O que 40 anos de Democracia fizeram pela Ciência em Portugal

Hoje que se comemoram os 40 anos do 25 de Abril, importa fazer um breve balanço da evolução da ciência […]

Hoje que se comemoram os 40 anos do 25 de Abril, importa fazer um breve balanço da evolução da ciência em Portugal durante estas quatro décadas de democracia.

A história universal mostra que a ciência sempre evoluiu mais intensamente em sociedades livres e democráticas e isso mesmo aconteceu também entre nós. Vejamos alguns factos.

Com a implementação da democracia a 25 de Abril 1974 e com a entrada de Portugal na União Europeia a 1 de Janeiro de 1986, viram-se reunidas condições para um
desenvolvimento extraordinário da ciência entre nós e sem precedentes recentes.

A isso não é alheia a transferência para Portugal de consideráveis fundos europeus que foram usados para apoiar um crescente número de investigadores e edificar infraestruturas para a atividade científica.

Neste contexto, é importante referir a criação, em 1995, do Ministério da Ciência e Tecnologia e, em 1996, da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Com um ministério para a ciência e com uma entidade, a FCT, para atribuir e coordenar o apoio para a investigação científica, o país assistiu a um aumento exponencial no número de cientistas a investigar em instituições portuguesas.

Pode dizer-se que há mais cientistas portugueses nestes últimos 40 anos do que em toda a história de Portugal.

Verificou-se também uma grande internacionalização. Exemplo disso foi a adesão de Portugal a vários organismos científicos internacionais como o CERN – Centro Europeu de Pesquisa Nuclear, a ESA – Agência Espacial Europeia e o ESO – Observatório Europeu do Sul.

Para acolher o número crescente de investigadores, que não conseguiam ser absorvidos pelas Universidades, foram criados vários Laboratórios Associados de excelência. O primeiro foi o Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNCUC), a que se seguiram outros, como o Instituto de Patologia e de Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP) – que está agora a fazer 25 anos.

Essas instituições cresceram rapidamente e conquistaram uma forte referência internacional nas suas áreas de especialidade.

Há ainda a referir o Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), centrado na área da biologia, que remonta aos anos 60, mas que também muito evoluiu com a democracia e a criação, em 2010, de um outro centro de investigação na área da biomedicina, com dimensão internacional, apoiado pela Fundação Champalimaud.

Mostremos alguns indicadores da evolução de se fala: o investimento em investigação e desenvolvimento (I&D) cresceu de 0,3% no início dos anos de 1980, para 1,5% em 2012 (dados da PORDATA, base de dados de Portugal contemporâneo da responsabilidade da Fundação Francisco Manuel dos Santos).

Em 1982 doutoram-se 230 pessoas, mas em 2012 esse número aumentou para os 2209. O número de publicações científicas em revistas indexadas, que foi de 3,9 por cem mil habitantes no ano de 1982, passou para 156,7 por cem mil habitantes em 2012, cerca de 40 vezes mais!

A cultura científica também se democratizou. A editora Gradiva, com a coleção Ciência Aberta criada no princípio dos anos 80, tem feito um trabalho de difusão científica através do livro, tendo publicado mais de 200 títulos.

Os órgãos de comunicação social começaram a falar de Ciência como nunca tinham falado antes. A Ciência Viva – Agência Nacional para Difusão da Cultura Científica e Tecnológica alargou o interesse pela divulgação científica, designadamente com a criação e apoio a vários centros ciência viva espalhados por todo o território nacional.

Recentemente, através do programa Ciência na Imprensa Regional, tem também aumentado significativamente a difusão de cultura científica através destes periódicos.

Em resumo, a ciência evoluiu em Portugal como poucas outras áreas da nossa sociedade e em tão pouco tempo. Apesar disso, ainda não atingimos valores da média europeia, pelo que é muito importante não se diminuírem os apoios à ciência.

Autor: António Piedade
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

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