Empreender, inovar, mentir

Na Europa do Norte e nas boas faculdades americanas, nos cursos de gestão, economia, ciências sociais em geral, estuda-se estatística […]

Jack SoiferNa Europa do Norte e nas boas faculdades americanas, nos cursos de gestão, economia, ciências sociais em geral, estuda-se estatística a sério e um dos títulos é “como mentir com estatística”. O que é fácil: retirar do contexto, não ser rigoroso na coleta de dados e, sobretudo, mencionar raros exemplos de sucesso como se fosse a maioria.

A “Alma Lusa”, influenciada pelos 3 ‘f’’, Fátima, Futebol e Fado, tem como “reatividade”, “entusiasmo” e “saudade” características que tornam o português um povo hospitaleiro, simpático, alegre na superfície.

As diversas culturas que nos formaram, divergem entre Norte e Sul, entre o espírito tenaz dos celtas e do bem-viver dos mouros, entre o fazer e o falar.

A riqueza trazida das colónias e distribuída pelos poderosos reis do século XVIII impregnou-nos o valor da oratória, que leva a imensas intrigas, e o desprezar pelos resultados de longo prazo. O dar a impressão ainda domina a política e parte da imprensa, pois o cidadão tem memória curta e esquece que o que muda o mundo são feitos, mais do que palavras.

Faz-me impressão quanto destaque se dá a palavras que pouco resultam. Como empreendedorismo, aqui falado, subvencionado, iniciado. Mas quantos empreendedores sobreviveram após os conhecidos 31 a 39 meses de existência?

Factos comprovados numa dúzia de outros países são aqui ignorados. Os empreendedores fracassados ficam deprimidos, calam-se ou emigram e assim não se lhes dá voz. Não se divulgam as razões dos fracassos, nem os índices alarmantes e assim continua-se a tentar rodar a roda quadrada em vez de adotar ou adaptar a que já roda.

Dados de alguns anos atrás mostram que 82% de todas as start-ups deixam o ativo após 31 a 39 meses, consoante o nicho e a região onde operam, se comércio.

Na indústria, este valor chega a 88% e a previsão é que as start-ups de 2013 terão 91% de probabilidade de fracasso, se não mudarem radicalmente a forma de apoio. As razões e os métodos adequados estão detalhadamente listados nos livros«Como Sair da Crise», «Portugal Rural» e «Algarve/Alentejo – My Love».

Em Portugal, há ideias a mais e projetos exequíveis a menos! O entusiasmo de quem inicia dura uns 2 a 2,5 anos, mas as burocracias, incoerências dos sistemas onde a cunha vale mais do que o resultado real, a concorrência desleal, a ‘flexibilidade’ na prática das regras, que sempre beneficia uns poucos, invejosos, em detrimento dos árduos lutadores, tudo isto trava o empreendedor que não tenha um experimentado ‘coach’. E o bom ‘coach’ é o que tem a coragem de redirecionar um projeto que possa incomodar a algum dos poderosos.

O micro-crédito fracassou! Em Portugal, aprovou-se em dez anos o que o Chile aprova num mês e o Brasil num dia. Capital não falta. Mas não investimos em ideias, investimos nas características pessoais de um empreendedor; é o que faz a diferença entre sucesso e fracasso.

Inovar? Quando há milhares de inovações travadas pelos grupos que têm medo de perder sequer 1% do seu mercado? Ainda há uns poucos nichos onde os empreendedores e os inovadores com as características certas poderão crescer. Mas isto não se divulga no Facebook, apenas em semanários especializados, sem subsídios, em manuais e raros sites.

 

Jack Soifer é autor dos livros «Como sair da Crise», «Transportes», «Portugal Rural», «Algarve/Alentejo – My Love» e «Ontem e Oje na Economia»

 

Comentários

pub