Aprenda com os pré-históricos como era a vida há 5000 anos em Alcalar

Sabe como se faz uma faca de sílex usando as técnicas de há 5000 anos? Ou como se faz uma […]

Sabe como se faz uma faca de sílex usando as técnicas de há 5000 anos? Ou como se faz uma fogueira a partir de pauzinhos esfregados uns nos outros com perícia? Pois se quiser aprender alguma coisa sobre estas técnicas milenares terá que ir no sábado, dia 12, até aos monumentos megalíticos de Alcalar, em Portimão, para assistir e participar no ateliê de Pedro Cura, um arqueólogo experimental que é o convidado especial de mais uma edição de “Um dia na pré-história”.

Pedro Cura, técnico de arqueologia do Centro de Pré-história do Município de Mação, irá exemplificar o talhe de pedra, a produção de ferramentas, de fogo, cola e corda, assim como outras técnicas comuns há cerca de cinco mil anos. A sua presença em Alcalar será um dos destaques de mais um dia mergulhado na vida dos nossos antepassados que há cinco milénios habitaram, viveram, guerrearam, cultivaram a terra, caçaram e sepultaram os seus mortos nesta zona hoje situada no interior do concelho de Portimão.

O dia na pré-história, promovido pelo Museu de Portimão e Direção Regional de Cultura do Algarve, será dinamizado, como já vem sendo hábito, através de ateliês onde os participantes poderão experimentar diversas atividades da época, como a caça, a tecelagem, a cerâmica, a ceifa, a moagem, o fabrico do pão, de objetos e utensílios, havendo ainda a possibilidade de cozerem cerâmica, entre outras experiências.

As atividades estão pensadas para os adultos mas sobretudo para as crianças, que se têm tornado as grandes fãs destes dias de mergulho no passado. Não admira, por isso, que uma das atividades que mais atrai gente seja a da “caça” com arco e flecha.

Ao longo da recriação, integrada nas comemorações do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, os visitantes serão convidados a incorporar o espírito da pré-história através do uso de vestuário e adereços, podendo participar nas encenações de práticas do dia-a-dia daquela época, ao mesmo tempo que conhecerão as construções dos monumentos funerários e a forma como os pré-históricos de Alcalar exploravam o território e seus recursos naturais, através das visitas orientadas por arqueólogos. Ponto alto será a cerimónia fúnebre junto à mamoa de Alcalar, comandada por um feiticeiro trajado a rigor.

 

Para que serve a arqueologia experimental?

Isabel Soares, arqueóloga do Museu de Portimão, e uma das obreiras deste dia na pré-história, salienta que o próprio museu já tem «uma vertente de arqueologia experimental», nomeadamente através de Nuno Silva, que já está transformado em verdadeiro especialista na manufactura de pontas de seta em sílex.

«Mas o Pedro Cura anda nesta área há mais de 10 anos e tem conseguido aprofundar as técnicas, por exemplo, do talhe inicial do sílex, para fazer uma faca. O objetivo da vinda dele a Alcalar é mostrar aos nossos visitantes como se faziam todas essas coisas, mas também é aprendermos um bocadinho com ele», acrescenta.

Mas para que serve a arqueologia experimental? «Há muita coisa, muitos objetos do quotidiano da pré-história que chegam até nós, como as pontas de sílex, os machados, as enxós, mas chegam-nos os materiais já feitos, já construídos, e as partes que não foram destruídas pela passagem do tempo. Não sabemos como eram produzidos, que técnicas usavam para talhar o sílex de forma tão perfeita, como era o cabo de um machado, porque a madeira do cabo, as cordas que a prendiam, as colas usadas, não chegaram até nós. Chegou até nós a ponta de seta, mas não chegou a flecha, em madeira, provavelmente com penas para ajudar a manter a pontaria», explica a arqueóloga Isabel Soares.

Por isso, continua, é preciso «experimentar ou testar, usando as técnicas que estariam disponíveis, por exemplo, há 5000 anos. Testar, no fundo, é colocarmo-nos na pele dos pré-históricos, usar as técnicas e os materiais de que eles dispunham e que a natureza lhes oferecia e tentar produzir os objetos como eles produziam».

Assim, para fazer cordas há que usar as fibras naturais que então abundariam na zona de Alcalar, para as colas há que usar resinas provenientes de árvores e outras plantas, para o arco usar tripa seca de animais que garanta resistência e durabilidade. Tudo isso tem que ser experimentado, porque não há nenhum documento, nem escrito (a Pré-História é precisamente a época em que a escrita ainda não tinha sido inventada), nem em imagem, nem mesmo fisicamente, que tenha chegado até aos dias de hoje para ajudar a tarefa dos arqueólogos.

«Temos que usar haste de veado ou um seixo rolado como martelo. Pedra, osso, madeira, hastes de veado, eram os materiais da época».

«Em termos de investigação, a arqueologia experimental é útil para entendermos como é que faziam esses habitantes, a forma como os objetos funcionavam. Uma ponta de seta sem flecha não sabemos exatamente como funcionava a matar o animal. Para nós, arqueólogos, esta é uma tentativa de nos aproximarmos do que eles faziam na altura, para perceber melhor a época», diz ainda Isabel Soares.

 

Uma aula ao vivo para todas as idades

Mas, para os visitantes de Alcalar, estes dias na pré-história e as suas recriações permitem-lhes mergulhar no espírito da época, recuar 5000 anos. «É a melhor aula de história que as pessoas, de todas as idades, podem ter, porque, para além da monumentalidade do local, vão perceber o que se passava aqui, como viviam estes nossos antepassados», acrescenta.

E, na senda da arqueologia experimental, Alcalar até vai passar a ter uma horta pré-histórica, onde serão semeadas as espécies que aqui se comiam há cinco milénios, usando as técnicas de cultivo e os instrumentos da época. Esta será uma nova fase do projeto educativo do Museu de Portimão em Alcalar, que vai começar no próximo ano letivo.

Entretanto, já sabe: se no sábado quiser viver um dia diferente, não deixe de ir até Alcalar, um monumento nacional que se abre à comunidade. Mesmo para quem já lá esteve antes, desta vez haverá novidades.

A iniciativa tem entrada livre e decorre entre as 10h00 e as 13h00 e das 14h00 às 16h30 do próximo sábado, podendo ser solicitadas informações complementares pelos telefones 282 405 230/ 282 471 410 ou e-mail: [email protected].

 

 

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