Figuras lendárias aparecem em Praças de Olhão

Os protagonistas de duas das principais lendas de Olhão começaram a “sair ao caminho” de residentes e visitantes esta segunda-feira. […]

Os protagonistas de duas das principais lendas de Olhão começaram a “sair ao caminho” de residentes e visitantes esta segunda-feira. O «Circuito das Lendas de Olhão» e as cinco praças por onde passa, que foram recentemente renovadas, foram inauguradas esta segunda-feira, bem como duas estátuas que representam Floripes e o Menino dos Olhos Grandes, figuras que fazem parte do imaginário dos olhanenses e dos bairros mais antigos da cidade.

O Dia da Cidade de Olhão foi o escolhido para inaugurar oficialmente os cinco largos, depois de sujeitos a obras de requalificação. Obras que não foram consensuais, mas que o presidente da Câmara de Olhão António Pina assegura que irão trazer outra dinâmica aos bairros típicos da Barreta e do Levante.

«Temos aqui uma ideia que eu considero excelente, que é a de associar a requalificação de largos, à história da cidade. E penso que está extraordinariamente bem concebido, principalmente nos dois largos onde há esculturas do mestre Leonel Moura, que traduzem de forma física aquelas que são duas das nossas maiores lendas», considerou o edil.

As duas obras de Leonel Moura aguçaram a curiosidade dos transeuntes, muitos deles olhanenses a desfrutar do feriado, que entre fotografias, elogios, mas também algumas críticas, não se mostraram indiferentes. A estátua de Floripes, dada a sua localização central, na Praça Patrão Joaquim Lopes (frente aos Mercados Municipais), foi a que causou mais sensação, com muita gente a parar para apreciar a nova peça de arte de Olhão.

O artista plástico português não escondeu que o seu objetivo foi criar duas peças que sirvam como marcas identitárias de Olhão, para o futuro. «Hoje, as cidades precisam de pontos de referências, a capacidade de marcar a diferença é muito importante», disse. «Não tenho dúvidas que a estátua da Floripes vai tornar-se uma marca de Olhão», acredita.

Em ambas as peças, feitas depois do artista se informar «com atenção sobre as lendas de Olhão», Leonel Moura fugiu um pouco àquilo que é a sua imagem de marca, o trabalho «com tecnologia e robótica», para que Olhão ficasse com duas obras de arte «para as pessoas» e que sejam «compreensíveis» para a generalidade da população.

O resultado foram duas estátuas em metal, com um estilo realista, que são facilmente associadas às figuras lendárias que representam.

A estátua em bronze de Floripes representa uma mulher jovem, com um vestido comprido a ondular atrás de si. «É uma mulher muito bonita e, apesar de estar com a perna à mostra, porque anda à procura de marido, é, ao mesmo tempo, inacessível», explicou Leonel Moura.

Na lenda, Floripes podia ser vista, ocasionalmente, nas açoteias das casas de Olhão. A bela jovem, tentava os homens, desafiando-os a atravessar a ria com um candeia acesa nas mãos. O que conseguisse, seria dono do seu coração e do reino do seu pai. Os que falhassem, afogavam-se na ria.

Já o Menino dos Olhos Grandes, que surpreende quem entra no Largo do Carolas (também conhecido por da Palmeira), é, ainda assim, uma inovação de Leonel Moura, no que à arte pública portuguesa diz respeito.

«Esta peça é toda feita em aço inox. A ideia é que, quem observa, veja a sua imagem refletida», disse. «Este, segundo as lendas, é um menino mau, já que se pensava que matava pessoas. Não é um rapaz bem comportado. Também era gordo», disse. Assim, a imagem é a de um rapaz rechonchudo, com ar zangado e, claro, olhos grandes.

Segundo a lenda, o Menino dos Olhos Grandes apareceu de início, precisamente, no Largo do Carolas. Um menino «baixinho, reboludo e de olhos grandes» começou a aparecer parado a um canto do largo. Uma das moradoras «encostou-o à parede com grande custo, para que ficasse mais protegido, depois tentou levantá-lo, mas a criança tinha um peso bruto, acabando por deixá-lo e voltar para casa sobre o olhar surpreendido de todos», segundo conta o site da associação APOS.

«Olhão é uma cidade que começa a ter cada vez mais turismo, mas que é diferente do que há no resto do Algarve. E passa também por estes valores, como as nossas lendas e os nossos bairros históricos», referiu António Pina.

Leonel Moura apontou ainda que «nem sempre toda a gente gosta» das estátuas que fez e, de forma descontraída e bem disposta, identificou uma moradora do largo: «Aquela senhora, por exemplo, já me disse que não gostava».

Dona Eduarda Quintino, nascida há 69 anos numa das casas do Largo do Carolas, aceitou o repto e, de forma igualmente bem disposta, garantiu que, com a sua comadre, guardaram «a estátua até à meia-noite». «Não gostei, porque ele nunca apareceu aqui. Aparecia naquela banda (poente) da Barreta e além, na banda do Levante», disse, mais tarde, ao Sul Informação.

«Já o meu avô, que Deus o tenha, andava no mar e dizia que lhe pegou, mas que o menino ficou tão pesado que o jogou fora», contou a moradora do Bairro da Barreta, à comitiva.

Ou seja, ainda mal estava inaugurado, e já o «Circuito das Lendas de Olhão» cumpria uma das funções que a Câmara de Olhão lhe destina: a de «levar os turistas e também quem vive na cidade» a conhecer melhor estes bairros típicos, intimamente ligados à história do concelho e «quem aqui vive».

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