cansativa de colheitas.
Antes de existirem tratores e lâmpadas elétricas, os agricultores tinham uma vida esgotante e precisavam de continuar a trabalhar após o pôr do Sol para completar as colheitas a tempo.
A Natureza é muito cooperativa em torno da data do equinócio de Setembro, oferecendo a Lua das Colheitas, evitando um período de escuridão entre o pôr do Sol e o nascer da Lua em várias noites sucessivas.
Quando a luz do Sol esmorecia, a oeste, a Lua nascia logo, a leste, iluminando pela noite fora os campos pujantes de vida. É isso que torna a Lua das Colheitas tão especial e quase mágica.
Mas o espetáculo tem mais encantos. A Lua junto ao horizonte aparece avermelhada devido à dispersão da luz nas poeiras e fumos, na longa travessia oblíqua através da atmosfera terrestre.
E junto ao horizonte a Lua parece muito maior, de um tamanho extraordinário, devido ao efeito da ilusão da Lua.
Esta visão fascinante, ao longo de várias noites, repete-se todos os anos próximo da data do equinócio outonal. Depois de ter sido uma bênção para os agricultores de há mais de 100 anos, a Lua das Colheitas é ainda hoje um belo espetáculo celebrando o início do Outono no Hemisfério Norte.
Como vai ser desta vez?
Em 2014, próximo da época favorável, a Lua estará cheia a 9 de Setembro e a 8 de Outubro, sendo a primeira data mais próxima do dia do equinócio outonal, com a Lua na constelação dos Peixes, passando nas noites seguintes pelo Carneiro, Touro e Gémeos.
Para melhor desfrutar da continuidade do fenómeno, e da sua particularidade, assista sucessivamente ao nascer da Lua em algumas noites sucessivas a partir de 8 de Setembro.
Texto e ilustrações de Guilherme de Almeida
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva
Para mais informação
http://ciencia.nasa.gov/ciencias-especiales/16sep_harvestmoon/
http://earthsky.org/space/harvest-moon-2
http://earthsky.org/space/harvest-moon-2#which-night
http://en.wikipedia.org/wiki/Harvest_moon#Harvest_moon
Legenda da figura: Comparação do ângulo da eclíptica em relação ao horizonte, no início de cada estação do ano, no nascimento da Lua-cheia.
As setas vermelhas estão igualmente espaçadas entre si, nos esquemas do Outono e do Verão.
Escreveu-se “leste”, em vez de “este”, para evitar confusão com o pronome demonstrativo da mesma grafia.
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