Montenegro não devia ter dito sim à redefinição de fronteiras entre Faro e Loulé

O acordo entre Loulé e Faro, para definir a fronteira entre os dois municípios, foi prejudicial para a freguesia farense […]

O acordo entre Loulé e Faro, para definir a fronteira entre os dois municípios, foi prejudicial para a freguesia farense do Montenegro, considera o seu presidente Steven Piedade. O autarca vai mais longe e disse que, na altura, não devia ter dito sim ao acordo, nos moldes em que foi feito, que acabou por ser oficializado em dezembro de 2012.

Apontando que tudo se passou numa altura em que sofreu muito, «mesmo ao nível de saúde, devido aos nervos», revelou que tentou, «numa primeira fase, perceber» o que estava em causa. Mais tarde, recebeu um telefonema do então presidente da Câmara Macário Correia, a informá-lo sobre a decisão que havia sido tomada.

«Na altura, disse que concordava e que podíamos avançar, que não queria ser eu a inviabilizar o acordo que tínhamos ali, mas que tinha toda a lógica que o território da Ilha de Cima (zona Poente da Praia de Faro), onde vivem farenses, passasse para nós. Ele disse-me que, dessa forma, iríamos inviabilizar todo o processo. Se fosse hoje, teria dito: então, está inviabilizado!», contou.

Steven Piedade foi o convidado do programa radiofónico Impressões, dinamizado em conjunto pelo Sul informação e pela Rádio Universitária do Algarve RUA FM (102.7 FM), não só na qualidade de presidente da Junta de Freguesia do Montenegro, mas também como o mais recente diretor regional da Associação Nacional de Jovens Empresários.

A definição de fronteiras entre Faro e Loulé, uma questão que demorou quase dois séculos a resolver, ficou estabelecida, definitivamente, em dezembro do ano passado, com a publicação em Diário da República de uma deliberação da Assembleia da República, tomada em outubro de 2012.

Um processo que esteve longe de ser pacífico, com muitas críticas a surgirem da oposição. E esta passagem de terrenos do Ludo de Faro para Loulé foi das questões mais focadas, apesar das garantias de Macário Correia que se tratava «apenas de água».

Os terrenos em causa são de sapal, mas não deixam de contar como território, para quem os administra. Daí o arrependimento de Steven Piedade. «Julgo que isto se passou devido à minha inexperiência e imaturidade, enquanto político e foi ai que, como presidente de Junta, subi um degrau. Se fosse hoje, não teria tido aquela atitude», disse.

O autarca farense, eleito pela coligação que hoje lidera os destinos da Câmara de Faro, salientou, ainda, que não esteve presente na Assembleia Municipal onde a definição de fronteiras foi aprovada «como muita gente diz». «Se tivesse ido, se calhar não tinha votado a favor. Mas não pude, estava com uma cólica renal, em casa», revelou. Isto apesar de não estar contra o processo de definição de fronteiras, em si, disse.

«Este é um processo que não é, de todo… transparente, ou claro, ou percetível por todos. E, se me permitem, nem por mim o é. Na altura fui informado das negociações. Quando me disseram que o Montenegro ia perder aquela área [cerca de 200 hectares], o que me foi garantido é que o IMI, naquela área, era já todo entregue a Loulé e que, da parte de Mata-lobos, invertia-se a situação», disse.

Tendo em conta que, nesta negociação, Montenegro perdeu território e a então freguesia de São Pedro (hoje união de Freguesias Sé e S. Pedro) ficou a ganhar, Steven Piedade e o seu congénere da freguesia vizinha Vítor Lourenço terão chegado a acordo, para uma cedência de território.

A ideia era que «a parte de trás do passeio ribeirinho, a parte de sapal», passasse de São pedro para o Montenegro. «Lamentavelmente, para não dizer outra coisa, o presidente Macário não aceitou e o processo ficou por ai», contou. Após as eleições, já têm havido contactos com o presidente da União de Freguesias da cidade de Faro Joaquim Teixeira. Ainda não estará nada definido, mas, «se houver parecer favorável das duas freguesias e da Câmara, consegue-se fazer essa operação».

Nota: A pedido do entrevistado, o título da peça foi alterado de «Montenegro devia ter «dito não» à redefinição de fronteiras entre Faro e Loulé», para «Montenegro não devia ter dito sim à redefinição de fronteiras entre Faro e Loulé», tendo em conta que Steven Piedade, de facto, não afirmou, ipsis verbis, que devia ter dito não. Steven Piedade esclareceu que se referia «ao acordo nos moldes que lhe foram apresentados na altura», pelo que aceitámos mudar o título e acrescentar este esclarecimento no lead. Agradecemos aos nossos leitores a compreensão.

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