Protesto contra fecho da maternidade do hospital de Portimão reuniu uma centena

Ana Duarte, 34 anos, residente em Monchique, está grávida de seis meses e a sua é uma gravidez de risco, […]

grávidasAna Duarte, 34 anos, residente em Monchique, está grávida de seis meses e a sua é uma gravidez de risco, porque vai ter duas meninas gémeas. Já com uma barriga bem visível, ela e a sua colega Vera Duarte, 33 anos, grávida de sete meses, participaram no protesto que esta tarde reuniu uma centena de pessoas à porta do Hospital do Barlavento Algarvio, em Portimão, contra o eventual fecho da sua maternidade.

Ana, abrigada à sombra para escapar aos mais de 35 graus que se faziam sentir, manifestou-se «indignada» com a intenção de fechar a maternidade portimonense, já admitida pelo presidente do Centro Hospitalar do Algarve (CHA), devido a alegada falta de médicos para assegurar a manutenção do serviço.

«Tenho uma gravidez de risco, porque são gémeos, sou de Monchique, por isso levo mais de uma hora até Faro, o médico que está a tratar-me está aqui no hospital de Portimão, por isso não faz sentido ter que ir para Faro, para um apartamento que nem sei onde é, sabe-se lá com quem, longe da família», disse Ana ao Sul Informação.

«E a gente nem tem direito a apartamento em Faro, foi o que nos disseram. Só têm [as grávidas que residem] a partir dos 100 quilómetros [de distância do hospital de Faro] e Monchique fica a 90 de Faro. Mas demoramos mais de uma hora na estrada», acrescentou a sua colega Vera, também residente no concelho serrano.

«Isto tudo faz-nos ficar nervosas, com stress, não nos faz nada bem», comentou Ana Duarte.

protesto_3Por seu lado, Célia Silva cujo filho nasceu no antigo Hospital de Portimão, foi à manifestação com um carrinho de bebé que transportava um boneco com um cartaz onde se lia: «Obrigado mãe por me fazeres nascer em Portimão».

Para esta manifestante, o possível fecho da maternidade de Portimão acontece «porque temos aqui um ditador. Não quer dizer que ele [Pedro Nunes, presidente do concelho de administração do CHA) não receba ordens de lá de cima, do Governo, mas podia ser mais moderado. Portimão já tem aqui uma hospital com maternidade há tanto tempo, não há direito de nos tirarem isto». «Faro não chega para as grávidas de Odeceixe a Vila Real!», defendeu.

Margarida Tengarrinha, ex-deputada comunista portimonense e lutadora pelos direitos das mulheres, sublinhou que o encerramento do serviço de Obstetrícia em Portimão «resulta da política geral do Governo. Porque é que vão fechar as escolas? É por uma questão de economicismo. Na Saúde, o pessoal que se lixe!».

«Pergunte às grávidas de Odeceixe ou da outra ponta do Algarve quantos quilómetros é que têm de andar para ter os seus filhos. E pergunte quantos partos é que se vão dar, como já se estão a dar no interior do país, nas ambulâncias?», desafiou Margarida Tengarrinha.

«É isto que nós não queremos que aconteça em Portimão. Temos uma boa maternidade, que funciona bem, com serviços perfeitamente equilibrados. Vão fechá-la e depois vão mandar as mulheres, episodicamente, para uns apartamentos em Faro. Mas que apartamentos são esses?», interrogou.

protesto_1Entre os manifestantes que protestaram esta tarde sob um sol forte, estavam algumas grávidas, muitas mães cujos filhos nasceram no hospital de Portimão e diversas avós.

O protesto contou ainda com os líderes do Movimento de Cidadãos pela Defesa dos Serviços Públicos de Saúde do Algarve (João Vasconcelos) e da Comissão de Utentes do Serviço Nacional de Saúde (Damião Sequeira), com o presidente da União dos Sindicatos do Algarve (António Goulart de Medeiros), bem como com a presença fugaz de Isilda Gomes, presidente da Câmara de Portimão, e da vereadora Ana Figueiredo.

No final, do protesto foi submetida a votação e aprovada por unanimidade, pelos manifestantes, uma moção a exigir uma «maternidade continuamente aberta» e «a demissão do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Algarve».

«Mães do Barlavento têm direito à maternidade», «Apartamentos para grávidas? Pedro Nunes está louco», «A Maternidade faz falta», «Não à destruição do SNS», eram algumas das palavras de ordem inscritas nos cartazes empunhados pelos manifestantes».

 

Vanda Duarte, grávida de risco, de Monchique: Isto tudo faz-nos ficar nervosas, com stress, não nos faz nada bem

 

Damião Sequeira, responsável pela Comissão de Utentes do Serviço Nacional de Saúde, defendeu que é «inadmissível» a proposta do diretor da Pediatria do Centro Hospitalar do Algarve para encerrar maternidade do Hospital de Portimão, argumentando com a falta de pediatras.

Por seu lado, João Vasconcelos, líder do Movimento de Cidadãos pela Defesa dos Serviços Públicos de Saúde do Algarve, disse temer que o encerramento temporário já admitido pelo presidente do CHA signifique, «na prática, o fecho definitivo da maternidade».

protesto_2O possível encerramento transitório daquele serviço, por falta de pediatras, anestesiologistas e obstetras, foi sugerido pelo diretor de Pediatria do Centro Hospitalar do Algarve (CHA) em carta enviada a 2 de julho ao conselho de administração.

Aquele responsável sugeria o fecho temporário da maternidade durante a noite, no mês de julho, e no período diurno em oito dos 31 dias deste mês. O problema, argumentava, é que só existe um pediatra por cada período de 12 horas.

Pedro Nunes, presidente do Conselho de Administração do CHA, disse que não vai aceitar a proposta, mas admitiu a falta de pediatras, dizendo que a maternidade só se mantém aberta devido à «boa vontade» dos médicos de Portimão, que têm que trabalhar mais horas, e dos de Faro, que lá vão ajudar quando é necessário.

O Movimento de Cidadãos já classificou como «hipócritas» as declarações de Pedro Nunes, defendendo que esta posição «diz tudo sobre o pensamento» do administrador do CHA. «Ou seja, se a maternidade não encerra de uma maneira, encerrará de outra! Esta intenção esteve sempre na mira de Pedro Nunes. Como sabe que a sua ordem direta de encerramento seria alvo de uma enorme contestação, tanto por parte dos utentes, como da parte dos profissionais de saúde, tudo vai fazendo, tal como vai fazendo o governo, para que a maternidade “morra de morte natural”».

 

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Corrigido às 20h45, colocando os nomes corretos das duas grávidas entrevistadas.

 

 

 

 

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