Habitantes da Ilha da Culatra boicotam Eleições Europeias

Hoje ninguém vota, na Ilha da Culatra. Os habitantes dos três núcleos habitacionais desta ilha-barreira da Ria Formosa, Culatra, Hangares […]

Hoje ninguém vota, na Ilha da Culatra. Os habitantes dos três núcleos habitacionais desta ilha-barreira da Ria Formosa, Culatra, Hangares e Farol, decidiram boicotar as eleições europeias que hoje decorrem. «A abstenção é total. A mesa de voto está a funcionar, os elementos estão todos lá, mas ninguém votou, até agora e ninguém deverá votar», acredita Sílvia Padinha, da Associação de Moradores da Ilha da Culatra (AMIC).

Uma decisão tomada em conjunto pelos habitantes desta ilha, que querem ver a situação das casas onde habitam regularizada, bem como uma revisão da zona ocupada pela Área de Produção Aquícola da Armona (APAA), em benefício dos pescadores da Culatra, já que estão impedidos de pescar em zonas agora ocupadas pela aquacultura offshore, que usavam tradicionalmente, apesar de estas não estarem a ser exploradas.

Apesar de não ter havido, até agora, qualquer voto depositado na urna da Culatra, ninguém está impedido de ir votar, se assim o entender. «Toda a gente é livre de ir votar. Mas as pessoas decidiram assim e são todas pessoas de palavra, por isso não acredito que haja alguém que o faça», disse Sílvia Padinha ao Sul Informação.

Para garantir que «ninguém se sentisse intimidado», a população dos três núcleos reuniu-se em protesto junto ao Porto de Abrigo da Culatra, num local bem afastado da delegação da Junta de Freguesia, onde se encontra a urna.

Em conjunto, pretendem exigir que se encontre para a Ilha da Culatra e os seus diferentes núcleos uma solução semelhante «à que existe na Armona e em parte da Praia de Faro», onde há núcleos urbanizados legais, sob a jurisdição das autarquias de Olhão e Faro.

«Não é justo que haja dois pesos e duas medidas, para situações que são em tudo semelhantes. Nós pagamos Imposto Municipal sobre Imóveis, mas depois não temos direito ao registo predial», disse a dirigente da AMIC. «Queremos regras, que se regularize a situação das casas e que se dê às pessoas o que lhes pertence», resumiu.

Já no que diz respeito à APAA, este era o local que os pescadores da Culatra usavam para pescar, antes deste projeto piloto de aquacultura offshore ser lançado, em 2008. Desde essa altura, está proibida a pequena pesca na zona que o projeto ocupa.

Os moradores da Culatra e outras associações do setor da pesca já pediram a reavaliação da dimensão da APAA, tendo em conta que, «seis anos depois da sua criação, cerca de 80 por cento está ainda por ocupar».

É por sentirem que não estão a ser ouvidos que os moradores dos três núcleos da Culatra decidiram regressar a uma forma de luta que já haviam utilizado antes, «há algum tempo».

«Decidimos fazer boicote às eleições e continuaremos a fazê-lo nas próximas eleições, enquanto esta situação se mantiver», revelou Sílvia Padinha.

 

Fotos do protesto cedidas pela Associação de Moradores da Ilha da Culatra:

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