Artista El Menau participa na inauguração da exposição da escrita do Sudoeste em Quarteira

O artista plástico El Menau fará uma abordagem contemporânea da escrita do Sudoeste, na abertura da exposição itinerante de arqueologia […]

Quem nos Escreve desde a serraO artista plástico El Menau fará uma abordagem contemporânea da escrita do Sudoeste, na abertura da exposição itinerante de arqueologia sobre as estelas com aquela escrita da Idade do Ferro, marcada para esta sexta-feira, 1 de agosto, às 19h00 na Praça do Mar em Quarteira.

Após mais de dois séculos de investigação sobre a escrita da Sudoeste, a mostra pretende divulgar os materiais arqueológicos provenientes do concelho de Loulé, que permitem dar a conhecer este período, a escrita, onde habitavam e como viviam e morriam essas comunidades.

A exposição, promovida pela Câmara de Loulé, está concebida de modo a mostrar como este fenómeno resulta de um processo histórico e patrimonial e vai interagir não só com os espaços públicos das localidades, mas também com os espaços envolventes.

Apresentada nas vias públicas, a exposição apresenta conteúdos escritos devidamente ilustrados e está organizada em seis partes: a Idade do Ferro, a escrita do Sudoeste, o mundo dos vivos, a morte, os investigadores e os conjuntos de estelas de Benafim/Salir e do Ameixial.

No âmbito da inauguração desta exposição em Quarteira, haverá lugar a uma abordagem contemporânea do tema pelo artista plástico El Menau, através da realização de uma performance de pintura mural, que depois irá ficar patente até ao final.

Os conteúdos são sucintos e concentrados na transmissão das ideias principais, num discurso contemporâneo e criativo que satisfaz mais do que um tipo de visitante, ou seja, é transversal nas faixas etárias, no nível de conhecimento e nos graus de interesse.

Assegurou-se ainda que a exposição não tem constrangimentos de acessos e horário, proporcionando ao visitante uma curta duração no tempo de visita. Refira-se ainda que esta é bilingue (português e inglês), permitindo uma compreensão dos conteúdos por visitantes além-fronteiras.

Na Península Ibérica, há mais de 2500 anos, numa época de grandes inovações tecnológicas e transformações culturais, os povos do Sul de Portugal e da Andaluzia, a partir do alfabeto fenício vindo do Mediterrâneo Oriental, criaram uma escrita própria da língua falada na região: a escrita do Sudoeste.

Concentrados na serra do Algarve, existem poucos vestígios desta escrita, cerca de cem, e a maioria é encontrado em estelas: blocos de pedra fixados no solo, onde o texto era gravado e escrito em arco, na direção contrária à atual: de baixo para cima e da direita para a esquerda.

É nesta região que autores da antiguidade clássica referem a existência de gente especialmente culta e desenvolvida. Segundo Estrabão (historiador e geógrafo grego do século I d.C.) “possuem uma gramática e escritos de antiga memória, poemas e leis em verso”.

A distribuição espacial das estelas, no atual território português, assinala que a serra de Mú e Caldeirão, entre o Algarve e o Baixo Alentejo, é um dos epicentros deste fenómeno.

Aqui, podem ser assinaladas dois conjuntos, um a Sul, na transição da Serra com o Barrocal, entre Benafim e Salir, onde foram encontradas as estelas da Fazenda das Alagoas, Viameiro e Barradas e que com as estelas encontradas em Bensafrim (Lagos) e São Bartolomeu de Messines (Silves) traçam o limite Sul da concentração de estelas com escrita do Sudoeste.

E o outro, a Norte, em torno das Ribeiras do Vascãozinho, Vascanito e do Vascão, confirmando este local com uma das três principais concentrações deste tipo de vestígios epigráficos, que engloba sítios arqueológicos hoje localizados em Loulé e em Almodôvar.

O primeiro fragmento de uma estela com escrita do Sudoeste do Concelho de Loulé foi encontrado em 1897. Mais de uma centena de anos depois, a identificação destes monumentos epigráficos deve-se ao precioso contributo de inúmeros louletanos, investigadores e apaixonados pela arqueologia, como o Prior de Salir, José Rosa Madeira, José Viegas Gregório, Isilda Martins e Victor Borges.

A eles se juntam ainda investigadores como Ataíde de Oliveira, José Leite de Vasconcelos, Manuel Gómez de Sosa, Caetano de Mello Beirão, que contribuíram para a identificação de dez estelas repartidas pelos conjuntos de Benafim/Salir e do Ameixial e para a investigação da escrita do Sudoeste.

A escrita do Sudoeste é a voz que nos aproxima dos pensamentos e modos de vida do passado, um dos mistérios e um dos maiores tesouros da arqueologia europeia, uma realidade arqueológica de cariz excecional, uma imagem de marca desta serra e um símbolo privilegiado da herança histórica da região.

Ela é, afinal, a primeira manifestação de escrita da Península Ibérica e uma das mais antigas da Europa e que está, ainda hoje, por decifrar.

Refira-se que a exposição resulta de uma colaboração da Câmara Municipal de Loulé com o Projeto ESTELA. Este projeto tem a preocupação de transformar o conhecimento científico adquirido no reforço da identidade das pessoas com o seu património e de criar com esta informação uma paisagem cultural.

Nascido em 2008, tem por primeiro objetivo a sistematização da informação das estelas com escrita do Sudoeste, através da caracterização dos contextos, da cultura material e do território dos sítios arqueológicos da serra do Algarve e do Alentejo, contribuindo para a revisão e produção de conhecimento sobre a sociedade que aí habitou, nos meados do 1º milénio a.C..

A exposição conta ainda com o apoio da Direção Regional de Cultura do Algarve, da Junta de Freguesia do Ameixial, da Junta de Freguesia de Benafim, da Junta de Freguesia de Salir, do Museu Municipal de Faro, da Direção Geral do Património Cultural e do Museu Nacional de Arqueologia.

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