Peixes ameaçados de extinção devolvidos à ribeira de Odeleite

Tavira tem desde esta quarta-feira 50 novos munícipes que, apesar de não pagarem impostos, trazem riqueza ao concelho, neste caso, […]

Tavira tem desde esta quarta-feira 50 novos munícipes que, apesar de não pagarem impostos, trazem riqueza ao concelho, neste caso, ambiental.

Um grupo de saramugos, uma espécie de pequenos peixes endémicos da bacia do Guadiana, «criticamente ameaçada de extinção», foi devolvido à natureza na ribeira de Odeleite, perto da localidade de Monte da Ribeira, em Cachopo, o seu habitat natural, depois de ter nascido e vivido parte da sua vida em cativeiro, no Parque Natural do Vale do Guadiana (PNVG).

O secretário de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza, Miguel Castro Neto, subiu a Serra do Caldeirão, calçou as galochas e entrou na água, para devolver os peixes à natureza. Um momento a que se juntaram o presidente da autarquia tavirense Jorge Botelho e os seus vereadores, bem como a equipa de técnicos do Parque Natural do Vale do Guadiana que vem trabalhando, com sucesso, na reprodução em cativeiro de saramugos.

«Uma das nossas bandeiras é o trabalho que o Instituto de Conservação da Natureza tem desenvolvido na recuperação de espécies ameaçadas de extinção. Este é um exemplo disso. Estamos num local onde, em tempos, existiriam muitos saramugos. Hoje é a segunda bacia com maior população, mas o número é relativamente reduzido», disse o membro do Governo.

Os saramugos regressaram ao habitat que se pensa que os seus antepassados ocupem «há cinco milhões de anos», embora hoje estejam confinados a diferentes colónias, que já não terão contacto entre si «há 750 mil anos», segundo o técnico do PNVG Sérgio Carrapato.

O pequeno peixe (um adulto terá, em média, sete centímetros) só existe, de resto, nesta zona raiana do Baixo Alentejo, Algarve e Andaluzia, mas a sua reprodução em cativeiro é um feito que só os técnicos do Parque Natural sediado em Mértola foram capazes, apesar das tentativas feitas do outro lado da fronteira.

O trabalho que está a ser feito em Mértola pode ser determinante para salvar esta espécie, que tem vindo a desaparecer. A última seca extrema, registada em 2005 e 2006, foi particularmente castigadora para as comunidades de saramugos que então se conheciam, levando a que tivessem diminuído para metade, num total de cinco locais. Neste momento, existe nas ribeiras do Vascão, Chanca, Odeleite, Ardila e Foupana.

«A nossa referência é um projeto LIFE realizado em 2000, pela professora Maria João Pereira, da Faculdade de Ciências de Lisboa, que identificou a presença da espécie em dez sub-bacias do Guadiana», disse. Quando foi realizada nova monitorização, alguns anos depois, já só existiam nestes cinco locais.

O seu desaparecimento estará ligado a períodos de seca prolongados, também associados «a captações de águas, criação de açudes, «que barram a progressão e distribuição das populações».

A preservação desta espécie será, de resto, alvo de novo projeto LIFE, liderado pela Liga para a Proteção da Natureza, que passará, também pela sensibilização da população para a presença dos saramugos e para a necessidade de evitar que a água desapareça totalmente, nos habitats desta espécie, na altura de maior calor.

Aqui, poderá haver alguma dificuldade, já que este é um peixe pouco conhecido, devido à sua escassez e ao facto de ser encontrado em tão poucos sítios.

«Este é um peixe pequeno, pelo que, do ponto de vista gastronómico, não tem grande apetência para ser consumido. Ou seja, as pessoas acabavam por o preservar, sem o conhecer. O que se comia era um parente próximo, o bordalo ou pardelha, que já atinge os 12 centímetros e era consumido frito», revelou o técnico do PNVG.

A tranquilidade do local em que os saramugos foram libertados, com o marulhar de águas límpidas, sombreadas por amieiros viçosos, contrasta com o que se viveu neste local, há cerca de dois anos. Monte da Ribeira e as localidades limítrofes estiveram no centro do grande incêndio que assolou a Serra do Caldeirão, embora hoje, só um olhar mais atento permita perceber as consequências que o fogo deixou atrás de si.

«O campo voltou a ser verde, a natureza tem feito o seu trabalho. Já retiramos muita matéria ardida daqui desta zona e os privados também o fizeram. Cada dia é uma conquista», disse o presidente da Câmara de Tavira Jorge Botelho.

«O que é importante é que não arda mais. E que haja mais exemplos destes, em que se dá importância à natureza, com o reforço de uma colónia destes peixes, aqui no concelho de Tavira. É um sinal de que a vida deve continuar, sempre», acrescentou.

 

 

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