Sociedade algarvia convidada a sugerir candidatos ao «Prémio Regional Maria Veleda»

É democrático, universal e inclusivo, fazendo jus à luta travada por Maria Veleda, feminista natural de Faro que se destacou […]

É democrático, universal e inclusivo, fazendo jus à luta travada por Maria Veleda, feminista natural de Faro que se destacou na luta pelos direitos das mulheres nas primeiras décadas do século XX. O «Prémio Regional Maria Veleda» foi oficialmente lançado na sexta-feira, o mesmo dia em que foi aberto o período de candidaturas, em que qualquer um pode participar.

Decidir qual será a personalidade que se destacou no mundo cultural que irá receber este galardão, que tem um prémio pecuniário de 5 mil euros associado, também passa pela sociedade em geral. Qualquer cidadão da República que Maria Veleda lutou para instaurar pode sugerir uma personalidade, candidatura que será avaliada pelo júri.

«O formulário de candidatura está no site da Direção Regional de Cultura. Basta fazer o download, preencher e remeter para o endereço que lá está. Qualquer pessoa ou associação pode fazer uma candidatura. Claro que há uma série de informação que é necessário juntar para ser avaliado», revelou ao Sul Informação a Diretora Regional de Cultura do Algarve Alexandra Gonçalves, à margem da sessão de lançamento do prémio.

Estas propostas podem ser feitas até dia 20 de setembro, seguindo-se um momento de avaliação, a cargo de um júri que junta personalidades de áreas como a docência, investigação comunicação social, as artes e também a política.

Alexandra Gonçalves, Ana Paula Amendoeira (Diretora Regional de Cultura do Alentejo) António Branco (Reitor da Universidade do Algarve) Idálio Revez (Jornalista) José Carlos Barros (Arquiteto Paisagista e presidente da AM de VRSA), Lídia Jorge (Escritora) Mirian Nogueira Tavares (Professora da Universidade do Algarve) Natividade Monteiro (Professora e Investigadora) e Paulo Cunha (Professor e músico) são os elementos que compõem o painel de jurados.

«O que se espera é que este seja um dos poucos momentos de lançamento de personalidades ligadas à cultura, no Algarve. Temos de dar projeção aquilo que fazemos na nossa região, nestas áreas. É importante que haja essa valorização, que, por vezes, só se consegue criando este tipo de mecanismos, que lhes dão visibilidade», ilustrou Alexandra Gonçalves

«Queremos reforçar a identidade e a cultura algarvia, pegando no nome de alguém que foi um marco na luta do movimento republicano, pela igualdade das mulheres e de oportunidades e pelo acesso à educação», disse.

No fundo, juntou-se «o útil ao agradável», já que com este prémio se comemora «a identidade algarvia e as suas personalidades», ao mesmo tempo que se premeia «novas personalidades que se vão destacando na região».

O Prémio enquadra projetos e atividades que se destaquem no âmbito da cidadania e igualdade de género, do combate à exclusão social, do combate à desertificação no interior da região, educação pela arte, valorização do património imaterial (tradições, memórias e identidade), revitalização dos núcleos e edifícios históricos e, ainda, no desenvolvimento de projetos multidisciplinares, multiculturais e projetos em rede.

Este prémio constitui-se, também, como o contributo desta Direção Regional ao V Plano Nacional para a Igualdade de Género, Cidadania e Não-Discriminação (2014-2017).

 

Maria Veleda nunca desistiu de conseguir o voto universal

Maria Carolina Frederico Crispim, que ficou conhecida pelo pseudónimo Maria Veleda, acaba por ser um bom exemplo de como as personalidades da região que se destacaram, no seu tempo de vida, nem sempre são valorizadas. Este será um nome conhecido por poucos algarvios, mas também a nível nacional, algo que também se explica pela desvalorização das personalidades simbólicas da revolução republicana, feita durante o Estado Novo.

Nascida em 1871, em Faro, numa família de classe média (o seu pai dirigia o grupo de teatro do Lethes), Maria Veleda teve uma vida nem sempre fácil, mas em que a luta pelos direitos das mulheres, nomeadamente à educação e ao voto, começou desde cedo.

«Maria Veleda era uma feminista entusiasta, além de ter sido uma educadora e pedagoga fora de série», defendeu a investigadora Natavidade Monteiro, cuja tese de mestrado se debruçou sobre a vida e obra desta personalidade.

Foi uma «republicana e feminista muito coerente», já que sempre se manteve fiel à doutrina que pregava (tinha dom para a oratória), nomeadamente no que toca ao voto universal, questão em que acabou por chocar com outros elementos do movimento feminista do início do século XX. Quando muitas das mais destacadas feministas de então defenderam o voto das mulheres limitado a apenas algumas cidadãs, ela discordou abertamente, não tendo cedido nunca.

Além desta faceta de ativista dos direitos sociais e políticos, Maria Veleda também teve um percurso pessoal muito rico. Depois de perder o pai com apenas 11 anos, algo que levou à descida da condição social da família, começou a trabalhar cedo como professora particular (explicadora), para ajudar no sustento da casa.

Ainda jovem, teve uma relação apaixonada com o poeta Cândido Guerreiro, de quem teve um filho. No entanto, nunca aceitou casar-se, optando por criar sozinha os dois filhos (havia adotado uma criança anos antes, a pedido da mãe, no leito da morte). Faleceu em 1955, com 84 anos de idade.

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